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Marco Mondaini

Historiador e Professor da Universidade Federal de Pernambuco. Coordena e apresenta o programa Trilhas da Democracia, exibido aos domingos na TV 247.

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Política, guerra e o "povo" armado de Bolsonaro

Que me perdoem os pudicos, mas não foi a saraivada de palavrões disparados pelo presidente aquilo que me causou preocupação. Da mesma maneira, não resultou em assombro a conclamação à prisão dos ministros do STF, governadores e prefeitos feita, respectivamente, pelo ministro da educação e pela ministra dos direitos humanos, em função da insignificância de ambos

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Já se vão quarenta e cinco anos do famoso curso ministrado pelo filósofo francês Michel Foucault, no Collège de France, intitulado Em defesa da sociedade.

Naquela ocasião, o autor de Vigiar e punir realizaria a notável inversão da famosa máxima do general prussiano Carl von Clausewitz, em Da guerra, que afirmava ser “a guerra nada mais que a continuação da política por outros meios”.

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Assim, ao dizer que, na verdade, “a política é a guerra continuada por outros meios”, Foucault procurou apontar para o caráter intrinsecamente belicoso do fazer político, num claro distanciamento em relação às teses que perpassariam a Teoria da Ação Comunicativa do filósofo alemão Jürgen Hamermas, que localiza a política – junto à arte a à cultura – num idealista “mundo da vida”

Porém, esteja a razão com Foucault ou com von Clausewitz (e, na minha modesta opinião, o primeiro aproxima-se mais daquilo que Maquiavel realisticamente definiu como “a verdade efetiva” da política), o fato é que guerra e política sempre estabeleceram entre si uma relação indissociável, à medida em que ambas lidam com o universo dos poderes em disputa, isto é, das relações de poder existentes no interior das sociedades e/ou entre diferentes Estados nacionais.

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Pois bem, parece-me evidente que ninguém situado no elástico campo das esquerdas ignorava o fato de que, desde os protestos de junho de 2013, nos encontrávamos em meio ao aguçamento de uma guerra, nos termos foucaultianos. Mas, após a divulgação do vídeo da reunião ministerial realizada em 22 de abril, creio ter sido aberta uma nova fase dessa guerra.

Que me perdoem os pudicos, mas não foi a saraivada de palavrões disparados pelo presidente aquilo que me causou preocupação. Da mesma maneira, não resultou em assombro a conclamação à prisão dos ministros do STF, governadores e prefeitos feita, respectivamente, pelo ministro da educação e pela ministra dos direitos humanos, em função da insignificância de ambos.

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Foi o “eu quero que o povo se arme”, dito aos brados e de maneira imperativa pelo presidente, aquilo que mais me impactou no vídeo que teve a sua divulgação autorizada pelo corajoso ministro Celso de Mello. Um impacto não gerado pelo ineditismo da frase, já que JM Bolsonaro havia dito isso inúmeras vezes durante a sua trajetória política.

Impactante é saber, por um lado, que o “povo” bolsonarista – composto por policiais civis e militares, milicianos, militares do exército, civis dos clubes de tiro, entre outros mais – já se encontra muito bem armado e treinado há tempos; e, por outro lado, que essa pode ter sido a senha para o início de uma desenfreada onda de crimes e atentados de natureza política no país.

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Caso seja verossímil esse meu temor, Foucault e von Clausewitz já não conseguiriam dar conta do fato de que, hoje, no Brasil, guerra e política estariam a um passo de se tornarem um corpo único, indissociável, tornando dispensável a reaparição da imagem típica dos tanques a saírem dos quartéis para darem início a um golpe de Estado.

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