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Luis Felipe Miguel

Professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB). Os textos reproduzidos nesta coluna são postados originalmente no Facebook do autor

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Por que Bolsonaro não cai?

"O fato é que, com toda a sua estupidez, Bolsonaro é capaz de intuir a jogada que garante sua permanência no governo. Ele mantém uma base minoritária, mas agressiva, que cada vez mais é direcionada contra o restante da direita", diz o cientista político Luis Felipe Miguel

Jair Bolsonaro fala à imprensa no Palácio da Alvorada (Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil)
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Passados dez meses, são avassaladoras as evidências de que lhe faltam condições morais, intelectuais e jurídicas para ocupar a presidência. No entanto, ele continua firme no posto.

As revelações da Vaza Jato estão comprovando de forma cabal que houve uma conspiração para retirar Lula das eleições de 2018. Já há indícios mais do que suficientes para sustentar a anulação do pleito. No entanto, passado o susto inicial, a Vaza Jato tornou-se parte da paisagem. Suas novas denúncias passam quase em branco, não importa o quão grave sejam. A elite política, os poderes de Estado e a mídia parecem conviver bem com um presidente eleito de forma fraudulenta e um ministro da Justiça corrupto.

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O escândalo do disparo de fake news no WhatsApp, financiado por doações não declaradas, que o TSE se recusou a investigar, e o laranjal do PSL apontam para o financiamento ilegal da campanha, motivo mais que suficiente para iniciar o procedimento de cassação da chapa. Mas nada acontece.

Queiroz continua presente e atuante, nos negócios de sempre. As evidências de que o clã Bolsonaro esteve e está envolvido em rachadinhas, desvios de função e outros esquemas similares são avassaladoras. Mas isso também já está normalizado.

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Os laços com milícias do Rio de Janeiro são notórios há anos. Agora, múltiplas "coincidências" apontam para um envolvimento no assassinato da vereadora Marielle Franco. Mas parece que bastar jogar múltiplas cortinas de fumaça sobre o caso para que tudo fique bem.

Para abafar as investigações, órgãos do Estado são instrumentalizados e desvirtuados. No caso da chamada para a casa 58, exemplos abundam, da promotora bolsonariana que se apressou em invalidar o testemunho do porteiro, sem se preocupar em fazer qualquer perícia das provas, ao ministro da Justiça intervindo diretamente para abafar o caso. O despautério causa constrangimento. Mas logo passa.

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Não é só aí que Bolsonaro mostra sua total incompatibilidade com a ideia de república, sua incapacidade de entender a separação entre família, governo e Estado. Dos gastos milionários do cartão corporativo, da punição ao servidor do Ibama que o multou por pesca irregular e da tentativa de nomear embaixador o próprio filho até o filtro ideológico nas artes, as intervenções nas universidades e a perseguição a estados e municípios governados por partidos da oposição, sem esquecer do desvio de função de órgãos como o próprio Ibama, a Funai, a Comissão Nacional da Verdade, o INPE ou o MEC, são inúmeros sinais de que a filosofia do capitão é "esta joça, c'est moi". Às vezes, as iniciativas são barradas, apenas para se esperar a próxima tentativa.

Por que, então, ele não cai? Por que as famosas instituições caminham quase passivamente para sua total desmoralização?

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O fato é que, com toda a sua estupidez, Bolsonaro é capaz de intuir a jogada que garante sua permanência no governo. Ele mantém uma base minoritária, mas agressiva, que cada vez mais é direcionada contra o restante da direita. Seus alvos prioritário hoje são o STF, a Globo, o PSL. Antes foram Maia, Mourão, o MBL.

Em suma: qualquer transição para um governo de direita pós-Bolsonaro será visto como o triunfo de uma grande traição, sem possibilidade de composição possível.

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Sem a base do bolsonarismo, o restante da direita, para conseguir governar, provavelmente terá que estabelecer algum tipo de negociação com a centro-esquerda. E isso é tudo que ela não quer.

Afinal, o sentido do golpe de 2016 e de seus desdobramentos, entre os quais a própria eleição de Bolsonaro, foi exatamente esse: vetar a presença do campo popular com interlocutor legítimo do debate político.

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É esse veto que permite que os retrocessos se acumulem sem que haja qualquer tentativa de convencimento ou espaço de negociação: congelamento do investimento público, sucessivas retiradas de direitos da classe trabalhadora, fim da previdência social, entrega de riquezas ao capital estrangeiro, alienação do patrimônio público.

E a agenda a ser cumprida ainda é longa: reforma tributária em benefício dos mais ricos, abolição da justiça do trabalho, absorção completa do orçamento público pelo rentismo com a retirada da destinação obrigatória de recursos para educação e saúde, destruição final do Estado brasileiro com a extinção do funcionalismo público profissional.

Nossa direita "civilizada", de Maia a Barroso, de FH aos Marinho, acha desagradável essa convivência forçada com bufões e criminosos comuns. Mas prefere o constrangimento dessa parceria a ter que maneirar o projeto que é seu e do qual o capitão se tornou porta-voz, o projeto de impor às classes populares brasileiras a maior derrota de sua história.

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