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César Fonseca

Repórter de política e economia, editor do site Independência Sul Americana

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Paulo Guedes intriga Bolsonaro contra mídia

O Correio Braziliense entrou em bola dividida entre Bolsonaro e Guedes ao dar manchete na segunda que a estabilidade iria acabar, de acordo com a turma da Fazenda. Bolsonaro radicalizou contra Correio, mas, na verdade, a radicalização se dirigiu indiretamente a Guedes, que vazou o assunto para o Correio Braziliense

Depois de Bolsonaro, ou o dilúvio ou um grande pacto (Foto: REUTERS/Adriano Machado)
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É preciso esforçar para entender a cabeça de Paulo Guedes. Trata-se de um jogador. Personagem de Dostoieviski. Tremendo profissional do mercado financeiro. Dá grandes tacadas e pelo que se vê da sua fama ganha sempre. Craque. Sua tática é sempre dar um lance no mercado e esperar as reações. Demanda comanda a oferta, para o jogador, sempre na artimanha. Mas essa prática no governo, nas relações políticas dentro e fora dele, no Congresso etc, são outros quinhentos. O presidente Bolsonaro parece que está ficando pau da vida com esse modo de ser pauloguedeseano de jogador de mercado financeiro, embora diz que o apoia em 100%, como na entrevista ao Estadão. Ontem, Bolsonaro desmentiu jogada ensaiada de Paulo Guedes e seus neoliberais da Fazenda. Eles jogaram na mídia – e o Correio Braziliense deu manchete – que a estabilidade do servidor público está com dias contados. É o assunto que faz Brasilia temer. Todos os servidores entram em convulsão social abstrata, porque não têm motivos para protestarem como classe, visto que estão bem, no cenário da recessão e do desemprego. Estabilidade é uma conquista dos servidores à qual se agarram apaixonadamente. Mantém distinção entre servidores e trabalhadores, riscando separação de casta. A coisa vem do Império. Aí, porraloucamente, Paulo Guedes dá uma tacada midiática dizendo que a mamata vai acabar. Fogo no circo. Bolsonaro, pego de surpresa, explodiu: “não sei nada disso, ninguém me consultou”. Será, mesmo, que não consultou? Teria ou não o ministro recebido estímulo à moda malandra carioca bolsonarista: “Vai lá vê se cola, se colar colou, tô contigo, talkei?”. Mas, se der zebra, se os generais, que são servidores estáveis, chiarem…? Foi o que aconteceu.

Zebra total

Bolsonaro desmentiu Guedes e o desgaste do chefe da economia erodiu mais um pouco. Não é a primeira vez que ele faz isso. Aprontou, também, ontem, ao anunciar que acabará o monopólio da Caixa sobre o FGTS. Tremenda bomba. Novamente, Bolsonaro mandou desmentir, disse que não sabia, que foi pego de supresa, talkey? Os empresários do setor imobiliário que usufruem dos juros subsidiados da Caixa pressionaram. Se tiverem que tomar crédito nos bancos privados, quebrarão. Quem vai comprar Minha Casa Minha Vida com a agiotagem bancária pelo monopólio bancocrático vigente?

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Que concluir senão que Guedes produz intrigas tremendas entre Bolsonaro e a mídia. Quem se desgasta, politicamente, é o presidente e toda a sua base política. No Congresso, o PSL quer enforcar Guedes, claro. As dissidências crescem em perspectiva no partido governista. Não é para menos. Quem vai enfrentar os eleitores serão os parlamentares, nas eleições municipais de 2020. Guedes deixa a base política incendiada. Como Bolsonaro, ela está sendo pega de surpresa pelo jogador compulsivo do mercado financeiro vestido de ministro da Fazenda. O caso mais sério, que representou intriga brava de Guedes, foi – e continua sendo – o lance de desindexar salário mínimo do orçamento. Se isso acontecer, no cenário do desemprego geral, salário mínimo vai a zero ou negativo. Tem gente aceitando trabalhar por prato de comida. As bases bolsonaristas no Congresso estão alarmadas diante das tacadas do ministro relativamente a sua cruzada de garantir superavit primários a ferro e fogo, mantendo imexível o teto de gastos neoliberal baixado pelo golpe de 2016.

Censura bolsonarista

O Correio Braziliense entrou em bola dividida entre Bolsonaro e Guedes ao dar manchete na segunda que a estabilidade iria acabar, de acordo com a turma da Fazenda. Bolsonaro radicalizou contra Correio, mas, na verdade, a radicalização se dirigiu indiretamente a Guedes, que vazou o assunto para o CB. O CB não entendeu que Guedes está usando a mídia para pressionar Bolsonaro nas decisões que ele quer implementar? O presidente, por enquanto, está reagindo como se a culpada fosse a mídia por divulgar os vazamentos do jogador Guedes. Pode ser que, de repente, ele se volte contra quem alimenta a mídia, ou seja, o jogador. Quando?

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O episódio guarda lição para a mídia: ela está embarcando  nos balões de ensaio armados por Guedes. O ministro estaria agindo de moto próprio ou se desgastando conscientemente no lugar do presidente, para salvar a pele do chefe? A reação de Bolsonaro é a de chefe insatisfeito com as repercussões dos balões de ensaio. Os repórteres terão que checar no Planalto o que Guedes está anunciando na Fazenda. A notícia e o desmentido ou confirmação no mesmo dia. Golpe no vício do repórter que é dar furo, evitar que a matéria seja derrubada por desmentidos, no mesmo dia. O jornal compactua ou induz a essa prática para justificar sua utilidade de produtor de notícia. O fato novo é Bolsonaro confrontar o que diz ser fakenews com ameaças de guerra.

Apavorado com a ligação do Correio à Folha e sabendo que isso pode representar retaliação financeira do Planalto, o Correio Braziliense, da escola de Assis Chateaubriant, de sempre ser governista, desmentiu, hoje, a manchete de ontem, e destacou a ira do titular do Planalto. A sofreguidão jornalística de dar como verdadeiros os balões de Paulo Guedes vai ou não se arrefecer na mídia conservadora? Terá que publicar o que considera furo da Fazenda só se o Planalto confirmar. É o que quer o novo César.

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