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Roberto Ponciano

Escritor, mestre em Filosofia e Letras, especialista em Economia. Doutorando em Literatura Comparada

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Retomamos a pauta, ou somos atores bufões de uma tragicomédia dirigida por um deus ex-machina?

Uma das coisas que a dialética me ensinou a fazer foi desconfiar

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Uma das coisas que a dialética me ensinou a fazer foi desconfiar. Não se faz filosofia e nem se faz ciência sem doses cavalares de ceticismo. Quando vejo certezas absolutas ou festejos triunfalistas, ou artigos cujo objetivo é que seus atores se auto-festejem, trocando efusivos tapas nas costas teóricos, festejando a certeza absoluta, desconfio. Óbvio que há uma relação entre essência e aparência, mas a aparência de um fenômeno nunca é sua essência, um olhar desdenhoso e pouco aprofundado pode revelar certezas sem nem se dar ao luxo de se analisar o objeto. A verdade absoluta da vez é de que a esquerda “retomou a pauta”, que estava nas mãos do bolsonarismo, nos últimos dias. Quem duvidar disto é porque não tem inteligência suficiente para entender a “grande viragem” que se processou na política brasileira, é que essa nossa nova certeza é o nirvana.

Assim como, faz apenas 15 ou 20 dias, proliferavam os artigos que davam como certo o golpe de Estado. Em geral, eram assinados por analistas ou cientistas políticos geniais e começavam ou terminavam todos com a frase “como havíamos previsto”, agora todos tem esta nova absoluta certeza de que retomamos a pauta. O incrível é que a maioria dos textos que cantam a incrível viragem, nirvana e sucesso da esquerda, em apenas duas semanas, com pequenos atos de rua, são das mesmas pessoas que diziam que o golpe é inevitável. A auto-crítica passou longe. Como ceticismo, desconfiança e análise das complicadas movimentações da estrutura real deixaram de ser uma prática da esquerda, adere-se a nova moda e ai de quem discordar; Gramsci dizia que qualquer análise determinista era impossível, haja vista que os fatores quantitativos e qualitativos viviam em permanente transformação, o que é hoje, já não é 5 minutos depois. Dois sintomas mórbidos desta prática determinista e messiânica: o primeiro, quem discorda é “autoritário e não quer debater ou ouvir” – com se debater ou ouvir fosse concordar –,  levando-se ao festejamento do novo “consenso”, eliminando-se qualquer ruído que pergunte das bases daquelas afirmações; o segundo, não é necessário provar nada, afirmar é provar, então, se todos dizem a mesma coisa, deve ser verdade!

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Afirmar é provar, creem os defensores de narrativas. Isto tem muito que ver com a substituição da dialética da práxis real na qual a prática (a materialidade) sempre é o critério da verdade, por uma pseudodialética do discurso, que denunciando um suposto “neopositivismo”, o que fez foi desaparecer com a realidade. Já consignei a tragédia de no Brasil estar em moda as discussões filosóficas que fizeram sucesso na Europa ou EUA faz 40 anos. Assim, discutimos baseados no “pós estruturalismo” ou na “pós fenomenologia”, sendo muito pós mudernos, sem nem termos visto a crítica à consciência infeliz ou falsidade dos signos linguísticos transformados em realidade objetal. A pós modernidade chegou na nossa discussão e ficou, sem que a crítica dela tivesse chegado, então não temos a pesada crítica a uma nova metafísica do sujeito predicado feita por Adorno, Horckeimer, Lukács e Mészáros, entre outros. Tem gente no Brasil que vive papagaiando Žižek sem o entender, e até acredita que ele é marxista. O resultado é uma ideia de que basta a narrativa. A verdade é um discurso destituído da prática que tem que ser “disputado”. O problema é que esta afirmação gira em falso, porque desaparece só o mundo material e a materialidade da verdade, o signo vira magia sofisticada e reificada pela palavra mitologizada, e como não precisa da mundanidade para se estabelecer, ele é uma verdade que se aceita ou se é alguém tosco que não a compreende. É uma mitificação que funciona exatamente como o conto “A roupa nova do rei”, quem não o enxerga é porque não é inteligente o suficiente para isto. Assim fabricam-se as pós verdades de esquerda, que são tão terraplanistas quanto o creacionismo, só mais sofisticadas e com a rotulagem de ciência. 

