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Carlos Hortmann

Professor, filósofo, historiador e músico.

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Para Bolsonaro sotaque e ideologia só os outros têm!

A guerra ideológica de Jair Bolsonaro tem dois objetivos evidentes. O primeiro deles é o de sobreviver no governo, para isso precisa manter o seu eleitorado mobilizado, e nada melhor do que um inimigo comum: o “perigo socialista” e afins. O segundo é colocar uma “cortina de fumaça” em medidas neoliberais que irão pauperizar a classe trabalhadora

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Acredito que o título dessa coluna sintetiza muito bem as falas e ações do presidente, Jair Messias Bolsonaro, nos primeiros dias de governo. Ficou claro que as palavras que mais propalou nos seus discursos foram Ideologia e Deus, não nos enganemos, elas têm um propósito muito determinado.

O motivo de ele evidenciar que fará uma guerra contra as ideologias procura ofuscar, para os menos desavisados, a imposição da sua ideologia. Caro leitor, peço licença para um momento filosófico. Pois é importante esclarecermos o que é ideologia no seu sentido mais objetivo do termo. Ideologia não é algo que nos cobre a visão acerca do real, como o senso comum gosta de induzir, todavia, a ideologia são “lentes” pelas quais damos sentido(s) para essa realidade. Portanto, a ideologia é uma prática social (material). Por outras palavras, a ideologia é uma configuração de mundo que se expressa na vida social de forma coletiva ou individual (no sentido da multiplicidade de configurações).

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Dentro dessa brevíssima categorização podemos deduzir que uma pessoa sem ideologia é uma pessoa sem ideia, portanto, toda e qualquer pessoa que utiliza de alguma forma de linguagem (mediações da vida social) possui uma compreensão de mundo. Logo, podemos concluir que não existe uma pessoa sem ideologia ou compreensão ideológica do mundo, indiferentemente se o indivíduo em-si tenha a consciência dela ou não.

De um ponto de vista prático é impossível o Bolsonaro fazer um “governo sem ideologia”. Simplificando, não passa de uma falsificação barata. Noutro sentido, ao acusar os outros de estarem a ser ideológicos é uma tentativa bolsonarista de esconder a sua ideologia ou ideias de extrema-direita e fascistas em muitos aspectos. Um outro exemplo do seu projecto de guerra ideológica é facto de ter referido, mais uma vez, a suposta “doutrinação marxista” das escolas. Todavia, quando se pergunta como ocorre? Onde isso acontece? Ficam a dar respostas vazias e sem sentido. Mas para qualquer pessoa sensata, independentemente de ser de direita ou de esquerda, isso não passa de um delírio das “olavetes”. Se tal facto fosse verdadeiro, como seria possível um país de “doutrinação marxista” eleger um presidente de extrema-direita? Isso não passa de alucinação, mas esse discurso é calculado. Prezado leitor, no final deste texto pretendo esclarecer o porquê de isso fazer parte do modo operante da política bolsonarista.

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A outra palavra muito citada por Messias Bolsonaro é “Deus”. Para sermos francos e diretos, ele não tem qualquer compromisso com os valores fundamentais de uma fé genuinamente cristã. Mas “Messias” recorre à retórica do divino como forma de legitimar e dar força às suas ideias. Portanto, estamos diante de um exemplo claro do uso da ideologia. O mesmo está a utilizar-se de uma “lente” muito forte na história da cultura brasileira, o alto índice de formação religiosa da população brasileira, que tem na ideia de deus uma forma de dar significado e sentido a realidade que se apresenta. Para alargar esse modo de fazer política, Bolsonaro procura resgatar alguns afectos que sustentam e operam nas estruturas religiosas (medo, culpa e ganância), principalmente nas igrejas neopentecostais, a fim garantir a hegemonia das suas “lentes” ideológicas.

Caro leitor, o presidente pode não saber se expressar direito, mas toda essa guerra ideológica que está disposto a levar à frente tem dois objetivos evidentes. O primeiro deles é o de sobreviver no governo, para isso precisa manter o seu eleitorado mobilizado, e nada melhor do que um inimigo comum: o “perigo socialista” e afins. Pois ele precisa implantar uma agenda econômica que vai contra os interesses da maioria (99%) dos brasileiros. E é nesse sentido que surge o segundo objetivo, o de manter essa guerra ideológica como uma “cortina de fumaça” para possam ser feitas as medidas neoliberais que irão pauperizar ainda mais a classe trabalhadora. Por isso que a esquerda precisa fazer menos “memes” e chacota com os trabalhadores que votaram no Bolsoanro, e começa um verdadeiro trabalho de militância e de politização desses brasileiros que já começaram a sofrer brutalmente com esse governo de milicos para as elites.

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* Não encontrei qualquer referência de autor dessa expressão (sotaque e ideologia só os outros têm), para além de um amigo que propalou tal frase.

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