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Ângelo Cavalcante

Economista, cientista político, doutorando na USP e professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG)

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República Ignorante do Brasil

Dá preguiça dessa estupidez crônica e que leva qualquer almofadinha boboca a espezinhar, ridicularizar e maltratar o nordeste brasileiro e seu povo. Me causa desarranjo quando vejo um bando de cretinos urrando asneiras contra uma gente simples, honesta, simpática e que apenas vive do trabalho

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Dá preguiça dessa estupidez crônica e que leva qualquer almofadinha boboca a espezinhar, ridicularizar e maltratar o nordeste brasileiro e seu povo. Me causa desarranjo quando vejo um bando de cretinos urrando asneiras contra uma gente simples, honesta, simpática e que apenas vive do trabalho. Até parece que o centro-sul do país é um nirvana impecável e de gozo eterno. Juram que vivem em uma realidade edênica livre de contradições e de conflitos. Ora, ora... Façam-me o favor!

E nem me venham com a cantilena abestada de que é por conta da migração nordestina! Nada disso! A ignorância é a principal instituição desse país; é horizonte perseguido cotidianamente; é valor, investimento, mediação societária, moral e perspectiva de futuro.

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Nossas elites jamais nos ensinaram a aceitar diferenças; o outro nunca fora compreendido e por isso mesmo jamais fora aceito. É que compreender é por demais perigoso; não há ensino que não implique em aprendizagem e todo processo de produção de conhecimento envolve inevitavelmente delicadeza, paciência, sutilezas, desprendimento, sensibilidades. Exige doação! E esses itens sequer podem ser cogitados para o trato com essa estranha gente dos sertões do Brasil. Essa é a grande verdade!

É só dar uma olhada na história! É ver a relação do Estado brasileiro historicamente estabelecida, por evidente determinação das suas elites, com indígenas, negros, camponeses, mulheres, trabalhadores da periferia, velhos, crianças, deficientes físicos, homossexuais e estrangeiros, sobretudo, latino-americanos.

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É assustador! Somos um país de genocídios atrozes e repulsivos onde genocidas são convertidos em heróis nacionais com direito a busto em praça pública, feriado com o respectivo nome e comenda conferida anualmente para algum benevolente pelos serviços prestados.

O resultado objetivo dessa construção é que, por exemplo, cinquenta mil jovens negros são assassinados anualmente no Brasil e nem nos tocamos; jovens e crianças indígenas são eliminadas em suas reservas no Mato Grosso do Sul pela mais criminosa e aberrante ação do latifúndio local e fazemos vistas grossas; os bem poucos e resistentes indígenas que restaram tem suas águas envenenadas, suas terras invadidas, suas matas destruídas e queimadas e achamos tudo isso normal. Afinal, para que tanta terra para essa gente? É assim que dizemos!

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Delegacias e presídios do Brasil são espaços de violência, assassinatos e muita tortura mas para nós... "Bandido bom é bandido morto", que "prenda e arrebente" e; se estiver com pena, "leva pra casa". E por aí seguimos... Vamos justificando, nos justificando a barbárie, a matança e nossa estupidez que, por sinal, é peça fundamental para esse tipo de domínio e existência.

As cidades são deformadas pelo inchaço urbano da eterna diáspora interna e que por aqui fora acionada e sem prazo de conclusão; pela pressão demográfica os poucos e parcos serviços públicos são desmantelados em sua qualidade; não há orçamento que dê conta; não há política de governo que assista; aliás, é quadro que não admite governo, rumo ou intervenção a não ser, as clássicas e previsíveis intervenções militares em nome, é claro da "segurança" e da "ordem" pública.

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Nem me espanto mais; ódio por aqui é coisa velha! Não surge com os nordestinos. O que me espanta de verdade é que mesmo diante de nosso retumbante e secular fracasso no desiderato de uma nação justa, equânime e em condições de acolher seus filhos sigamos com os mesmos ranços e sentimentos e que garantem chão e base para a perpetuação do ódio nacional. E isso não tem nada que ver com esse Estado burguês e apropriado por uma elite degenerada feito a nossa mas tem que ver comigo e com você; com a forma como nos comportamos com as necessárias levas de ódio e decisivas para a manutenção desse estado de coisas e que pitorescamente chamamos de país.

Tem que ver com a relação que estabelecemos com as lutas e demandas desta gente que insiste por querer existir, ser e viver. Como nos lembra o poeta Chico Buarque: "esse silêncio todo me atordoa!" e, não duvidem, o silêncio nosso de cada dia é o amalgama que sustenta e faz unidade e integração para todo o nosso universo e que se desmonta sob nossos sentidos.

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E no final, os culpados são os pobres nordestinos? Tenho certeza de que algo não fecha nessa conta! Mas é cada uma...

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