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Carlos Carvalho

Doutor em Linguística Aplicada e professor na Universidade Estadual do Ceará - UECE.

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Presépios

O Natal chegou. Está aí. O presépio se move. Até quando não haverá vaga na hospedaria que mantemos?

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Nas casas das muitas pessoas que conhecemos há sempre um presépio (Do lat. praesepiu: curral, estábulo) adormecido no fundo de uma caixa ou gaveta, que sai à luz somente no final de novembro ao início de dezembro. Há, por outro lado, aquelas famílias que mantém o presépio montado o ano inteiro. Neste caso, são aqueles em tamanho pequeno, que se misturam às demais imagens que ocupam uma mesa de cabeceira, um oratório ou algo assim. No Evangelho de Lucas (LC 2,7), lê-se: “... e ela deu à luz o seu filho primogênito, enfaixou-o e o deitou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria”.

 Diz-se que São Francisco de Assis teria sido o responsável por montar o primeiro presépio da história, numa tentativa de mostrar como fora o nascimento de Jesus. O presépio teria sido montado em Greccio, Itália, por volta do ano de 1223, tornando-se tradição cristã a partir do século XVIII. Assim, do século XVIII até hoje, nos dias que antecedem o Natal, o presépio torna-se parte da paisagem das casas e cidades. E não é que naquele shopping perto de você há um lindo presépio, com Maria, José, um Jesus branquinho feito leite, os animaizinhos, luzes piscando e bastante propaganda dos produtos disponíveis nas lojas! Como não fazer uma selfie, e postar nas redes, no grupo da família, não é mesmo? 

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A citação do evangelista diz que “não havia vaga para eles na hospedaria”. Será que não havia mesmo? E pensamos: enquanto Jesus cata comida no caminhão do lixo ou sobrevive de restos de frango, peixe ou osso; outro Jesus é exposto nos shoppings, lugares nos quais, dificilmente, como naquela hospedaria, a família de Jesus seria autorizada a entrar e, não nos custa imaginar que, se insistisse, José poderia ser espancado, asfixiado ou morto pelos seguranças. Natal também é tempo de reflexão!

A história registra que o primeiro presépio montado no Brasil teria sido obra de Gaspar de Santo Agostinho, em Olinda, Pernambuco, ainda no século XVII. Desde as montagens do primeiro presépio, normalizou-se que o presépio é algo imóvel, estático. A crueza da realidade, no entanto, mostra exatamente o contrário. Vemos o presépio ali, paradinho, “e pur si muove”! E se move na Praça da Sé, de São Paulo. Move-se sob os olhos lassos do padre Júlio Lancellotti. Movimenta-se sob pontes e viadutos, por entre as ruas e os becos de cidades como Fortaleza, Paris, Londres e Mogadíscio, por exemplo. Move-se de Norte a Sul, de Leste a Oeste, nas cidades e no interior. Seja onde for, dia e noite, o presépio se move. 

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O presépio também se move sob os bombardeios na Síria, e perguntamos: Quantos Gesù Bambinos não são mortos todos os dias, uma vez que a hospedaria-mundo nunca tem vaga para eles? As caixas de papelão, onde se lê “frágil” são presépios, mas também são casas e estão em todos os lugares a olhos vistos, mas fingimos não as ver pois estamos, como sempre, apressados. Os presépios lotam os barcos que tentam atravessar o Mediterrâneo. Quantos deles já foram postos a pique, e nós nem nos importamos? Quantos meninos Jesus já foram engolidos pelo mar da indiferença, da intolerância e da barbárie? 

Quantos meninos e meninas, nascidos nas manjedouras da nossa nação, ainda terão que morrer, enquanto até mesmo uma vacina que pode lhes salvar a vida é negada pelos Herodes contemporâneos, com seus ternos e jalecos manchados de sangue? O Natal chegou. Está aí. O presépio se move. Até quando não haverá vaga na hospedaria que mantemos? 

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