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Alex Solnik

Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos"

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Propina astronômica a deputado indicado por Temer é a pior parte do grampo

(Foto: Alex Solnik)
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Embora a qualidade da gravação de Joesley Batista com Temer seja péssima e contenha trechos inaudíveis (na próxima vez deveria escolher um aparelho mais potente) não há como não concluir que o dono do maior frigorífico do mundo tinha uma relação íntima e pouco republicana com Temer e seus principais colaboradores, investigados pela Lava Jato, como Geddel Vieira Lima e Eliseu Padilha e com o ministro da Fazenda Henrique Meirelles a quem trata de “Henrique” e foi presidente de seu banco, o Original.

  Também não há dúvida que Temer concorda com a informação de Joesley de que estaria “zerando a pendência com Cunha todo mês”.

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   “Mantenha isso, viu” ou “tem que manter isso, viu” diz Temer.

   Quando Joesley diz que está fazendo claros movimentos de obstrução de Justiça, nos processos a que responde, tentando trocar procurador que o processa e recebendo informações de um integrante da “força tarefa”, Temer não o repreende na hora e nem comunica o crime aos órgãos competentes no dia seguinte.

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   Só a Folha e Temer e seus áulicos acharam o diálogo “inconclusivo”.

   Joesley também revela que graças às boas relações com a Globo conseguiu barrar matérias negativas a respeito da JBS na emissora.

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  Depreende-se que Joesley e Temer são amigos de longa data, como indica esse trecho:  

Joesley: Não te vi desde quando você assumiu. A última vez foi dez dias antes, no teu escritório, quando estava naquela briga... é golpe e tal... naquela guerra toda. De lá pra cá eu vinha falando com o Geddel. Enfim....também não deu oportunidade...

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Temer: Deu aquele problema...

Joesley: Foi uma bobagem..

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Temer: Foi uma bobagem. Sem consequência nenhuma. Fizeram um carnaval danado...

   Aí já aparece a primeira intervenção comprometedora de Temer: ele considera “uma bobagem” Geddel ter pressionado o então ministro da Cultura para interferir a seu favor na questão de um condomínio em Salvador e que resultou na sua demissão do governo.

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   A seguir, Joesley se coloca à disposição de Temer - “o que o senhor precisar de mim, me fala” – e o presidente não faz uma reprimenda do tipo “eu sou o presidente da República, não há o que eu possa precisar de você”, ao contrário, dá a entender que poderá precisar de sua ajuda mais adiante:

Joesley: Mas eu vinha falando com o Geddel, tudo bem...andei falando algumas vezes com o Padilha também... agora ele adoeceu. Enfim, aí eu fiquei meio... falei: deixa eu ir lá pra dar uma...primeiro, dizer o seguinte: tamo junto aí...o que o senhor precisar de mim, me fala...

Temer: Espera passar...

   Joesley entra de cara no assunto Eduardo Cunha:

Eu queria sentir um pouco. Como é que está a sua situação com o Eduardo?

O Eduardo resolveu me fustigar...você viu que...

E como está a relação?

O Moro indeferiu 21 perguntas dele que não tinham nada a ver com a defesa dele...

   Joesley cita uma “pendência” cobrada por Cunha que vinha resolvendo com a ajuda de Geddel, e que estaria honrando “todo mês”, em razão de Cunha ameaçar citar o nome da JBS numa possível delação. Em vez de repreender Joesley por pagar propina a um ex-deputado preso por corrupção, outro crime, Temer o estimula a continuar com isso:

Joesley: Eu, queria falar... dentro do possível,,, fiz o máximo que deu ali...zerei tudo... o que tinha de alguma pendência, zerou, pronto...e ele  foi lá, em cima, veio, cobrou. Bom, acelerei o passo e tirei da frente.  O Geddel andava sempre ali. Agora ele virou investigado, eu não posso encontrar ele. O negócio dos vazamentos... o telefone lá do...estava meio que tangenciando, não sei que. Eu tô lá me defendendo. Tô de bem com Eduardo.

Mantenha isso, viu...

Todo mês... eu tô segurando as pontas... tô indo...meus processos... eu tô meio enrolado aqui...

