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Valéria Dallegrave

Jornalista, escritora e dramaturga

35 artigos

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Pra não dizer que não falei de flores...

Evitar falar que está morrendo sim, muita gente, é compactuar com a “estratégia” do desgoverno de deixar as pessoas saírem às ruas como se tudo estivesse normal

Cemitério Vila Formosa, em São Paulo 13/05/2020 (Foto: REUTERS/Amanda Perobelli)
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Em grupo criado para informações sobre COVID19, um dia depois de alguém postar um tal “quadro da vida” (evidente material de marketing bolsonarista), em que constava a quantidade de contaminados e de já curados, sem citar os mortos, "porque não dá mais para aguentar falarem só de mortos, né", surgem novas postagens:

Uma delas conta sobre o falecimento da avó de um amigo, em cuja certidão de óbito o médico colocou "por coronavírus", mesmo com resultado negativo do exame. O médico teria justificado o fato "por indicação de políticos". A pessoa que faz a postagem diz que já ouviu falar de diversos outros casos iguais, o que a leva a conclusão de que não podemos ter certeza de quantos estão realmente morrendo da doença no Brasil. Portanto, diz ela, deveríamos deixar de falar nas mortes e das possíveis segunda e terceira ondas (a OMS diz que serão mais mortais). Defende que se foque no positivo, para "não atrair mais desgraça com pensamentos negativos".

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Outra postagem é de uma pessoa que diz ter estado três dias com sintomas de gripe, mas não ter ido ao Posto de Saúde por ter certeza de que lhe diriam que estava com coronavírus, "porque tudo hoje é coronavírus", e a mandariam não sair na rua, "que absurdo"!

O quadro é este: mais da metade da população se informa com fake news, que negam ou relativizam a quantidade de mortos e, de quebra, veem imagens na TV em que o imbecil na presidência sai às ruas em meio a grandes concentrações de pessoas, sem máscara, usando-as para limpar o ranho, se lhe der na veneta. Há ainda os que, cansados de ouvir falar em morte (nenhuma deve ter sido na sua família), preferem falar de flores e outras coisas alegres... o que encaixa muito bem para quem não acredita na existência do vírus e pode continuar se alienando sem dor.

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Se é possível que algum óbito seja dado como COVID19 sem que seja real (primeiro há que relativizar a falta de segurança dos exames, que precisam ser feitos em determinado dia do contágio, ou dão resultado negativo, mesmo sendo positivo), há muito mais gente morrendo de coronavírus sem que isso seja detectado, pois é público e notório que o Brasil é um dos países que menos aplica testes.

Contribui com o quadro de TRAGÉDIA ANUNCIADA a forma como vemos o sistema de saúde e a própria medicina. Nossa medicina nunca foi PREVENTIVA. As pessoas têm dificuldade de compreender que lhes está sendo pedido para ficar em casa para que não adoeçam, ou piorem, e não contaminem ou sejam contaminadas pelo COVID19. Nossa medicina é o recurso que nos acostumamos a usar quando se está mal, para buscar uma pílula ou uma cirurgia. Em Cuba, por exemplo, eles trabalham muito com prevenção, até porque, com o bloqueio comercial promovido pelos EUA, lhes falta muitos medicamentos e equipamentos necessários.

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Hoje, PREVENIR É MANTER-SE COM SAÚDE PARA NÃO NECESSITAR DE REMÉDIOS, INTERNAÇÃO E ENTUBAMENTO, e não correr risco de morte.

Evitar falar que ESTÁ MORRENDO SIM, MUITA GENTE, é compactuar com a “estratégia” do desgoverno de deixar as pessoas saírem às ruas como se tudo estivesse normal. Muitos se informam apenas por whatsapp, até porque não acreditam mais em nenhum jornal. Para estes, os que se preocupam com as mortes e seguem na quarentena “acreditam em tudo que veem na tv” (já me disseram isso). A tragédia está montada. A gente até tenta esclarecer as pessoas, mas elas preferem a mentira bonita de que tudo continua igual. E saem às ruas, expondo a si, e a todos, ao vírus, que mata! Muitos vão morrer, e não vai ter ninguém para colocar flores no seu túmulo. Eu lamento.

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