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Luiz Carlos Bresser-Pereira

Professor emérito da Fundação Getúlio Vargas onde pesquisa e ensina teoria econômica e teoria política desde 1959. Foi Ministro da Fazenda (1987) e Ministro da Administração Federal e Reforma do Estado (1995-98). É doutor honoris causae pela Universidade de Buenos Aires

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Revolta na França, crise do liberalismo, paralisia da esquerda

"As manifestações e quebra-quebras dos "coletes amarelos" (gilets jaunes) na França surpreendem a todos por sua violência e extensão. Há um semana atrás havia 300 ou 400 manifestantes na rua; no último sábado, 4 mil", escreve o professor Luiz Carlos Bresser Pereira. "Enquanto a hegemonia neoliberal entra em crise no Mundo Rico, o Brasil mergulha no neoliberalismo... Pobre Brasil, desorientado Brasil"

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As manifestações e quebra-quebras dos "coletes amarelos" (gilets jaunes) na França surpreendem a todos por sua violência e extensão. Há um semana atrás havia 300 ou 400 manifestantes na rua; no último sábado, 4.000. O que significa esta revolta popular irracional, sem objetivos e sem líderes claros? Essencialmente, significa a crise do liberalismo ou o neoliberalismo – uma ideologia que domina o Mundo Rico desde 1980 em nome de uma estreita coalizão de classes financeiro-rentista. Mas significa também a crise das esquerdas social-democráticas e desenvolvimentista que não têm uma alternativa a oferecer.

A revolta na França não é ainda uma manifestação da extrema-direita. O Fronte Nacional não participa dela. Os manifestantes não são apenas de extrema-direita; são também de extrema-esquerda, mas são principalmente cidadãos e cidadãs (é impressionante a participação das mulheres) insatisfeitos com a estagnação de seus rendimentos, ou, como dizem os franceses, com a perda do seu poder de compra (pouvoir d'achat).

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Esta revolta tem sua contrapartida no "populismo" que estamos vendo nos Estados Unidos com Trump, no Reino Unido com o Brexit, na Hungria com Viktor Orban. Um populismo nacionalista sempre de direita. Porque a direita populista tem um programa: fechar o país contra a imigração e recuperar a soberania nacional cedida à globalização, ou seja, ao neoliberalismo. Um programa estreito e injusto, mas um programa.

Enquanto a hegemonia neoliberal entra em crise no Mundo Rico, o Brasil mergulha no neoliberalismo... Pobre Brasil, desorientado Brasil. Mas não é apenas o nosso país que precisa de um projeto nacional, social e ecológico – que precisa da intervenção moderada do Estado na economia, de uma política de diminuição gradual das desigualdades, e de uma política macroeconômica novo-desenvolvimentista, esta baseada no equilíbrio da conta-corrente, em uma taxa de juros mais baixa, e em uma taxa de câmbio que torne competitivas as boas empresas industriais brasileiras. Os países ricos também precisam desenvolver uma teoria novo desenvolvimentista adaptada às suas necessidades.

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Mas na América Latina como no Mundo Rico a centro-esquerda social-democrática e desenvolvimentista está paralisada. As limitações reveladas pelas políticas econômicas keynesianas, pelo colapso do socialismo (com o qual ela se deixa confundir), e pela força da hegemonia ideológica neoliberal estão na base dessa paralisia. Que abre espaço para o irracionalismo da direita. Quando os progressistas no mundo ou no Brasil acordarão? Não sei dizer. Posso garantir apenas que isto só acontecerá quando tiverem um projeto.

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