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Juan Manuel Dominguez

Juan Manuel Dominguez é jornalista

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Protestos antifascistas poderiam sofrer infiltração bolsonarista

Colabore com a organização e a paz da marcha. É muito importante que a frente democrática cresça no coração de toda a população brasileira

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“Históricamente, a tarefa estratégica da polícia para dissuadir protestos ”incômodos” ao governo de turno é a de infiltrar agentes  treinados para provocar confusão e desse modo justificar a repressão. Essa tática já foi denunciada nas recentes manifestações no Chile, nos protestos de 2019 na Colômbia, nos protestos de 2013 aqui no Brasil, e recentemente alguns vídeos mostram agentes da polícia nos Estados Unidos sendo flagrados, disfarçados, entre os manifestantes. Se suspeita que os incêndios em prédios e outros distúrbios ocasionados nos EUA, teriam sido iniciados por eles, como uma forma de enfraquecer o apoio da opinião pública em relação à ocupação das ruas. Desde semana passada, o governo Bolsonaro tem tentado demonizar os movimentos antifascistas que cada dia cobram mais força no Brasil. Deputados alinhados com o governo levam adiante um projeto de lei para tentar tipificar os “antifas” como terroristas. Criminalizar os protestos é tudo o que o governo precisaria para diminuir sua força. É preciso então identificar pessoas estranhas, que podem estar participando das marchas com o único propósito de corromper a natureza fundamental delas, que é produzir a mudança institucional urgente que o país precisa para sair da calamidade política, social e cultural em que se encontra.”   

Na segunda-feira 1º de junho de 2020, o deputado bolsonarista Daniel Silvera (PSL-SP), conhecido por vandalizar uma placa em homenagem a Marielle Franco, protocolou um projeto de lei (PL) pedindo para que os grupos antifascistas que vem se manifestando nos domingos sejam classificados como terroristas, e enquadrados na lei antiterrorismo. O parlamentar ainda usou as redes sociais para ameaçar os participantes dessas marchas, e advertiu que há muitos policiais armados participando de atos em defesa do governo, e diz torcer para que um dos opositores tome um tiro "no meio da caixa do peito". "Até que vocês vão pegar um polícia [sic] zangado no meio da multidão, vão tomar um no meio da caixa do peito, e vão chamar a gente de truculento", afirmou.

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O presidente Bolsonaro, logo disse que é preciso haver uma "retaguarda jurídica" para que policiais possam atuar em manifestações. "Nós precisamos de uma retaguarda jurídica para que nossos policiais possam bem trabalhar em se apresentando crescente esse tipo de movimento [como Antifa], que não tem nada a ver com democracia", disse. Para ele e para quem o apoia, nada seria mais conveniente que uma opinião generalizada a favor da repressão policial. O bolsonarismo já vai semeando a ideia de que essas marchas tem uma índole “terrorista”, “subversiva”, desviando o foco de atenção da essência desses protestos e suas reivindicações.  
Recentemente Chile foi (e continua sendo) cenário de uma série de marchas, e mobilizações organizadas de forma espontánea por diversos grupos de cidadãos para denunciar a desigualdade e os diferentes abusos do governo de Sebastián Piñera e do modelo neoliberal. Durantes os primeiros dias, as marchas foram multitudinários (tanto que chamaram atenção internacional) e pacíficas. Porém, o governo de Piñera não vacilou em enviar tropas de carabineiros a reprimir ferozmente com balas de borracha, deixando mais de 200 pessoas seriamente feridas nos olhos, algumas delas perdendo parcial ou totalmente a visão.

Segundo algumas testemunhas, as primeiras confusões foram provocadas por agentes de carabineros infiltrados, que instigaram a participantes desinformados a acompanhá-los a realizar atos de vandalismo. Assim, Carabineros teve o argumento suficiente para iniciar uma brutal repressão que durante meses ocupou as telas dos jornais do mundo inteiro.

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Em novembro de 2019, iniciaram-se na Colômbia uma série de protestos chamados “Paro Nacional”. As marchas tomaram notoriedade pública a causa da feroz repressão policial do governo neoliberal de Iván Duque. A repressão tinha sido justificada pelo governo a causa dos atos vandálicos contra alguns prédios no centro de Bogotá. Logo, grupos estudantis que participaram dos protestos isolaram e conseguiram capturar alguns homens que resultaram ser policiais disfarçados de civis, flagrados quando realizavam atos de vandalismo com o fim de violentar uma marcha que a priori se apresentava como pacífica e ordenada.

"A Comunidade capturou os homens encapuzados que atearam fogo ao prédio do Icetex (uma instituição colombiana que promove a educação através de créditos aos estudantes), eles resultaram ser policiais disfarçados. Urgente, Isso não será mostrado pelos jornais! compartilhe antes de excluí-lo”, disse Germán Navas Talero, representante do grupo estudiantil.

