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Carlos Hortmann

Professor, filósofo, historiador e músico.

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Peculiaridades Históricas da Coreia do Norte e a Cimeira de Singapura – Espero estar errado!

Reconheço que o encontro entre Kim Jong-un e Donald Trump em Singapura é um momento histórico para geopolítica, mas reafirmo o meu “pessimismo” do início deste texto

Líder da Coreia do Norte, Kim Jong Un. 21/08/2015 REUTERS/KCNA (Foto: Carlos Hortmann)
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De um modo geral as pessoas dizem que sou “negativista” por esperar sempre o pior das situações. Costumo dizer que tento viver com as menores expectativas possíveis, pois ajuda-me a ter uma boa saúde mental (pelo menos essa foi a receita que encontrei). Porem, este texto não é para falar das minhas disposições fenomenológicas diante da vida. Mas sim da cimeira e a tentativa de um acordo de paz que se desenha na Península Coreana.

Antecipadamente gostava de ressaltar que muita gente escreve e fala da Coreia do Norte sem demonstrar muito estudo da história do país ou da geopolítica. Por esse motivo procurarei fazer um breve enquadramento histórico.

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O primeiro rótulo que se coloca é de ser um país comunista (mais um mito), contudo essa ideia é falsa. Eles têm um regime denominado de “Socialismo Zuche”. Uma mistura de teorias marxista-leninista (não custa relembrar que as teorias marxistas não são as de Marx) com teorias de Confúcio. Essa conceção tem uma perspetiva neoconfucioana de que o Estado tem que ser uma grande família – diferente do comunitarismo defendido por Marx. Tem em si um “espírito” fortemente nacionalista (contrária a qualquer perspetiva comunista que tem como eixo central uma visão internacionalista da classe trabalhadora). Por outro lado, essa componente nacionalista é facilmente compreendida com um breve estudo da história das Coreias no século XX. Principalmente com a invasão do Japão que transformou a Coreia numa “colónia” entres os anos de 1910 a 1945. Neste período, como é típico das contradições do capitalismo/imperialismo, levaram uma grande infraestrutura e indústria para o país, mas em contrapartida os japoneses tratavam os coreanos como “servos” e em muitos casos escravizaram sexualmente as mulheres coreanas (jongun-ianpu). Por consequência da exploração dos trabalhadores e um aumento substancial da pobreza, congregado aos movimentos de libertação, criou-se um ideal extremamente nacionalista e autonomista na península norte-coreana.

A ter em vista a brevíssima conjuntura social supracitada e somado a influências da Revolução Chinesa de 1949, o líder Kim Jong Sum captou esse “espírito” de revolta e sofrimento, transformando na conhecida Revolução Coreana. As diretrizes fundamentais desse movimento procuravam construir uma forte identidade nacional, proteção do seu território e uma autonomia em relação ao restante do mundo, mas principalmente dos seus inimigos. O símbolo maior desse processo é o desenvolvimento de um programa nuclear, que tinham dois objetivos fundamentais. O primeiro deles é a possibilidade de poder ameaçar os seus inimigos, em especial o EUA, como forma de garantir a proteção do seu território, a sobrevivência regime Zuche e a tal autonomia. O outro objetivo é a produção de energia nuclear para suprir as suas necessidades do seu povo, principalmente da industria nos anos 70/80.

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Reconheço que o encontro entre Kim Jong-un e Donald Trump em Singapura é um momento histórico para geopolítica, mas reafirmo o meu “pessimismo” do início deste texto. Pois o que está em cima da mesa, por parte dos estadunidenses, é o total desmantelamento e irreversibilidade do programa nuclear norte-coreano. Do pouco que pude descrever acima, podemos perceber que se eles fizerem isso, é ariscar todo um esforço que a dinastia Kim procurou construir nessas décadas, a fim de “proteger” o seu povo da exploração colonialista e garantir a autonomia. Não podemos ser ingénuos ao ponto de acreditar que dessa cimeira sairá um acordo de paz ou coisa parecida. Acredito que pode ser o início de um longo processo. Os resultados o tempo responderá!!

Antes de finalizar gostava de deixar algumas indicações da raríssima bibliografia que existe acerca da Coreia do Norte. O historiador norte-americano Bruce Cuming, é um dos que mais produziu pesquisa e livros de referência sobre o regime Zuche (acredito que suas obras não foram traduzidas para português). Uma das poucas obras que tem em português é do professor Paulo Fagundes Visentini, da Universidade Feral do Rio Grande do Sul: “A Revolução Coreana”.

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Dentro de pouco tempo saberemos o desdobrar desse encontro.

 

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