Parasita mostra momento pavoroso da civilização
"Grande Prêmio de Cannes 2019, o sul-coreano Parasita é um dos melhores retratos que o cinema contemporâneo já produziu sobre o pavoroso momento de uma civilização humana em tempos de crise econômica e colapso dos sistemas de proteção social", escreve Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia



Como acontece em tantos filmes de qualidade, nenhuma semelhança com a vida fora da tela é simples coincidência.
Situado num país que já foi uma das principais vitrines do progresso capitalista nos tempos da Guerra Fria, Parasita é uma obra feroz, sem concessões nem sentimentalismos -- apenas interesses e necessidades opostas, incompatíveis.
O foco dramático se concentra em duas famílias que sintetizam os dois universos que encarnam a tendência mais óbvia de uma sociedade que parece caminhar em direção à desigualdade absoluta.
Mostrando personagens assemelhados pela falta de valores morais e respeito zero por qualquer noção de solidadariedade, o filme tem o cuidado de mostrar as opções diferenciadas para quem se encontra em degraus opostos da pirâmide social.
No patamar miserável, uma família sobrevive num porão mal iluminado, entre montanhas de lixo e baratas. A luta para matar a fome é uma prioridade constante, a falta de higiene é um dado permanente e os truques para acessar clandestinamente o whats app dos vizinhos fazem parte da rotina. As mentiras e fabricações para arrumar um emprego surpreendem apenas pela frieza e competência na hora de enganar.
No outro polo, a família Park -- sobrenome do ditador que ergueu a Coréia do Sul à imagem e semelhança do Ocidente que patrocinou seu regime -- vive a rotina de alienação dos 0,1% que se encontram no cume mais agudo da pirâmide.
Entretidos numa rotina de preconceitos e privilégios, se mostram incapazes de exibir uma gota de curiosidade sobre as pessoas e situações a sua volta. Não fazem ideia da crueldade exposta por uma indiferença sem fim.
Parasita leva duas horas e 19 minutos para mostrar o convívio, o estranhamento e por fim o choque inevitável entre esses universos. Nos momentos finais, há uma cena violenta e dolorosa.
Como acontece em Bacurau, filme brasileiro que tem vários pontos de contato com Parasita, e que também foi premiado em Cannes, é difícil imaginar um final diferente.
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