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Nos EUA, os protestos que reclamam justiça pelo assassinato do cidadão afro americano  George Floyd, começaram de forma pacífica como ajoelhadas e caminhadas nos centros urbanos e grandes cidades. Após os primeiros atos vandálicos, as próprias pessoas que participaram das marchas denunciaram que quem origina essas confusões possivelmente sejam membros de grupos supremacistas brancos (para criminalizar o protesto diante dos olhos do público norte americano) ou até policiais (perseguindo o mesmo fim).  Sobre os supremacistas brancos, Ruth Ben-Ghiat, professora de história da Universidade de Nova York, disse ao Global News do Canadá: “São grupos afiliados aos ideais da "supremacia da raça branca", oponentes da migração e defensores de posições radicais de extrema-direita. Se presume que eles estão filiados a organizações neonazistas e outros grupos mais locais, como o Ku Klux Klan”, disse. E continua “Não existem provas de que grupos antifas ou grupos anarquistas tenham iniciado os atos de violência, porém, existem sim provas que indicam a presença de grupos de extrema direita e de policiais que se confundem com a massa que protesta para provocar baderna”.

No próprio Brasil, o site de notícias UOL publicou em 2019 uma matéria na qual se afirma da existência de relatórios secretos da PM que falam que agentes da segurança pública tinham como tática se infiltrar nas reuniões dos movimentos sociais que participavam das marchas, com o propósito de identificar os líderes. Vários policiais foram logo flagrados por testemunhas produzindo distúrbios. Os policiais se camuflaram nos grupos “Black Blocks”, com o intuito de acusar os líderes sociais de serem autores dos distúrbios, para assim apressá-los e tirá-los do comando e deixar o movimentos acéfalo.

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No dia 22 de julho de 2013, PMs prenderam o jovem Bruno Ferreira Teles, acusando-o de lançar coquetéis molotov contra a tropa e de portar outros explosivos durante protestos ocorridos no dia do professor no Palácio Guanabara. Investigações posteriores demonstraram que foram integrantes das forças de segurança os que iniciaram os atos violentos  que desencadearam na repressão posterior.

O padrão de ação é o seguinte. O policial se “disfarça” de manifestante, pelo geral utilizando roupas esportivas e carregando uma mochila nas costas. O agente se aproxima daqueles que considera mais jovens, mais influenciáveis, ou que parecem mais agitados e predispostos a cometer uma ação violenta. Então, o policial começa a falar com eles, encorajando-os a cometer algum ato vandálico. Por isso, é muito importante que quem estiver nas manifestações próximas fique atento à intrusão de desconhecidos que têm atitudes esquisitas e que se aproximam das pessoas com o único fim de provocar caos. Pelo geral são infiltrados da polícia ou de algum outro grupo com interesse de desacreditar o protesto.

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Os dias atuais talvez sejam os mais favoráveis que já tiveram os setores que defendem a democracia no Brasil desde que o Bolsonaro chegou à presidência. A total falta de humanidade com que o governo federal vem tratando a pandemia do Coronavírus, os escândalos por corrupção, fake news, alianças com o centrão. Tudo isso foi isolando cada dia mais o bolsonarismo ao círculo dos mais extremistas e fanatizados. O grosso da população brasileira não suporta mais o total despreparo do presidente e os excessos repudiáveis dos seus aliados. É um momento crucial para o povo brasileiro mostrar a si mesmo que é um povo pacífico, solidário, que ama seus conterrâneos e que se preocupa com sua saúde, independentemente de idade, raça o ou gênero. Participar de manifestações no médio a uma pandemia não é algo que ninguém poderia recomendar como um posicionamento certo. Porém, a frustração, a impotência e a irritação de uma sociedade que foi abandonada à própria sorte, e que vê seus governantes zombando da morte dos seus compatriotas e da ciência que poderia salvá-los, chegou aos limites do tolerável.

Não está fácil assistir todo domingo como o presidente e seus seguidores se passeiam festivos num contexto de morte e de desespero geral, rodeados de pancartas que pedem por uma ditadura, pelo envio forçado de trabalhadores aos seus postos de trabalho com riscos de contágio, pelo fim do STF, enfim, pela instauração de um governo autoritário e reacionário. Mais do que nunca, não seria inteligente alimentar os argumentos do bolsonarismo que classificam os manifestantes como simples terroristas. Por isso, se você for participar, tome muito cuidado, cuide dos que estão ao seu redor, tenha seu telefone ligado, identifique às pessoas que não são do seu círculo de conhecidos. Colabore com a organização e a paz da marcha. É muito importante que a frente democrática cresça no coração de toda a população brasileira. Que a palavra democracia recupere seu valor e seu caráter inalienável. Esse é um trabalho de todes, os que decidiram ir e os que no decidiram participar dos próximos atos antifascistas que vão acontecer no país.

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