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Alex Solnik

Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos"

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Paralelos com o golpe de 64

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"O que houve em 1964 não foi uma revolução. As revoluções fazem-se por uma ideia, em favor de uma doutrina. Nós simplesmente fizemos um movimento para derrubar João Goulart. Foi um movimento contra, e não por alguma coisa. Era contra a subversão, contra acorrupção. Em primeiro lugar, nem a subversão nem a corrupção acabam. Você pode reprimi-las, mas não as destruirá. Era algo destinado a corrigir, não a construir algo novo, e isso não é revolução".

Quem escreveu isso não foi um político de esquerda nem um cientista político, mas Ernesto Geisel, o penúltimo general da ditadura de 64.

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Não há como não ver paralelos entre aquele golpe e o que está em curso hoje.

Tal como em 64, o objetivo era derrubar um presidente da República identificado com reivindicações populares e que tencionava governar para os mais humildes. Hoje é o Bolsa Família, o Minha Casa, Minha Vida. Em 64, João Goulart, que era um rico proprietário de terras pregava distribuir terras às margens de rodovias e ferrovias para reforma agrária e reformas de base, além de estatizar refinarias de petróleo.

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Tal como em 64, o golpe eclodiu obedecendo às populações urbanas de classe média que sairam em passeatas gigantescas, sendo a maior delas a "Marcha da Família com Deus pela Liberdade", sob o pretexto de afastar o "perigo comunista", o "desgoverno" de Jango e a corrupção desenfreada.

Tal como em 64, a grande imprensa apoiou em manchetes garrafais e editoriais bombásticos a deposição do presidente. A Veja e a Globo ainda não existiam.

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Tal como em 64, foi vendida a idéia de que a única solução para o país voltar a crescer seria derrubar o presidente.

Tal como em 64, o golpe não era para ser um golpe, muito menos militar. O que os políticos conservadores queriam, liderados pelos governadores Magalhães Pinto, de Minas e Adhemar de Barros, de São Paulo era que os militares derrubassem Jango e devolvessem o poder aos civis.

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Tal como em 64, o governo não tem maioria no Congresso. Os brasileiros elegeram Dilma presidente, mas não elegeram deputados de esquerda que lhe dariam sustentação. Por isso, tal como Lula, ela se aliou a partidos conservadores que, no primeiro momento, pareceu que lhe daria a maioria suficiente para governar com tranquilidade, mas essa maioria, como estamos vendo agora, está virando pó porque, na hora do vamos ver os políticos conservadores não hesitam em defender seus interesses e não os dos trabalhadores e do PT.

Tal como em 64, tudo parece estar dentro da lei. Naquela época, os parlamentares (civis) declararam o cargo de presidente vago assim que João Goulart viajou para o Rio Grande do Sul, sem dizer o que iria fazer. O presidente da Câmara, Auro de Moura Andrade empossou Ranieri Mazzili na presidência momentaneamente. Nos dias seguintes, os parlamentares elegeram o novo presidente da República, o general Castello Branco, que tomou posse em trajes civis, obedecendo ao roteiro escrito em Washington pelo embaixador americano Lincoln Gordon em parceria com o presidente Lyndon Johnson.

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Tal como em 64, foi combinado que Castello Branco (agora Michel Temer) convocaria eleições diretas em 66, tudo dentro da constituição de 1946.

Tal como em 64, tanto nas ruas como no Congresso, prevalece o perfil conservador, sendo a esquerda minoria.

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Tal como em 64, o golpe foi patrocinado pela Fiesp e por grupos empresariais como o Ultra.

Tal como em 64, setores da esquerda, que se dividiram contra e a favor de Jango, insistem em criticar a presidente Dilma em vez de defendê-la decididamente.

Tal como pode acontecer em 2016, caso Temer assuma, as minorias de esquerda se rebelaram contra a nova ordem e então, com o objetivo de deter o movimento "subversivo", Castello Branco começou a fazer as suas próprias leis e calar a oposição com cassações, sem provas de crimes, mais para a frente transformadas, por Costa e Silva em prisões, torturas e assassinatos.

Tal como em 64, quando juristas conservadores, como Gama e Silva trataram de colocar o golpe dentro da "lei", seus sucedâneos atuais consideram o impeachment perfeitamente normal, ainda que não exista crime de responsabilidade.

Tal como em 64, os políticos conservadores, incapazes de concretizar o golpe sem ajuda de outros setores chamaram não os tanques de Olympio Mourão Filho que sairam de Juiz de Fora na noite de 31 de março em direção ao Rio de Janeiro (embora Brasília fosse a capital), mas os canhões da Lava Jato, assestados pelo juiz Sérgio Moro desde Curitiba contra Brasília.

Tal como em 64, a classe média das grandes cidades saúda esse movimento de fachada legalista com indisfarçável euforia, sem perceber que dentro do cavalo de Tróia se escondem intenções autoritárias.

É preciso lembrar de tudo isso, nesse 31 de março, para evitar que a história se repita.

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