Não, a verdade não é uma disputa nem um discurso. Sim, devemos disputar a verdade, sim, devemos incorporá-la a um discurso. Mas a verdade é material, do campo da práxis. Com todo o “avanço da filosofia”, a Tese 2 sobre Feuerbach de Marx e Engels continua de pé: “A questão de saber se ao pensamento humano pertence a verdade objectiva não é uma questão da teoria, mas uma questão prática. É na práxis que o ser humano tem de comprovar a verdade, isto é, a realidade e o poder, o carácter terreno do seu pensamento. A disputa sobre a realidade ou não realidade de um pensamento que se isola da práxis é uma questão puramente escolástica” – Marx e Engels, Teses sobre Feuerbach. Ou como diria Hegel, a verdade é do campo da faticidade, do objeto, e não do sujeito (discurso). É lógico que sem um sujeito que o diga não há verdade. Só que confundir o discurso que diz o sujeito, com a verdade, elide um fato substancial. A falsidade é do campo da teoria, da consciência infeliz, é uma negatividade sem objeto, sem praticidade. O que Marx conseguiu avistar, para colocar a dialética hegeliana de pé, é que o espírito do mundo é uma reprodução fantástica do mundo real, e não o mundo uma criação do espírito, da palavra. A unidade do mundo vem da sua materialidade, da sua existência como mundo real, não da unidade do pensamento.

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Este prolegômeno não é mera enrolação, é fundamental para se discutir o argumento “A roupa nova do rei”, do que o que mudou no país em duas semanas, o fato novo que colocou Bolsonaro nas cordas, foi que a “esquerda foi para as ruas”. E a primeira falha nesta afirmação é o lapso temporal. Bolsonaro derrete faz muito tempo. Escrevi um artigo há duas semanas dizendo que sim, é um desejo de Bolsonaro fechar o regime e é óbvio que não podemos menosprezar o fascismo, mas que não, Bolsonaro não estava se fortalecendo e minguava cada vez mais. Bolsonaro saiu de uma popularidade nas pesquisas de 80%, no início do seu mandato, para 30% nas últimas. Ele chegou a ter 80% das interações de rede na internet, e chegou, faz poucos dias, no seu pior dia na rede, no dia em que se fez operações contra as fake news, a ter apenas 15% das interações na rede. A relação disso com a esquerda nas ruas? Nenhuma! Os atos de rua contra Bolsonaro foram depois e não antes da queda dele.

O fato novo que derreteu Bolsonaro não foi a esquerda nas ruas, foram dois fatos, um se chama economia, outro Covid19, ambos estão entrelaçados.

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O Brasil tem 691.758 casos por Covid 19, e 36.455 mortos, números do domingo, 7 de abril de 2020. 10% dos doentes no mundo e 9% dos mortos. Segundo os cálculos feitos por Iamarino, seguindo os estudos da universidade de Pelotas, o Brasil tem, no mínimo, 7 vezes mais doentes, o que nos levaria ao inacreditável número de 4.842.306 com um número de mortos entre 38.000 e 58.107. Temos então 40% dos doentes no mundo. Sendo que pela subnotificação de mortes, estes números de mortos podem ser o dobro. O que nos levaria próximos dos 9 milhões de contaminados e dos 70 mil mortos! Os números só não são estes pela total e absoluta falta de testagem. Então, queridos amigos, o fato novo do mundo real não são os atos de 15 dias, é o Covid19. O Brasil é o maior foco da epidemia no mundo e o único país no mundo em que entramos na décima quarta semana da doença com a contaminação subindo. O descaso com a vida dos brasileiros derreteu Bolsonaro.

