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Michel Zaidan

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Quem se importa com os mortos?

A morte (de muitas pessoas) tem sido reparada surpreendentemente. Talvez pelo número, quantidade. Sobretudo, em razão da negligência criminosa dos chamados poderes públicos, em tempos de pandemia como o nosso

(Foto: Reuters/Bruno Kelly)
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Há  mais de um ano atrás, quando se amontoavam  em freezers  e nos corredores  os corpos das vítimas da pandemia de Covid-19,  e seus parentes não podiam sequer velar os seus mortos,  foi levantada  a aqui  esta questão: quem  ainda  se importa com os mortos?

Antigamente, a morte era um acontecimento épico na vida das famílias. Cada casa, cada grupo familiar podia dizer que  tinha seu morto em algum  cômodo   ou lugar.  A morte não só  era esperada - como algo natural - mas ela infundia uma  autoridade grande entre as pessoas. Morria-se cercado de parentes, vizinhos , amigos, como conclusão épica de uma grande vida, com suas  lutas, conquistas e realizações. E todos honravam a memória  do falecido. 

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A nossa infeliz  modernidade escondeu a morte. Tem vergonha  ou medo da morte, como se ela não fosse uma decorrência  do ciclo da vida. Não se morre mais  em casa.  Não se morre  mais  em público . Morre-se em lugares apropriados  e reclusos, onde ninguém vê ou assiste. A morte foi apagada da memória social  tornou-se  assunto do cinema  ou dos noticiários  de jornal.  Morrer não é não  chique, elegante ou belo. Morrer é  uma falha. Uma insuficiência  pessoal. Não uma contingência  existencial, como disse  o filósofo. 

A morte (de muitas pessoas) tem sido reparada surpreendentemente. Talvez pelo número, quantidade.  Sobretudo, em razão da negligência criminosa dos  chamados poderes  públicos, em tempos de pandemia como o nosso.   Mas é  bom lembrar que a morte é  acima de tudo uma experiência pessoal. Morre-se sozinho. Apesar da solidariedade dos que ficam. A solidão é a marca da morte, como o sono  e a fome.

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A morte representa um grande problema moral, religioso e filosófico para quem  fica  vivo e se interroga  sobre  o que poderia ter feito para evitá-la ou minorar o sofrimento   dos moribundos. “A morte fala de ti", diz um pensamento  latino.  Nós, os vivos, sempre somos  interpelados  pelos que morrem. Seremos  os próximos? O que fizemos ou deixamos de fazer? - Esta é  a lição   que aprendemos  todo dia  com os que  se vão: os idosos, as crianças, os deficientes físicos,  os desvalidos  ou desassistidos. E não  há  "ortotanásia"  que  nos livre dessa reflexão. 

Aqui, vale o silogismo aristotélico: "todo  homem é  mortal.  Sócrates é   homem. Logo ele é  mortal".

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Afinal, quem  ainda se preocupa com os mortos? Nessa época, do Império do efêmero e das aparências?

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