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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Por 580 dias eles estavam lá!

Independência é organização e força. Foi o que a vigília de Curitiba nos ensinou.

Vigília Lula Livre, em Curitiba (Foto: Ricardo Stuckert)
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Por Denise Assis, para o 247

De 7 de abril de 2018 a 8 de novembro de 2019, enquanto o restante do país vivia em estado de perplexidade, tristeza e quase imobilismo, um pelotão de, em média/diária, duas mil pessoas, acampadas numa área urbana de Curitiba, ordeira e organizadamente travou uma luta pela manutenção, em bom estado, de um ativo nacional precioso: o ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. 

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Encarcerado em uma salinha no último andar do prédio da Polícia Federal da capital paranaense, Lula mobilizou aquela parcela obstinada. Ela entendeu que havia uma intenção deliberada da elite brasileira, dos veículos da mídia tradicional e do meio político – transformado em reduto da ultradireita em sua grande maioria -, de empreender um apagamento do líder político de maior expressão no Brasil e no exterior. 

Enquanto isto, o restante da população era engolfada por uma pandemia cruel (que parecia não ameaçar apenas àquele grupo), por um estado de apatia, ou por uma desorganização que não permitia fazer frente aos crimes em série perpetrados pelo presidente eleito em 2018, em consequência da prisão de Lula.

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Assim, desafiando os perigos de tiros, frio, pandemia e ameaças constantes de todo tipo de violência, aquela gente parecia ser feita de outra fórmula, onde não constou, na essência, as palavras: medo e desistência. Foram 580 dias de fidelidade e resistência, com um objetivo maior: manter elevado o moral de Lula, que em seu confinamento vivia sentimentos controversos como todo ser humano. Raiva, esperança, impaciência, paciência, tristeza e a certeza da injustiça que lhe fora imposta. Para conviver com essas emoções, inerentes aos que têm sentimentos e presta atenção a eles, Lula contou com amigos fiéis, advogados competentes e assessores abnegados. Mas não só.

A espécie de exército de Brancaleone reunido em barracas, aos poucos se organizou em tarefas que variaram entre registrar tudo a todo momento, para a posteridade, manter a união em torno da causa e não permitir que Lula desanimasse, porque haveriam de precisar dele para ressurgir num confronto encarniçado entre o humanismo e o autoritarismo. Sem peça de reposição para a tarefa, confiantes de que cada dia valia a pena, não arredaram pé. E todos os dias, mesmo com o resto do país mergulhado em seus dramas, como o da perda de 680 mil vidas para uma doença menosprezada pelo governo que desassistia a população, o retorno à fome e à banalização, por parte das instituições, de crimes graves, eles estavam lá. “Bom dia, presidente Lula”, “boa tarde, presidente Lula”, “boa noite, presidente Lula”.

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Não há registro de algo semelhante. Não se ouviu falar de coisa parecida em nenhum canto, e mesmo assim eles não foram notícia na mídia tradicional, porque ignorá-los fazia parte do apagamento político do personagem enredado na trama de um juiz ideológico, ambicioso e comprovadamente parcial, de uma sociedade pronta para aplaudir um governo mesmo que tosco, em nome de manter o regime de privilégios e castas. 

Agora, com depoimentos minuciosos e emocionados, colhidos pelo jornalista Joaquim de Carvalho, no documentário: “580 dias – A prisão e a volta triunfal de Lula”, descortina-se à nossa frente, não por acaso, no ano do bicentenário da “Independência”, o verdadeiro povo brasileiro. Que não costuma ser notícia porque é povo. 

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Nesta terça-feira (06/09), como parte das comemorações do bicentenário, o público terá oportunidade de se ver na exposição aberta no Arquivo Nacional, no Centro do Rio, na mostra: “Quem são os brasileiros?”. Dividida em cinco módulos e com curadoria do pesquisador Thiago Mourelle, as imagens se dividem entre Brasil Colônia e o Brasil Império, a vinda dos imigrantes europeus e asiáticos a partir do século XIX. Os rostos da gente comum, em manifestações culturais, em atividades cotidianas, suas dificuldades e as lutas dos trabalhadores estão retratadas num minucioso apanhado da memória nacional. 

Memória, para o sociólogo e historiador Michael Pollak (1948-1992) é “a operação coletiva dos acontecimentos e das interpretações do passado que se quer salvaguardar”. No seu entender, a memória “integra-se com tentativas mais ou menos conscientes de definir e de reforçar sentimentos de pertencimento e fronteiras sociais entre coletividades”. 

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O conceito, contido no seu livro: “Memória, Esquecimento, Silêncio” vem a calhar. Esse povo, exibido nas fotos que atravessaram o século, é o mesmo que estava lá, em Curitiba. Foram 580 dias de afirmação de sentimento - de resistência -, e pertencimento - do que é preciso ser preservado: a luta pela esperança de mudança e a força de quem os pudesse liderar na travessia do autoritarismo e desmando, para a construção de um país independente. Independência é organização e força. Foi o que a vigília de Curitiba nos ensinou.

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