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Gustavo Conde

Gustavo Conde é linguista.

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Pandemia à brasileira: queda de oito ‘Boeings’ por dia

O colunista Gustavo Conde afirma: “a queda do avião da Gol em 2006 dominou o noticiário dos jornais por um longo ano, sem trégua. A tragédia foi exacerbadamente politizada para criminalizar o PT e Lula. Criou-se a expressão ‘caos aéreo’”. Conde complementa: “a tragédia da Gol provocou 154 mortes. A tragédia de Bolsonaro provoca 8 vezes mais mortos por dia. Cadê a politização mínima desta editoria pandêmica?”

Coronavírus e queda de avião da Gol em 2006 (Foto: Reprodução)
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A história vai cobrar a canalhice dos grandes jornais brasileiros na cobertura da pandemia. Vai ser o canto do cisne dessas famílias monopolistas que produzem jornalismo com as mãos sujas de sangue.

Para esses jornais, está tudo bem no Brasil. Tem até investidores estrangeiros interessados nas "oportunidades com a pandemia" e no juro baixo.

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A manchete da Dona Folha - no momento em que escrevo - é quase uma celebração: "Investidores buscam oportunidades no Brasil com pandemia e juro baixo".

A manchete d'O Globo, neste mesmo momento, tem cifras similares de escárnio: "Verba de combate ao coronavírus vira moeda de troca por apoio ao governo no Congresso".

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A do Estadão parece denunciar alguma coisa, mas, na verdade, ostenta o cinismo dos covardes: "Na pandemia, ministério da Saúde completa 50 dias sem titular".

Joga a informação factual e lava as mãos na bacia de sangue ao lado da redação.

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Pudera. Jornais que mentiram durante todas as suas miseráveis histórias de aliança com nossas elites miseráveis, não vão encontrar agora, em meio à pandemia, 'embocadura' narrativa para posarem de arautos da verdade factual.

O histórico degradado dessas famílias escravocratas é pronunciado demais para uma tentativa oportunista de mudança de dicção jornalística: são e serão sempre os mesmos.

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É como a Polícia Federal estourar o bunker milionário de José Serra. Quem acredita?

Ninguém - nem os Frias-Mesquita-Marinho que, aliás, não deram o menor crédito à operação de busca e apreensão de seu sócio e protegido.

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A elite, caras pálidas, é leal. Como todos são bandidos, eles são dotados de coesão perturbadora. Protegem uns aos outros porque é só o que lhes resta. Trafegam como parasitas na institucionalidade do país, porque é seu cartão de visitas. Estendem seus tentáculos a toda atividade econômica para empurrar os milhões de trabalhadores à tarefa árdua e 'dignificante' de produzirem sua riqueza - que será represada em contas no exterior.

Os grandes jornais brasileiros são a expressão máxima de nossas elites. São 'Bias Dorias' e Vals Marchioris ostentando a própria indiferença diariamente em seus frontispícios há mais de cem anos.

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Para esse jornais, no país mais afetado pela pandemia no mundo, vexame e horror internacional, está tudo ótimo.

Tragédia mesmo - para eles - foram os tempos do PT no governo, em que legiões de trabalhadores iam conquistando espaço no universo do consumo.

Tome-se o tom das manchetes de 10 anos atrás, quando um presidente terminou seu segundo mandato com 87% de aprovação, e o tom dessas manchetes de agora, em que um presidente genocida retém, sob ameaça, 15% de um eleitorado despossuído intelectualmente, e ver-se-á o fenômeno que é a bandidagem familiar dos três grandes jornais brasileiros.

Para a voz desses jornais, o Brasil estava muito pior há dez anos atrás, sob a 'ditadura' do combate à desigualdade. Para a voz desses jornais, hoje é que atingimos a 'plenitude democrática', com a desregulamentação e o afrouxamento de fiscalização em praticamente toda a atividade econômica.

Eles não cansam de enunciar, sub-repticiamente, que 'as instituições estão fortes' e que 'existe' um governo.

