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Paulo Moreira Leite

Colunista e comentarista na TV 247

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Povo enfrenta golpe dentro do golpe

"As mobilizações de protesto que pedem 'Fora Temer, Diretas-Já' mudaram o roteiro do golpe dentro do golpe", escreve Paulo Moreira Leite, articulista do 247; "O plano era promover uma mudança a frio, pelo voto indireto, assegurando a continuidade das reformas na Previdência e na legislação trabalhista que a população rejeita. Mesmo apanhado de surpresa, o povo foi a rua, inconformado de ser deixado para trás numa decisão crucial para seu futuro"; Lembrando que nas fábricas do ABC os trabalhadores estão gravando vídeos onde pedem Diretas-Já, PML escreve que "possivelmente por ignorar o grau de descontentamento dos brasileiros contra o governo Temer, a cúpula que manda no país desde a derrubada de Dilma imaginou uma saída em seu clube fechado e exclusivo, que a população não aceita" 

Fora Temer (Foto: Paulo Moreira Leite)
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Três dias depois que a TV Globo deu a impressão de que seria capaz de  derrubar o presidente da República com uma simples denúncia no Jornal Nacional, a excitação na cúpula da pirâmide que manda no país desde o golpe de maio-agosto parece ter diminuído.

Verdade que, marcados para este domingo, os protestos "Fora Temer, Diretas-Já", irão retomar a luta necessária em defesa da democracia, no combate a reforma trabalhista e pela defesa da Previdência.

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 A novidade não se encontra na base da sociedade, cuja mobilização contra Michel Temer e seu governo avança num crescendo desde o carnaval,  atingindo seu ápice na greve geral de 28 de abril. A mudança ocorreu na cúpula.

 Em 72 horas, o ambiente de apocalipse -- a palavra favorita era tsunami -- foi substituído por uma postura de calmaria, dúvida e ponderação. As especulações em torno de possíveis sucessores de Temer também silenciaram.    

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Uma explicação é que os diálogos gravados por Joesley Batista não produziram a bala de prata que, supunha-se, deveria fulminar o presidente.

Falso. Mesmo reconhecendo que o Jornal Nacional não foi capaz de entregar um golpe de misericórdia contra Temer, apresentou diálogos comprometedores, que denunciam uma postura de conivência com esquemas vergonhosos de corrupção no governo. Coisa mais do que suficiente para justificar -- como ocorre -- uma investigação sobre três crimes, de corrupção passiva, obstrução da Justiça e participação em organização criminosa. Denúncias graves, em qualquer lugar. Particularmente sérias quando se recorda que Dilma Rousseff foi afastada por uma manobra contábil, as "pedaladas fiscais," que sequer são classificadas como crime de responsabilidade que a Constituição exige para o afastamento de quem ocupa a presidência da República.

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A explicação real é outra e não se encontra num possível tropeço do jornalismo da TV Globo, mas numa questão política maior.

Imaginada como uma operação política de emergência, quando chefes de governo são destituídos com tanta rapidez que a população só consegue saber o que aconteceu no dia seguinte, quando nada mais pode ser feito, os articuladores da queda de Temer se esqueceram do essencial -- combinar com o povo, o mesmo que estará nas ruas amanhã neste domingo e parece não sossegar há algum tempo.  

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Explica-se. Uma mudança  desse tipo, às costas do eleitor, só pode dar certo quando se limita aos salões exclusivos do poder. Essa situação, que exige controle absoluto de cada movimento e de cada personagem da cena política, permite uma troca de guarda sem atropelos nem inconveniências.

 Possivelmente por ignorar o grau de descontentamento real  dos brasileiros contra o governo Temer, a operação começou  a dar errado em poucos minutos.

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 Na própria noite de quarta-feira, antes do tradicional "Boa Noite" dos apresentadores do Jornal Nacional,  já  era possível ouvir os primeiros gritos de "Fora Temer" nas grandes cidades do país inteiro. Logo, também se ouviria o batuque de panelas nas janelas dos edifícios.

 Na avenida Paulista, um ato público do Povo Sem Medo, liderado por Guilherme Boulos, logo seria engrossado por militantes ligados à Central de Movimentos Populares, da CUT, do Partido dos Trabalhadores, do PSOL e do PSTU.

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Outros protestos se espalharam pela madrugada e também pelos dias seguintes, demonstrando uma situação clássica das grandes crises políticas que podem gerar mudanças ainda maiores. Ao descobrir um sinal de ruptura nas cúpulas, o movimento popular aproveita o espaço para expressar sua insatisfação, levantar seus direitos e reivindicações. Não só exigiu diretas-já mas também deixou clara a disposição de lutar na rua contra reformas que ameaçam seus direitos e o futuro de suas famílias.

Em grandes montadoras  do ABC paulista, referência de resistência operária desde os tempos da ditadura militar, operários gravaram vídeos onde gritam "Fora Temer, Diretas-já!"

Para quem esperava responder à queda de Michel Temer -- vista como inevitável -- numa sucessão fechada, entre sócios do clube  da elite brasileira, ocorreu o pior cenário possível.

Mesmo apanhado de supresa, o povo foi à rua, inconformado em ser deixado para trás numa decisão que diz respeito a sua existência, seu futuro e  sua soberania.

Aliados de primeira hora do golpe que derrubou Dilma, como Ronaldo Caiado, pularam do barco e engrossam o coro pelas diretas-já.

Foi assim que o golpe dentro do golpe transformou-se em fiasco. Na origem, o movimento tinha dois objetivos conectados. Um deles, trocar de presidente.  O outro, escolher o sucessor por via indireta, atalho para preservar o plano de  reformas que prevê duas décadas de austeridade, corte nos programas sociais e desnacionalização em toda linha.A reação popular, mesmo embrionária, em alguns casos simbólica, mostrou que até se poderia derrubar Temer -- mas seria impossível adivinhar o que viria a seguir.

Foi assim -- e não porque haja convicção quanto a sua inocência -- que o próprio Michel Temer foi duas vezes a TV no prazo de 24 horas. Na primeira, defendeu-se. Na segunda, atacou. Mas foi um esforço inútil. Ao examinar um habeas corpus em que Temer pedia o trancamento das investigações que podem produzir sua ruína, o ministro do STF, Luiz Roberto Barroso, rejeitou o pedido.  "Não enxergo nenhuma ilegalidade flagrante ou abuso de poder que autorize a concessão do pedido," escreveu Barroso.

     

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