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Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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Por que a China perturba o governo Bolsonaro?

"A China está plenamente no século XXI, enquanto o governo Bolsonaro oscila entre a guerra fria e a atualidade, se mostrando fora do mundo e incapaz de dirigir o Brasil conforme os interesses atuais e reais do país", escreve o sociólogo Emir Sader

(Foto: Agência Brasil | Reuters)
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Uma paranoia comanda os comportamentos do governo Bolsonaro em relação à China. Como faz parte do cenário em que se instalada está a retomada da guerra fria, com adesão incondicional às políticas dos Estados Unidos, a China é o inimigo fundamental. Representaria não apenas um regime ditatorial, como uma ameaça, pela expansão os seus interesses, à democracia e à independência do Brasil.

Todos os diagnósticos do que acontecia no Brasil remetiam à polarização entre os EUA e a URSS ou o bloco socialista, ao qual era assimilada a China. Editoriais de jornais como o Estadão, usavam usualmente a expressão “bloco petebo-castro-comunista”, para se referir a uma suposta convergência de interesses entre o PTB, partido do Getúlio e do Jango, com Cuba e os países comunistas, principalmente a URSS e a China.

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Essa loucura de retomar o clima da guerra fria teria a vantagem de atribuir ao governo Bolsonaro a missão de salvar o Brasil de cair no comunismo. Acontece que no mundo real não estamos mais na guerra fria, os EUA não são os mesmos de antes, nem a China, nem no mundo.

A economia brasileira era totalmente atrelada à norte americana, que era, de longe, a economia mais forte, mais dinâmica e tecnologicamente mais avançada do mundo. A China era um país longínquo, uma presença mais política e ideológica do que econômica. 

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No fim da guerra fria, a URSS desapareceu, a polarização entre os dois campos desapareceu com ela. A China enveredou por outro caminho, adotando uma economia de mercado no marco de um Estado fortemente centralizado. Os Estados Unidos, por sua vez, entrou em um processo de decadência econômica, política e ideológica. 

O mundo da guerra fria não existe mais. Deixou de haver, pelo menos por um tempo, a polarização entre dois blocos. E a China, de país longínquo, passou a ser o principal parceiro comercial do Brasil e de toda a América Latina. Além de que passou a ser a economia mais dinâmica no mundo, com um acelerado processo de crescimento econômico e tecnológico.

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A China passou a projetar o modelo econômico, de combinação entre mercado e Estado, como o de maior sucesso no mundo e o de maior atração para países da Ásia, da América Latina e da África. Na crise da pandemia, embora tivesse surgido o vírus na China e ela não tenha se mostrado capaz de impedir sua propagação para outros países, foi o país que melhor enfrentou a pandemia, que a controlou mais rapidamente, justamente pelo tipo de Estado centralizado do país. Enquanto que os Estados Unidos não apenas não se mostra capaz de controlar o vírus, até pelo peso pequeno da saúde pública no país. 

E enquanto a China se mostra solidária com tantos países no mundo, o Estados Unidos, coerentes com a principio de Trump de “América primeiro”, toma posições absolutamente egoístas, completamente antagônicas às da China. 

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Poderíamos analisar as referências a Cuba que, embora país pequeno e pobre, revela, como é sua tradição, posturas de solidariedade internacional incomparáveis, com envio de grupos de médicos a centenas de países.

São atitudes que o governo Bolsonaro não consegue entender e assimilar. Vive entre a ilusão ideológica de estar no mundo da guerra fria, para assumir uma missão anticomunista, e a realidade econômica do século XXI, em que as relações econômicas com a China são fundamentais para o Brasil. 

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Atitudes de realismo econômico, tentando se desculpar das imbecilidades que ministros e filhos do Bolsonaro pronunciam, para reafirmar o perfil ideológico da guerra cultural contra o marxismo e guerra política contra o comunismo, se alternam com a reiteração dessas imbecilidades.

A China tem uma visão de longo prazo, nao vai mudar suas relações econômicas com o Brasil, porque sabem que esse tipo de governo passa e a China segue adiante. Mas, cada vez que se sente ofendida, as autoridades chinesas respondem, de forma elegante, mas dura. Mas o Brasil já para preço de ter dificuldades para comprar materiais sanitários da China.

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A China está plenamente no século XXI, enquanto o governo Bolsonaro oscila entre a guerra fria e a atualidade, se mostrando fora do mundo e incapaz de dirigir o Brasil conforme os interesses atuais e reais do país.  A China é um chamado para a realidade do século XXI e isso perturba muito um governo que vive ainda no século XX.

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