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Carla Teixeira

Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em História Membro do Conselho Editorial da Revista Temporalidades - Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG

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Pazuello deve, por isso teme e foge

"Diante do cenário apocalíptico que vivemos, Pazuello sabe a culpa que tem no cartório e vem demonstrando medo de ser abandonado pelo Palácio do Planalto diante da dificuldade de obter documentação junto ao ministério da saúde para formular sua defesa", escreve a doutoranda em História Carla Teixeira

(Foto: Divulgação)
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A CPI do Genocídio começou a ouvir hoje os depoimentos de testemunhas. O primeiro inquirido foi o ex-ministro da saúde Luiz Henrique Mandetta, defenestrado no início da pandemia por insistir em seguir a ciência e as recomendações da Organização Mundial de Saúde no combate à pandemia aqui no Brasil. Depois de passar todo o ano de 2019 desmontando o Sistema Único de Saúde, Mandetta vendeu-se como “sensato”, lembrou que no início de 2020 o SUS aplicou 80 milhões de doses de vacinas contra a gripe em 35 dias, permitindo concluir o óbvio: a lentidão na imunização da população contra a covid-19 se dá por falta de doses, não por qualquer deficiência no sistema. Vivemos pra ver Mandetta afirmar que “O SUS é muito bom!”, mais uma comprovação de que, neste governo, a terra plana não dá voltas, capota.

O depoimento de Mandetta foi contundente e responsabilizou o presidente da República ao afirmar que Bolsonaro divergiu da ciência, teve aconselhamento paralelo e que o governo tentou propor uma mudança na bula da cloroquina para ser indicada como tratamento contra a covid-19. Para a próxima quarta-feira estava prevista a presença do também ex-ministro da saúde, general Eduardo Pazuello. O “gordo favorito do presidente”, quando ministro, obedeceu bovinamente cada uma das ordens do capitão, recusou-se a comprar vacinas, agulhas, seringas e o “kit intubação”, e omitiu-se diante do colapso sanitário de Manaus. O general é o homem bomba que poderá expor aos senadores e à sociedade como o governo atuou para promover a imunidade de rebanho, ignorando medidas como o uso de máscara, distanciamento social e testagem em massa da população.

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No comando da pasta, Pazuello sitiou o ministério da saúde, pendurando nos principais cargos uma corja de militares sem qualquer qualificação para as funções designadas. Criou protocolo e estimulou o uso de cloroquina como tratamento precoce contra a Covid-19. Contou com a utilização das instalações do Exército que adquiriu a matéria prima com valor superfaturado, produziu o medicamento e distribuiu o “Kit Covid”, a pedido da pasta de Pazuello. Tudo isso enquanto Bolsonaro oferecia cloroquina até às emas do Alvorada e fazia propaganda do medicamento em suas lives semanais. Tudo mancomunado entre eles.

Quando o general assumiu o ministério, em 16 de maio de 2020, o país somava menos de 16 mil mortes. Ao ser substituído pelo atual ministro Queiroga, em 15 de março de 2021, o Brasil chorava mais de 270 mil vidas perdidas, ocupando o segundo lugar entre os países com mais óbitos na pandemia. Sem vacina, sem distanciamento social, sem protocolo sanitário para proteger a população. Atualmente, atingimos o platô de mortes num número diário próximo aos 3 mil, enquanto cientistas alertam para a chegada do inverno e a possibilidade de uma terceira onda ainda mais devastadora.

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Diante do cenário apocalíptico que vivemos, Pazuello sabe a culpa que tem no cartório e vem demonstrando medo de ser abandonado pelo Palácio do Planalto diante da dificuldade de obter documentação junto ao ministério da saúde para formular sua defesa. A fim de dirimir essa impressão, o governo gastou 23 mil reais numa preparação de seis horas, ocorrida ontem. Um verdadeiro desastre. Pazuello estava nervoso e temia ser preso logo após dar o depoimento à CPI. Assim, decidiu não comparecer. Depois de passear sem máscara em shopping de Manaus e debochar perguntando “onde se compra isso?”, alegou ter tido contato com dois coronéis infectados e justificou sua ausência na sessão de amanhã, contando com o endosso do atual comandante do Exército, general Paulo Sérgio.

Com isso, o depoimento de Pazuello será adiado por 15 dias, o tempo necessário de quarentena em casos suspeitos de COVID-19, também o suficiente para que o ex-chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência, Fábio Wajngarten, deponha à CPI. Wajngarten, em recente entrevista à revista Veja, culpou a gestão Pazuello pelo atraso na aquisição de vacinas, isentando Bolsonaro e o restante do governo de qualquer responsabilidade.

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Adiar o depoimento poderá dar alguns dias para Pazuello se preparar, dominar seu temperamento irascível e compor argumentos para tentar se eximir da sua evidente responsabilidade. Fato é que o general e o Exército devem explicações à sociedade e à CPI sobre as centenas de milhares de mortes causadas pela gestão do governo que endossaram. Pazuello pode tentar fugir, mas não poderá se esconder. A questão é saber se aceitará ser tratado como o boi de piranha dos crimes da pandemia ou se entregará a cabeça de Bolsonaro numa bandeja aos senadores. Quem viver, verá.

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