Bolsonaro não é Lula. Lula disse que a crise de 2008 era uma marolinha, disse, fez política anticíclicas e a derrotou. Bolsonaro disse que o Covid19 era uma gripezinha e até agora ele matou mais de 30 mil brasileiros. Ao contrário de alguns analistas que pediam para que não disséssemos que ele era um sociopata e um idiota, ele é as duas coisas. Isto não significa que a guerra publicitária que o elegeu, usando as redes sociais, tenha sido feita por idiotas. O processo de criminalização da política e do PT, iniciando tão logo Lula subiu o Planalto, gerou o vácuo político necessário para que fosse possível eleger um Homer Simpson para a Presidência da República. Dai em diante, desde a sua posse, Bolsonaro tem feito o que era previsível para um governo de lúmpen eleitoral e político, cuja única amálgama é a guerra interna de quadrilhas pelo botim de Estado. Sem projeto de governo e sem governabilidade, tem gasto todo seu capital político em combater o inimigo comunista imaginário e fascistizar o Brasil, fanatizando e tentando fidelizar seus 30%, que cada vez mais diminuem, e podem sim derreter a 20%, 15%.

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A outra questão é econômica. A vida de ninguém está melhor se comparada aos governos do PT. A crise de 2013 fez com que a elite rompesse o pacto que tornou possível o PT governar. Tentaram recuperar, na mão grande, a queda da taxa de mais valia, ampliando a exploração da mão de obra. Para isto era necessário derrubar o PT, destruir os sindicatos, a Justiça do Trabalho e os direitos trabalhistas. Daí a “Ponte para o futuro”de Temer e do PMDB (pinguela para o passado colonial república bananeira), o caos instaurado pela não aceitação por Aécio da derrota em 2014, a pauta bomba, “os revoltados de junho de 2013”, o golpe contra Dilma, Temer e, agora Bolsonaro. O projeto de retirar direitos, destruir o Estado, baixar salários, tornar a União uma simples garantidora da farra dos juros da dívida, através da PEC do fim do mundo, pode ter causado uma euforia temporária. Este governo é como aquela festa de adolescentes quando os pais saem de férias. Organiza-se um suruba, gasta-se todo dinheiro da família em drogas e álcool, festejam como se não houvesse amanhã, faz-se sexo sem camisinha, e, 9 meses depois, ninguém tem trabalho ou dinheiro para criar as crianças. 

Sem mercado de trabalho regulado e emprego de qualidade, hoje, mesmo sem o Covid19, até os industriais e banqueiros sentem os impactos das reformas. O investimento parasitário externo,  animado pelas farras das privatizações, não pode ser um estímulo de longa duração, não por outra razão o nível de investimento na Bolsa que subiu alvissareiramente durante o período Temer-Bolsonaro, hoje cai a níveis anteriores ao golpe contra Dilma. O Capital foge de um país que aderna e começa a afundar. O Covid19 só fez acelerar um processo de uma economia sem projeto e sem lastro. O capitalismo gangster de Guedes parte da ideia que é possível fazer economia sem mercado consumidor. A queda do PIB no Brasil não será menor que 10 pontos percentuais e o índice de desemprego vai ultrapassar os 20%.

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Bem, muito dialeticamente, e usando a práxis, o que isto tem que ver com os últimos 15 dias e os atos domingueiros? Nada. Absolutamente nada.

O derretimento da popularidade de Bolsonaro deve-se ao genocídio que ele perpetrou e à destruição econômica do país, Bolsonaro inclusive perde votos em proporção maior e em velocidade maior na fatia de eleitores da classe média, que já não tem ilusão do paraíso fantástico mundo de Bob “sem impostos”, com dólar ao par e no qual todo mundo viajaria para Disney. A realidade é o encolhimento do mercado de trabalho, fim dos concursos públicos (espaço hegemonizado pela classe média), rebaixamento em massa da classe média. 

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Então, os atos do fim de semana não tiveram nenhum papel? Bem, não no encolhimento de Bolsonaro, como uma análise descuidada da linha do tempo da queda de Bolsonaro mostra. Na verdade, temos que inverter, os atos de rua anti-Bolsonaro são antes consequência, do que causa, da queda de sua popularidade. Não acredito na história da “demanda reprimida”, acredito mais na tese de disputa de hegemonia.

Bolsonaro afunda, e a questão é, como se dará a transição para um novo governo? 

Com  ou sem derrubada de Bolsonaro, difícil a elite apostar suas fichas num candidato que não tem piso elitoral de 30%, mas sim teto eleitoral de 30% e rejeição de 70% (não à toa o nome e a inspiração do movimento é 70%). Uma candidatura de direita que tenha um piso entre 20% e 30% por cento, e uma rejeição igual, é uma tragédia para a elite em 2022. Inviabiliza uma candidatura Huck e será derrrotado por qualquer candidato de esquerda no segundo turno. 

