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Nêggo Tom

Cantor e compositor.

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Para a casa grande, a escravidão foi um conto de fadas

Após ver uma matéria, na qual uma debutante organizou a sua festa de 15 anos, tendo a escravidão como temática, me dei conta de como as pessoas perderam a vergonha de externarem a cretinice e a canalhice, que têm dentro de si

Após ver uma matéria, na qual uma debutante organizou a sua festa de 15 anos, tendo a escravidão como temática, me dei conta de como as pessoas perderam a vergonha de externarem a cretinice e a canalhice, que têm dentro de si (Foto: Nêggo Tom)
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Quem tirou o demônio do fascismo de dentro da garrafa? Eis a questão! Após ver uma matéria, na qual uma debutante organizou a sua festa de 15 anos, tendo a escravidão como temática, me dei conta de como as pessoas perderam a vergonha de externarem a cretinice e a canalhice, que têm dentro de si. A jovem de Belém do Pará, postou nas redes sociais os preparativos para a sua "fascism party", orgulhosa por se exibir vestida de sinhazinha, ao lado de negros, representando seus escravos. Uma estupidez!

A infelicidade da ideia, é acompanhada pelo escravagismo hereditário, internalizado e contido, na mente da família dessa jovem. Uma gente que deve ter surtos de monarquia, se imaginando como a família real portuguesa, cercada de mucamas e lacaios por todos os lados, compondo a sua corte. Um tipo de gente que ao ver um preto na rua, verbaliza mentalmente, coisas do tipo: "Quem deixou ele fugir?", "Volta para a senzala, negro fujão!", num lapso de memória afetiva, baseado na educação que recebeu durante a infância. 

Desde que uma casta privilegiada, resolveu se adornar com bandanas Armani na cabeça e sair as ruas batendo as suas baixelas de prata e exibindo suas bolsas Prada e seus óculos Gucci, que a pouca vergonha da elite - sob a égide do conservadorismo e da tradição - vem espalhando pelo ar, uma melodia desafinada e fora do tom. Nunca lutaram contra a corrupção, mas, sim, pela manutenção de seus privilégios e contra a inclusão social dos menos favorecidos. Leia-se, os pobres e os pretos.

Mas, já que eu não posso mais ter escravos de verdade, por que não brincar de futura princesa regente? Que mal há nisso? É apenas uma adolescente realizando o sonho de debutar em grande estilo. Não, querida jovem branca! Não pode! Com escravidão não se brinca. Não se deve fazer apologias a um regime opressor, cruel e desumano, que negou a liberdade e dizimou a milhares de vidas. A escravidão não foi um conto de fadas. A sua festinha não vai ser "da hora", porque você vai mandar um escravo cênico, oferecer o primeiro pedaço de bolo, à madame sinhá sua mãe.

Não, querida jovem branca! O Brasil não era o país das maravilhas, durante o período escravocrata, para que você queira se fantasiar de Alice e se divertir às custas do sofrimento de todos os pretos que sofreram a dor do açoite e foram sepultados com as marcas do chicote do colonizador nas costas. Os navios negreiros não eram abóboras, que viravam carruagens após a meia-noite e realizavam o sonho de liberdade das vidas que neles eram transportadas. Tudo era muito sórdido e sádico. Assim, como a sua festinha de debutante. 

Alguém deveria ter lhe ensinado, que a escravidão foi um dos piores capítulos da história da humanidade, e, por isso, não merece nenhuma menção honrosa ou homenagem, como tentou sugerir a cerimonialista organizadora do evento. Não estamos falando de uma novela do Manoel Carlos, onde os pretos costumam ser retratados como batedores de carteira do Leblon ou como a empregada doméstica submissa de uma dona Helena qualquer. A escravidão não foi uma obra de ficção. Foi uma barbárie da vida real, que, nem o requinte da sua festa e nem a imaturidade dos seus 15 anos, conseguirão romantizar. 

A ideia infeliz da família dessa jovem, e da cerimonialista responsável por transformar  esse disparate em evento, representa o país que boa parte da elite batedora de panela, sonha em ter de volta. O país das sinhás e das mucamas, dos senhores de engenho e dos capitães do mato a serviço do estado. Um país da perseguição implacável às "Dandaras" e do açoite punitivo às "Marielles", que ousarem a desafiar o domínio e a contestar a supremacia branca tupiniquim. Um país onde os pobres voltem a ter menos direitos e mais deveres e obrigações com o seu "dono".

Para os fascistas, a temática da festa está perfeita. O Hi Fi da voz do opressor, não poderia ser de melhor qualidade. A originalidade do discurso elitista está sendo preservada da forma mais fiel possível. Talvez, alguns detalhes possam incrementar ainda mais a festa dessa jovem branca. Quem sabe um tronco na parte externa do salão, onde os convidados pudessem assistir a uma exibição de açoite, ou, até mesmo, poder realizar a fantasia de chicotear um escravo com as próprias mãos. Ou, quem sabe ainda, mandar confeccionar, grilhões, correntes e chicotes, em miniatura, para distribuir como lembrança a cada convidado. Sei lá! São tantas as possibilidades. Tenho certeza que mentes tão criativas não as deixarão passar em branco. Só não pode faltar o boneco de um Juiz super herói, em cima do bolo, representando o interventor da nova capitania. Isso seria imperdoável! 

Viva a monarquia! Vocês são uns filhos da pátria mesmo! 

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