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Jose Carlos de Assis

Economista, doutor em Engenharia de Produção pela Coppe-UFRJ, professor de Economia Internacional da UEPB

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Por que o mercado financeiro não precisa ter medo dos velhinhos

O mercado financeiro não precisa temer os velhinhos. Mas é bom que se acostumem com a ideia de que, em algum momento no futuro, o BC tomará vergonha na cara e adotará uma política de juros decente, alinhada com a norte-americana e a européia

(Foto: ABr)
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O pessoal do mercado financeiro fica muito nervoso com o déficit público, e em especial o déficit previdenciário. Teme o calote da dívida pública. Seria uma situação na qual o Estado ficaria sem condições de pagar os juros e o principal da dívida. O Governo, desesperado, teria de emitir dinheiro desbragadamente para cumprir seus compromissos financeiros. Em conseqüência, haveria uma inflação monstruosa, uma hiperinflação.

Considerando minhas firmes convicções de economia política assim como minha longa experiência em políticas públicas, decidi fazer esse pequeno artigo para tranquilizar os incansáveis operadores de mercado e seus patrões. É um ato de caridade. Esses moços, muitos deles riquíssimos, passam o dia na frente de uma multidão de gráficos e tabelas de computador, sem qualquer descanso. Comem e bebem números, vírgulas e decimais.

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São poucos. Mas, no caso dos que trabalham em bolsas, são tão estressados que, através da Grande Mídia, por onde correm os nervos da sociedade e do Estado, puxam para baixo ou para cima todo o humor da sociedade de acordo com oscilações do pregão. Imaginem se a essa pesada carga de balanços e expectativas negativas e positivas se acrescenta a notícia intolerável segundo a qual o déficit público aumentou e a dívida subiu um ponto percentual?

O mercado merece mais do que Lexotan. Merece carinho. Merece principalmente a certeza de que o déficit público, numa situação em que há capacidade ociosa na economia, não traz qualquer risco para os detentores dos juros e do estoque da dívida pública. A razão é muito simples. Se o déficit público resultar de investimento e custeio produtivo, haverá uma resposta na forma de aumento da demanda e da oferta, sem risco de inflação.

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Vamos olhar isso mais de perto, de forma a tranquilizar definitivamente os rapazes do mercado e seus patrões. Eles pensam que tem dinheiro estocado, bilhões e bilhões de reais. Não é verdade. Eles têm sinais eletrônicos na tela de computador. Um sinal e lá se vai um bilhão. Outro sinal e desaparece outro bilhão. Quando o Banco Central credita ao aplicador alguns milhões de juros, o que vale é o sinalzinho na tela indicando essa riqueza.

São esses sinais, não dinheiro vivo, que fluem na economia na forma de pagamentos e recebimentos. Eventualmente há um encontro de contas e gera-se um saldo em dinheiro. A aposentadoria do velhinho também é um sinal na sua conta bancária. Este é logo sacado em dinheiro. Já os bilhões dos aplicadores ficam girando nos bancos, engordando sem trabalho. Enquanto houver capacidade de oferta, o BC pode continuar emitindo sinais de dinheiro sem medo de inflação.

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Qual é a razão para os operadores do mercado temerem tanto o déficit e a dívida? Vou contar já, mas antes é preciso esclarecer um ponto essencial: para financiar o déficit o Governo deve oferecer juros ao mercado financeiro. Os juros se aplicam também a boa parte do estoque da dívida. Juros altos significam lucros também altos para o mercado. Quando o BC emite novos títulos de dívida (sinais), há uma forte pressão para a redução dos juros. 

Em resumo, o mercado financeiro não precisa temer os velhinhos. Mas é bom que se acostumem com a ideia de que, em algum momento no futuro, o BC tomará vergonha na cara e adotará uma política de juros decente, alinhada com a norte-americana e a européia. Nesse caso, a Previdência funcionará, a exemplo dos países desenvolvidos, como estabilizador automático da economia – ou seja, uma fonte autônoma de consumo contra a recessão.

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