Então as movimentações políticas recentes estão conectadas a isto. A discussão sobre uma “frente de esquerda” ou “frente ampla”, o movimento dos 70%, a ida açodada para as ruas, estão muito mais no sentimento de que Bolsonaro se torna um cadáver político, do que do medo de que ele consiga forças para dar o pretendido auto-golpe. Os patetas que seguram cartazes toda semana pró Bolsonaro, ou fazem passeios de carrão com as camisas da CBF, não conseguiram pautar nossa política nas últimas semanas. A prática é o critério da verdade, Bolsonaro está caindo sem parar e não subindo, consegue perder um aliado por dia, conseguiu perder o apoio do CEO da rede Mundo Verde (boicote neles!) antes mesmo de ele assumir, e consegue ser atacado por seu próprio guru, Otário para Carvalho, nas redes sociais.

Assim, são movimentos conectados e coordenados, e não movimentos segmentados. A direita quer pautar a sucessão do Bolsonaro, com ou sem impeachment, com ou sem cassação de chapa. A cobertura da Globo elogiando os atos domingueiros responsáveis e sem partidos, e o debate logo a seguir com Ciro, FHC e Marina, discutindo uma frente ampla, dão o tom.

Lula está certo em alertar. Querem uma frente ampla, sem Lula e o PT. Não querem o retorno de um governo que discuta soberania social e direitos sociais. 

Não há como se pensar frente ampla, 70%, alianças sem pensar nisto. A direita quer hegemonizar o processo de ruptura com o bolsonarismo, quer evitar que no Brasil ocorra o que aconteceu na Argentina, onde o neo-liberalismo foi varrido por uma aliança de centro-esquerda (bem longe de estar ampliada até os liberais e até a direita) e executa um programa de reconstrução do Estado e reconquista dos direitos sociais, apagando as políticas neo-liberais de Macri.

Uma coisa é uma frente ampla para evitar o golpe fascista, esta a gente faz até com o Alexandre Frota e a Raquel Sherazzade. Outra é frente ampla programática para mudar o Brasil, esta não passa por reeditar as políticas neo-liberais, isto não será frente ampla, isto será dar uma cara humana, menos troglodita (Huck, Ciro) ao desmonte do Estado brasileiro.

E, afinal, neste longo, mas necessário artigo, onde entram os atos de rua. Bem, já falei um pouco deles. Desmitifiquei a ideia completamente sem comprovação prática que foram os atos que colocaram Bolsonaro nas cordas. Eles são consequência da crise do bolsonarismo, não sua causa, também já iniciei a argumentação que estes atos na verdade estão na ordem do dia da disputa do pós bolsonarismo, mesmo que sua ritualística diga que eles são apenas atos “pró-democracia”.

A preocupação da esquerda de quem vai pautar as ruas é legítima, mas cuidado para não jogar a criança fora junto com a água suja do banho. Antes de tudo, ir para as ruas agora enfraquece e sim o discurso antiterraplanista de quem Bolsonaro é um genocida que não se preocupa com o povo brasileiro. Uma mentira dita mil vezes acaba tornando-se uma verdade. 

A frase de que ou morremos de fome ou morremos de Covid19 é a frase de… Bolsonaro! Assustadoramente a vi nos lábios de milhares de militantes de esquerda no fim de semana, sem que eles notassem a contradição. Eminentes teóricos repetiram a frase usando como exemplo os entregadores de comida, nem notaram que foi a mesma frase e o mesmo exemplo que usou… BOLSONARO!

Dizer que não há alternativa à Covid é um discurso que ajuda Bolsonaro. Há alternativa. A alternativa é ficar em casa, exigir que o Congresso derrube o teto de gastos e garanta a renda mínima a todos os brasileiros até passar a pandemia. Que o governo emita dinheiro, com falou Lula, e que a conta desta crise seja paga pelos ricos, taxando as grande fortunas. Dizer que não há alternativa é introjetar o discurso do inimigo. Não, entregadores de comida não deviam estar nas ruas, deviam estar em casa cuidando de suas famílias com o dinheiro da ajuda do governo. Que cada um cozinhe sua própria comida, a esquerda que reproduz este discurso nem nota como ele é egoísta e pequeno burguês. 

