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Ribamar Fonseca

Jornalista e escritor

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Queiroz pode derrubar Fux e Bolsonaro

Colunista Ribamar Fonseca observa que o recurso apresentado por Flávio Bolsonaro ao STF "só serviu para agravar a situação de todos, inclusive a dele, porque mesmo involuntariamente transferiu a discussão do problema, antes restrito ao Ministério Público do Rio de Janeiro, para  a órbita federal"; "Se Bolsonaro não esclarecer devidamente os fatos envolvendo o velho amigo e companheiro de pescas, hoje considerado laranja da sua família, vai ter de conviver com Queiroz como uma enorme pedra no seu sapato, sempre lembrado todas as vezes em que fizer acusações a Lula e ao PT", escreve o jornalista

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A decisão do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, que suspendeu as investigações sobre as movimentações financeiras de Fabrício Queiroz, ex-motorista e ex-assessor do senador eleito Flavio Bolsonaro, longe de ajudar a família Bolsonaro, como certamente pretendeu o magistrado para agradar o Presidente, só serviu para agravar a situação de todos, inclusive a dele, porque mesmo involuntariamente transferiu a discussão do problema, antes restrito ao Ministério Público do Rio de Janeiro, para a órbita federal. Na verdade, há uma série de detalhes que deixam mal todo mundo, a começar pelo próprio Flávio que, não sendo investigado, ao pedir ao STF a suspensão das investigações pelo MP do Rio, alegando possuir foro privilegiado por sua condição de senador eleito e diplomado, praticamente confessou a sua participação nas ações suspeitas do seu ex-assessor. E poderá passar de testemunha a investigado, dependendo do despacho do ministro Marco Aurélio Mello, designado relator do processo, e da Procuradora Geral da República, Raquel Dodge, que poderá manifestar-se pedindo a ampliação das investigações.

O próprio presidente Bolsonaro, por seu envolvimento através da explicação dada para o cheque de R$ 24 mil de Fabrício recebido pela primeira dama, também poderá vir a ser investigado, o que será péssimo para o seu início de governo. Na verdade, eleito com a bandeira de combate à corrupção, apontando durante a campanha o dedo acusador para o PT, ele tem o dever de dar uma explicação convincente à população, do contrário o chamado “mito” vai desmoronar antes mesmo de mostrar a que veio. E só não correrá o risco de sofrer um impeachment, logo no começo da gestão, porque tudo indica que Rodrigo Maia será reeleito presidente da Câmara e, tal como fez com Michel Temer, engavetará qualquer pedido que lhe chegar às mãos. O ministro Luiz Fux, por sua vez, também poderá ter de enfrentar um pedido de impeachment, porque a sua decisão agora foi uma espécie de gota d'água que fez transbordar o balde de decisões consideradas esdrúxulas, condenadas nos bastidores da Corte Suprema pelos seus próprios colegas e por renomados juristas nacionais. Se tal acontecer, o que parece difícil mas não impossível, ele não assumirá a Presidência da Corte quando expirar o mandato do ministro Dias Toffoli. E abrirá a oportunidade  para Bolsonaro nomear Sérgio Moro para a sua cadeira. A coisa pode ficar feia.

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O fato é que essa novela do Queiroz, suspeita sob todos os ângulos, ainda terá muitos capítulos, com cenário no Rio ou em Brasília, até um desfecho que atenda ao desejo de justiça da população.  Afinal, ninguém, nem mesmo os eleitores do ex-capitão – muito menos os membros do Ministério Público carioca – estão satisfeitos com o desenrolar dos acontecimentos. O não comparecimento do ex-assessor e sua mulher e filhas à convocação do MP para depor, ignorando solenemente aquele órgão, além de significar uma confissão de que existe algo a esconder, deixou mal os procuradores. Nem mesmo a alegação de doença de Queiroz, que teria sido submetido a uma cirurgia no Hospital Alberto Einstein, atenuou a idéia de indiferença às investigações do Ministério Público, que ficou com sua imagem muito desgastada depois da dancinha de deboche do ex-assessor dentro do hospital. Feridos em seu amor próprio, até porque já são acusados de complacentes com o filho e  amigos do novo presidente, os procuradores não pretendem descansar enquanto não concluírem as investigações, mesmo suspensas agora pelo ministro Fux. E poderão ser de grande ajuda para seus colegas federais, caso o processo seja mesmo transferido para a PGR.

Por sua vez, o senador eleito Flávio Bolsonaro também parece querer esconder algo ao não comparecer ao convite para depor, impressão que ficou mais nítida com o seu pedido ao STF de suspensão das investigações do MP do Rio e de foro privilegiado. Se ele quer foro privilegiado é porque se sente culpado e acha que tem direito, como senador,  mas o próprio Supremo já definiu anteriormente que o foro só vale para questões relacionadas com o exercício do mandato. E o caso em foco foi registrado na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, onde ele foi deputado. De qualquer modo, a não ser que ele venha a ser investigado, o foro privilegiado não faz sentido porque Fabricio Queiroz, até agora o único investigado,  não tem direito a esse privilégio. Mas a surpreendente decisão de Fux, criticado até dentro do próprio Supremo, serviu para ampliar a discussão do problema que, ao que parece, já incomoda o Palácio do Planalto. O general Augusto Heleno, por exemplo, ministro da Segurança Interna, tenta afastá-lo do Presidente. Segundo ele, Bolsonaro disse que o problema é do filho e não dele. Por conta disso, aliás, já se percebe entre os militares no governo um movimento para afastar os filhos do Presidente do governo, pois até agora eles tem mais atrapalhado do que ajudado.

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Ainda não se sabe como tudo isso terminará, mas de uma coisa ninguém tem dúvidas: se Bolsonaro não esclarecer devidamente os fatos envolvendo o velho amigo e companheiro de pescas, hoje considerado laranja da sua família, vai ter de conviver com Queiroz como uma enorme pedra no seu sapato, sempre lembrado todas as vezes em que fizer acusações a Lula e ao PT. E o ex-assessor vai contribuir, também, para desmoralizar o Supremo e o Ministério Público, sempre muito eficientes e ligeiros quando tem como alvo o ex-presidente. Vai ficar a impressão de que valeu a pena a ameaça de fechamento da Suprema Corte com “um cabo e um soldado”, pois o seu engajamento ao novo governo se mostra muito claro, sobretudo depois das últimas decisões do seu presidente, ministro Dias Toffoli. O caso também atinge o ministro Sergio Moro que, segundo um cartunista, virou herói miojo: duro até entrar na panela.

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