Eles levam a sério a nomeação de um Decotelli. Eles usam verbos performativos no mesmo enunciado em que o nome-palavra 'bolsonaro' aparece (como se a besta sentada no Planalto acusasse alguma cifra de comando político). Eles aceitam associar a palavra 'presidente' ao verme silenciado que balbucia seu terror contaminante pelos filhos bandidos que naufragam nos lodaçais das rachadinhas.

Bolsa-Família de verdade no Brasil é o Bolsa-Família dos Frias-Mesquita-Marinho, o tridente do extermínio e da morte. Seus funcionários-jornalistas são todos escravos, vassalos, cúmplices, quem vendem seus serviços por meia dúzia de dinheiros (são mal remunerados pela humilhação conceitual a que estão submetidos).

Não tenho paciência com essa gente. Eles exterminam o futuro há séculos.

Dói testemunhar que muitos políticos de esquerda, jornalistas progressistas (tudo em tese) e intelectuais do circuito 'universidades público-privadas' ainda contemporizem com a miséria do jornalismo brasileiro. É o nosso viralatismo associado à vassalagem e à cultura palaciana - de chamar tudo o que é verme da elite de 'doutor'.

Ficar estampando as mais de mil mortes diárias de brasileiros pobres em suas manchetes não é salvo-conduto para as práticas criminosas de represamento de informações vitais para o país tentar superar a maior catástrofe político-sanitária da nossa história.

Quem folheia um jornal brasileiro pensa que estamos no melhor país do mundo. Não há fotos de mortos, não há fotos de covas, não há fotos de famílias desesperadas, não há matéria sobre filas na UTI, não há imagens de cadáveres empilhados.

Tudo isso existe neste momento no Brasil, mas a ordem editorial nesses jornais é ignorar - a título de não gerar pânico, porque o pânico pode incomodar as Bias Dorias da redação e as Vals Marchoris leitoras, em suas academias de ginástica particulares, conduzidas por personal trainers sem vínculo empregatício, e empregadas domésticas igualmente desassistidas de seus direitos.

São 4 boeings por dia, com 300 mortos cada - e o silêncio seletivo desse jornalismo me enoja.

Eles dão os números, mas silenciam sobre as responsabilidades.

A queda do avião da Gol de 2006 dominou o noticiário desses jornais por um longo ano, sem trégua. A tragédia foi exacerbadamente politizada para criminalizar o PT e Lula. Criou-se a expressão "caos aéreo" que estampou as primeiras páginas de jornais durante todo o processo eleitoral de então (havia uma editoria chamada 'Caos Aéreo' na Folha de S. Paulo).

A tragédia da Gol provocou 154 mortes. A tragédia de Bolsonaro provoca 8 vezes mais mortos por dia.

Cadê a politização mínima desta editoria pandêmica?

A chave de ouro deste jornalismo de undécima categoria é a indiferença com o bandido José Serra. Não gastaram praticamente nem uma palavra. Jornalistas-vassalos da Globonews gaguejavam ontem para dar a notícia sobre o tucano.

É por essas e outras que o Brasil merece tudo o que está passando. O Brasil merece a imprensa que tem. O Brasil merece a elite que tem. O Brasil merece Bolsonaro.

E a despeito de toda a ironia amarga contida nesse "merecimento", talvez seja justamente essa catástrofe conjunta de proporções épicas que nos dê a chance de romper com esse Brasil atrasado, racista, genocida e excludente.

Depois de Bolsonaro, de coronavírus, 'desse' jornalismo, das elites, das frentes amplas e do PSDB, as condições para se continuar acreditando que este modelo de país vai funcionar um dia foram postas na vala tóxica e coletiva da história.

É hora de recobrar o raciocínio, antes que só restem escombros. E o começo da recuperação do raciocínio é romper com esse jornalismo careta e covarde que nos esfrega no nariz todos os dias o quão os brasileiros somos dispensáveis.

Quem fica histérico com a queda de um Boeing e ostenta fleuma rígida e com com a queda de outros 400 não merece o meu respeito.

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