E não, não existe “forma segura de fazer manifestações”. Mesmo que “peçamos para os grupos de risco ficar em casa”. Novamente damos razão a… Bolsonaro! Isto é afrouxamento do isolamento, o tal “isolamento vertical” que propunha o fascista. Os velhos ficam em casa, o resto pode sair. Sério?

Não dizíamos que o risco está no transporte, no deslocamento, nas concentrações, e na volta para os lares, o que faz o vírus ser transportado inclusive para os grupos de risco?

Este risco não existe mais?

Só existe em academias e em salões de beleza?

O afã de disputar a narrativa pós Bolsonaro nos levou a um discurso TERRAPLANISTA!

Estamos no ápice do Covid19, não façamos o vírus se multiplicar e não multipliquemos  um discurso que nega o perigo. Os jovens não vão deixar de morrer de balas policiais se forem protestar exatamente agora, podemos chegar a 1 milhão e 400 mil brasileiros mortos, o que dá 30 anos de genocídio policial em 3 meses! Sério que a proposta é esta?

Vamos em 3 meses casar 30 genocídios da população pobre e negra?

Lembrando que quem mais morre com Covid é a população negra e pobre.

Bem, não precisa ser nenhum gênio para refutar: 1. Que há forma “segura de fazer manifestações agora”; 2. Que a oposição é entre morrer de balas da PM (40 mil ao ano) ou morrer de Covid (1 milhão e 400 mil em 3 meses); 3. Que os atos foram os que fizeram Bolsonaro derreter; 4. Que são os atos que detiveram um golpe de Estado em curso.

Como já mostrei lá em cima, 1. As manifestações vão ajudar a disseminar o vírus; 2. O genocídio pelo Covid19 corresponde a 30 anos de violência policial; 3. Bolsonaro derreteu antes dos atos; 4. Bolsonaro até pretende, mas a turma de patetas que o apoia era cada vez menor e não maior.

Para terminar o longo texto, falta discutir para onde vão estes atos. Estes atos são a disputa do botim pós Bolsonaro. E é interessante que parte deles já comece com uma narrativa análoga a 2013. “Sem partidos”, sem “discussão política”, sem “bandeira partidária”. Seriam atos de “todos contra Bolsonaro”, sem a perspectiva de uma pauta definida. Bem, comparando aos atos  levaram a derrota de Macri na Argentina, partidarizados e com pauta definida, ou os que acontecem no Chile, de oposição não só a Pinera, mas à política Neo-Liberal e também com hegemonia de pautas políticas, eles são mais atrasados e não mais adiantados. Não nos interesse um novo “que se vayan todos!”, “são todos iguais”. A narrativa veiculada nas redes, de “omissão e covardia” dos partidos de esquerda, continua a criminalização da esquerda organizada e da via política, que foi disseminada pela direita, e comprada como correia de transmissão ela extrema esquerda, desde a eleição de Lula. Só lembrar que foi este zeitgest que gerou bolsonaro. 

E fundamental para a direita que planeja um pós Bolsonaro neo-liberal criminalizar e afastar as organizações do movimento social do controle da rua, os partidos políticos de massa da esquerda, os sindicatos, as Centrais, as frentes. Provocar “explosões populares” apartidárias, no melhor estilo revoluções coloridas, no qual você possa capturar a revolta da juventude para canalizá-la no permanente discurso de que “são todos iguais” e que “se vayan todos”. Assim, é impossível construir um projeto de esquerda anti-neo-liberal hegemônico, que suceda o bolsonarismo.

Temos que voltar as ruas, sim, assim que a curva do Covid abaixar. 

Exterminar o povo brasileiro, o expondo ao vírus, não pode ser pauta da esquerda. Esta pauta negacionistas e terraplanista é pauta de Bolsonaro.  Mas devemos voltar as ruas com nossas bandeiras, com nossos partidos, com nossas centrais, sindicatos, frentes, pauta política definida. A criminalização da política, em 2013, foi o ovo da serpente que gerou Bolsonaro.

2013 não pode se repetir, aconteceu a primeira vez como tragédia, hoje veste as roupas de uma farsa, na qual só cairemos se quisermos!

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