   Joesley revela a Temer estar tentando trocar o procurador do seu caso e ter plantado um homem dentro da força tarefa que o investiga, o que não provoca nenhuma reação de Temer do tipo “Joesley, isso é crime, você não pode fazer isso”:

Joesley: Eu não tenho ainda denúncia...aqui eu dei conta de um lado... dá uma costurada, de outro lado o juiz substituto, os dois, eu consegui... dentro da força tarefa também tá me dando informação...e eu tô pra dar conta de trocar o procurador... se eu der conta, tem um lado bom e um lado ruim. O lado bom é que dá uma esfriada até o outro chegar e tal...o lado ruim é que se vem um cara com raiva...o principal é que... quem está me investigando se conseguir colar um... agora, eu tô querendo trocar... então tá meio assim... essa semana eu fiquei preocupado porque saiu um burburinho que iam trocar ele...eu tô me defendendo e procurando dos dois lados...quando o Geddel tava aqui... aquele negócio da anistia... quase não deu...eu estive até com o presidente Lula, na época...

   Joesley conta como conseguiu barrar reportagens negativas na Globo:

Joesley: Eu não sei quanto o senhor tá ao par...é uma brutalidade... falou que o Funaro falou não sei que... me rendeu um Jornal Nacional... um Fantástico... como eu tenho boa relação com a empresa consegui parar. Foi um dia, dois, pronto; parou.

   O dono da JBS se queixa de não ser atendido pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles e quer “alguma sintonia” com o presidente:

Joesley: Eu queria falar contigo qual é a melhor maneira... Geddel... porque eu não vou lhe incomodar...se for alguma coisa que eu precisar... se for assunto desse tipo aí... um dia eu falei assim: Henrique, tem que mexer na Receita Federal, porra. “Ih, não posso mexer”. Eu queria ter alguma sintonia contigo para quando eu falar com ele ele não jogar “ah, não, o presidente não deixa”. O presidente do Cade ia mudar, ou já mudou. Já mudou. Eu também não sei se é hora de mexer. Eu trabalhei com ele quatro anos. Se for mais firme. Eu queria te dar um toque em relação a isso. Eu posso bancar e dizer assim: qualquer coisa, eu falo com ele? Esse presidente do Cade... seria importantíssimo...

Pode fazer...

Eu queria ter esse alinhamento pra não ficar... pra ele perceber que nós...pra dizer o seguinte: pelo menos consulta ele... aquela operação do BNDES o Geddel me falou, que teve todo o empenho...Geddel você tem visto ele?

Falei hoje por telefone.

Casa que falta pão falta união, não é assim? Não tem remédio melhor que as coisas bem. Puta que o pariu! É duro presidente, pelo seguinte não temos só isso... tem a empresa... tem o concorrente... tem os Estados Unidos... tem o dia... a empresa... e eu tô por conta de resolver coisas   que eu falo pro procurador: o senhor quer me investigar, não tem problema, mas não fica dando solavanco não. Fazendo medidas... divulgando pra imprensa...eu posso estar certinho, mas vou chegar lá morto... o solavanco que o senhor vai me dar, se eu estiver 100% certo eu vou quebrar. Eu disse “me denuncia”. “Mas não tenho nada pra te denunciar”. “Então inventa. Me denuncia. Se ficar no solavanco vai me quebrar”. Puta que pariu! Eu sei que é o seguinte... mas, tudo bem... Um que delata um... que delata outro...o seguinte... eu até perdoo... eu tenho uns quatro ou cinco... do Sergio Machado... eu vi o vídeo... “fala da JBS”! “Não tenho nada da JBS”. “Então, vai preso”.

O Sergio Machado?

Sim.

   Mais adiante – em outro trecho mal gravado, com muito ruído - Joesley diz que precisa resolver algumas questões relativas à sua empresa em órgãos do governo e Temer indica o deputado Rocha Loures, um de seus homens de confiança.

   Dias depois, o deputado foi filmado recebendo uma mala com 500 mil reais da JBS pela Polícia Federal, que só não o prendeu em flagrante porque era uma “ação controlada”.

   O pagamento era uma pequena parcela de uma quantia astronômica que, de acordo com o que foi divulgado chegaria a 470 milhões de reais, o que dá uma ideia da importância do problema que o deputado resolveu e levanta algumas questões relevantes: que poder teria um deputado suplente para ser bem-sucedido numa tarefa dessa relevância? Toda essa dinheirama iria só para ele? Por que a PF não rastreou o dinheiro como fez com o emissário de Aécio? Ou o rastreou, mas a informação ainda não foi divulgada?

   A estratégia de Temer é forçar Rocha Loures a assumir o crime sozinho. Mas quem vai acreditar?

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