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Jean Menezes de Aguiar

Advogado, professor da pós-graduação da FGV, jornalista e músico profissional

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Prisão de ativistas – o Estado deve explicações

Nenhuma violência se justifica, mas sempre a violência estatal será pior, porque a polícia recebe salários do povo para jamais ser violenta e criminosa

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Quando um tema suscita muitas opiniões extremadas e ao mesmo tempo antagônicas é difícil achar a razão, o ponto de equilíbrio, o meio. A recente prisão de 19 ativistas no Rio de Janeiro parece ser um caso assim.

Faz lembrar a famosa frase de Nietzsche sobre o positivismo. Quando os positivistas insistiam 'Há apenas fatos', o filósofo ensinava: 'Ao contrário, fatos é o que não há, há apenas interpretações.' Sublime.

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O ativismo social recente, desde o junho-2013, passou por algumas fases. Primeiramente todo mundo foi para a rua, famílias, crianças, sem problema. Depois apareceram Black blocs e muita gente saiu em defesa do movimento que apenas tinha por particularidade ser mascarado. Nenhum problema. O que parecia estar em jogo era apenas a liberdade de expressão. Num terceiro momento vieram depredações, incêndios, ataques, agressões físicas e morte. Por fim, difundiu-se a ideia de que os mascarados haviam até se juntado à bandidagem do Pcc.

Uma coisa é certa: a paisagem urbana foi terrivelmente detonada, incendiada, agredida e ameaçada por 'manifestações'. A rigor aquilo não era manifestação, mas típica violência urbana. As cenas não mentem. Mas não para aí.

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Santiago Andrade, cinegrafista da Band morreu em 10.2.14, quatro dias após ser atingido na cabeça por um rojão arremessado durante um protesto no Rio de Janeiro. Paradoxalmente, sua esposa e agora viúva é Assessora de imprensa da PM-RJ. A Band fez um vídeo em que se destaca o depoimento de um dos repórteres da casa falando da ação de grupos de manifestantes que diziam querer mudar o mundo. "Conseguiram", enfatizou. "O mundo ficou bem pior sem Santiago Ilídio Andrade".

No plano político a imprensa, sempre defensora de causas sociais e manifestações populares passou a ser sistematicamente agredida – também por manifestantes. Jornalistas precisaram de capacete e máscara. Passou a existir um cenário de guerrilha urbana. A Abraji – Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo divulgou um manual de sobrevivência para profissionais que atuam em manifestações.

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Ou seja, tecnicamente, juridicamente, manifestantes praticaram, sim, violência. Crimes, depredações, agressões e toda sorte de distúrbios.

A reação da polícia também variou. No primeiro momento, por exemplo, a PM-SP foi totalmente agressiva, após o incentivo do governador dizendo ser 'vândalos' os manifestantes. Depois, passou a ser intencionalmente leniente e omissa. Num terceiro momento conseguiu equilibrar um comportamento razoavelmente profissional no sentido de proteger a massa de bem, e reprimir agressores.

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Estima-se que alguma atividade de 'inteligência' policial tenha entrado em cena, neste mais de ano de ativismo social. Mas paralelamente a isso, tanto em São Paulo quanto no Rio, invariavelmente, a atividade da polícia de contenção, a PM, mantém-se com grau elevado de repressão e também violência.

Nenhuma violência se justifica, mas sempre a violência estatal será pior, porque a polícia recebe salários do povo para jamais ser violenta e criminosa.

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Uma divisão importante precisa ser feita: o que é manifestação e o que é crime. Não é tudo a mesma coisa, não! Manifestação é gritar, berrar, passear, andar em aglomeração, exigir, criticar, fantasiar-se, mascarar-se e tudo e qualquer coisa que não invada o conceito técnico e jurídico de 'crime'. Ou que não invada o conceito civil de 'dano'.

Já crime é destruir patrimônio, incendiar, associar-se para atos juridicamente criminosos. Se o conceito de manifestação é totalmente aberto e residual – será tudo e qualquer coisa que se quiser, desde que não importe em ato criminoso ou dano civil -, o conceito de crime é estrito, fechado, típico e não admite interpretações extensivas.

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Ainda, um típico ato criminoso não 'deixa' de ser crime apenas porque 'inserido' numa manifestação, numa atividade social. Se o ato em si estiver previsto no Código Penal, não adiantam alegações 'pops' de que ele era 'protesto social'.

Por exemplo, o gravíssimo crime de incêndio. O Código Penal, artigo 250 reza: 'Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem: Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.' Se alguém provocar incêndio com exposição de outrem a perigo, é crime.

Não adiantar 'alegar' que era 'manifestação social', passeata. Que aquilo era uma atividade 'democrática'. Crime não deixa de ser crime pela alegação de 'democracia'.

A prisão dos 19 ativistas no Rio de Janeiro deve ser muito explicada à população. Isto é dever do Estado. Por quê? Porque o Estado brasileiro tem dois vícios antropológicos: desonestidade e truculência.

Se a polícia/justiça têm provas jurídicas de atos tecnicamente criminosos dos ativistas devem expô-las à sociedade. Deve o Judiciário tornar o processo totalmente público, o que é inclusive a regra constitucional.

Se a prisão tiver sido política, ou seja, desfundamentada, truculenta e não apoiada em provas técnicas de crimes, todos estão em xeque: desde delegado até juiz, passando por promotor. Será um escândalo. Necessárias representações nas corregedorias e conselhos nacionais contra o abuso.

Importantes organismos como OAB e Imprensa têm cobrado transparência deste processo judicial, sem resposta. O Estado, pago pela sociedade, não pode dar de ombros a essas cobranças. A sociedade, historicamente vitimada por crimes cotidianos por deficiência do Estado, não passa a mão na cabeça de criminosos. Se há criminosos entre os ativistas, que sejam exemplarmente mostrados, com provas, à exigência social.

A sociedade exige respostas. E vai cobrar.

Publicado no blog Observatório Geral

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