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Jose Carlos de Assis

Economista, doutor em Engenharia de Produção pela Coppe-UFRJ, professor de Economia Internacional da UEPB

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Plano Globo-Guedes antecipa massacre financeiro dos idosos

Nessa associação entre Globo e Guedes o que se quer é o sangue dos idosos. É uma espécie de leasing do cemitério, uma proposta que brada aos céus de tão desumana. O mais extraordinário é que está sendo lançada em plena tentativa de reforma da Previdência com seu infame regime de capitalização

Plano Globo-Guedes antecipa massacre financeiro dos idosos (Foto: Causa Operária)
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O Globo antecipou-se ao governo e anunciou 50 medidas da equipe de Paulo Guedes para recuperação da economia brasileira. Não disse quais serão elas, só que serão 50. Não 49 ou 51, mas exatamente 50. Todas supostamente sendo preparadas. Isso gerou manchetes na primeira página e nas páginas internas da edição de quinta-feira. Sempre relativas ao tempo futuro. É um indício de que até mesmo esse jornal governista está incomodado com a ausência de iniciativas do governo para enfrentar a pior crise econômica de nossa história.

A razão dessa clara manipulação da opinião pública se deve à necessidade de se criar uma cortina de fumaça para dar passagem à infame reforma da Previdência, ou melhor, da reforma da Seguridade Social consagrada na Constituição. Sabe-se como isso funciona no jornalismo marrom. É na contramão de uma forma honesta de divulgar uma notícia. Em lugar de se apurar a notícia real e divulgá-la dando eventualmente uma manchete, escolhe-se a manchete ao gosto do manipulador e manda-se o repórter construir a notícia artificialmente.

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Na ausência das 50 medidas efetivas, ficamos sabendo, a propósito da única que se anuncia como a ser detalhada oportunamente, um contrato que chamam de hipoteca reversa, dirigida preferivelmente a idosos que tem imóvel próprio. O idoso cede o imóvel para o banco em troca de um número definido de prestações mensais. Quando o idoso morrer, o banco – talvez o Pactual ou outros da amizade de Guedes – assume a total propriedade do imóvel. É um sistema de leasing pervertido, mas aqui tomaria a forma de expropriação dos mortos.

A chave da picaretagem está na definição no valor e no número de prestações. Se forem baixas e por tempo curto, o que certamente vai acontecer porque conhecemos muito bem nosso sistema bancário de agiotagem, a possibilidade é que o idoso ou morra antes, deixando o banco como herdeiro, ou caia na miséria, sem imóvel e sem prestação. É esse tipo de medida "social" que Guedes, sob a total proteção de Bolsonaro e generais do governo, está preparando para a terceira idade do neoliberalismo. Se não fosse revoltante, seria asqueroso.

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Eis, porém, as vantagens do sistema nas palavras de um assessor de Guedes: "Hoje, o imóvel só é usado pelo próprio proprietário. E esse bem poderia estar movimentando o mercado. Várias empresas comprariam pacotes de imóveis por preços mais baixos e depois poderiam alugar esses imóveis. Estaríamos aumentando a eficiência de alocação: um imóvel que tinha destinação só para uma pessoa morar poderia alavancar investimentos. É possível gerar negócios ali – afirma o secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida."

Não vou me ater à análise de aspectos morais da proposta. Vou me ater a aspectos econômicos. O mercado a que esse secretário se refere não é o mercado normal de investimento e consumo, gerador de empregos. É um mercado de especulação absoluta, sem geração de empregos, com imóveis prontos, à custa dos idosos. Não sei quantos anos esse Afonso tem, mas pelo menos seu entrevistador cascateiro talvez tenha conhecimento de uma histórica polêmica entre Lacerca e Roberto Marinho em torno do Parque Lage, no Rio.

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Marinho era sócio num projeto de construção de uma série de espigões no Parque, e Lacerda, como governador da Guanabara, vetou o projeto alegando interesse público. Marinho insistiu com outras propostas, sempre negadas, e numa delas propunha a criação no Parque de um cemitério especial para crianças. Lacerda apelou para sua retórica violenta, e, na exposição de motivos de um decreto, feita pessoalmente, afirmou que Roberto Marinho "queria se aproveitar do sangue das criancinhas."

Agora nessa associação entre Globo e Guedes o que se quer é o sangue dos idosos. É uma espécie de leasing do cemitério, uma proposta que brada aos céus de tão desumana. O mais extraordinário é que está sendo lançada em plena tentativa de reforma da Previdência com seu infame regime de capitalização. É como se o governo, de olho nos imóveis dos velhinhos, esteja se preparando para esmagar aposentadorias e pensões a fim de deixar para eles a única alternativa de se fazer do imóvel próprio onde vive, para sobreviver algum tempo e depois cair na miséria. Não seria isso querer o sangue dos velhinhos?

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