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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Riocentro - Um vinil para o show interrompido

Trago aqui a surpreendente lembrança do disco produzido para arrecadar recursos para o 1º de Maio de 1981, - aquele mesmo, o do Riocentro - que acabou não acontecendo, porque bombas explodiram mandando para os ares a comemoração

(Foto: Reprodução)
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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia

Quando a memória apaga estão aí os “baús” para nos surpreender e tornar concretos fatos que ficaram lá atrás, no passado, e a gente simplesmente deletou. Mesmo que transcorridos 40 anos, um LP (long play) – substantivo que caiu em desuso com o desaparecimento do produto, (disco fonográfico de 33 1/3 rotações por minuto) é significativo o bastante para nos avivar um fato que hoje é histórico. Estamos falando do disco produzido para arrecadar recursos para o 1º de Maio de 1981, - aquele mesmo, o do Riocentro - que acabou não acontecendo, porque bombas explodiram mandando para os ares a comemoração. 

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Para os muitos jovens, Long Play, ou LP, como era chamado, era um disco preto, de vinil, com um furo no meio e que colocado em movimento numa eletrola, era capaz de trazer para perto de nós as mais queridas vozes do nosso cancioneiro e as de qualquer parte do mundo. Bastava acionar o dispositivo, lançado pela Columbia Records em 1948. A expressão completa era long playing record.

Pois hoje, organizando o “passado” eu me deparei com esta verdadeira “preciosidade”,  entre os quase 500 vinis que guardei dos que colecionei ao longo da vida. Intrigante é a data, impressa no alto: 1980. Embora o texto fale do show do pavilhão do Riocentro e desfie os nomes que estavam lá, sobre aquele palco - que por um triz não voou pelos ares levando o melhor da nossa música-, a data no alto da capa é apenas mais um detalhe de um episódio envolto em muitas lacunas. Esta é apenas mais uma. 

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O atentado arquitetado por oficiais do 1º Exército e executado por integrantes do Destacamento de Operações de Informação e Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), foi o mais emblemático de uma série de explosões provocadas por agentes da repressão, insatisfeitos com o processo de abertura política do País e o fim das gratificações em seus salários, consequência do fechamento do “aparelho repressivo”. Uma das bombas destinadas ao público de mais de 10 mil pessoas reunidas no pavilhão do Riocentro, explodiu no colo do sargento Guilherme do Rosário, dentro de um Puma, no estacionamento, matando-o na hora.  O Ministério Público Federal (MPF) apontou a participação de 15 pessoas, em 2014, na investigação mais abrangente já feita sobre o caso. Desses, seis foram denunciados à Justiça.

disco

Teria o vinil sido produzido pela Wea Discos Ltda, um ano antes, para arrecadar recursos? Ou teria, alguém que trabalhou na produção, se enganado e lançado o ano errado, na hora da impressão? É o que parece. O que é indesmentível são as fotos de Walter Firmo – retratando a plateia e os artistas reunidos no palco, e o magistral e inconfundível desenho de Ziraldo, que toma toda a capa. Alguém errou a data. Só pode. 

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Antes da descrição dos números musicais enfileirados, com seus respectivos autores, o texto de apresentação nos confirma: houve um engano na data. Está lá, descrito assim: “No dia 30 de abril de 1980, o pavilhão do Rio Centro (a grafia está assim) foi ocupado por uma plateia de cerca de trinta mil pessoas (exageram). Era o “show” 1º de Maio, que contou com a participação do maior bloco de cantores e compositores já reunidos num mesmo espetáculo e foi promovido pelo Centro Brasil Democrático - leia-se PCB ou Partidão - , com o fim de levantar fundos para o Encontro Nacional de Músicos, CONCLAT (Congresso da Classe Trabalhadora) e outras iniciativas do CEBRADE.

O show contou com a participação de: Alceu Valença, Angela Rô Rô, Beth Carvalho, Clara Nunes, Cor do Som, Cristina, Djavan, Edu Lobo, Elba Ramalho, Fagner, Francis Hime, Frenéticas, Geraldo Azevedo, Ivan Lins, D. Ivone Lara, JOANA, João Bosco, João do Vale, João Nogueira, Kleyton e Kledir, Lucinha Lins, Martinho da Vila, Milton Nascimento, Miúcha,  Moraes Moreira, MPB-4, Nosso Samba, Olívia Hime, Paulinho da Viola, Roberto Ribeiro, Sergio Ricardo, Silvio Cezar, Som Sete, Teco e Ricardo, Viva Voz, Zezé Mota e Zizi Possi. Dirigido por Fernando Faro, o show teve início às 21h30 e prolongou-se até às 3h40. Confira abaixo os sucessos contidos no disco:

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LADO 1 -  “Para não dizer que não falei de Flores” (Geraldo Vandré); “Toada (Na direção do Dia – Boca Livre) ; “Ele Disse” (Alceu Valença e Edgard Ferreira; “Assum Preto” (Alceu Valença – Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira); “Um cafuné na Cabeça, Malandro, eu Quero até de Macaco”; (Milton Nascimento e Leila Diniz); “Não Deixo de Pensar” (João do Vale/Luiz Vieira); “Uricuri – Segredo do Sertanejo” (João do Vale); “Pisa na Fulô” (João do Vale/Ernesto Pires e Silveira Jr.)

LADO 2 – “O Preto que Satisfaz” (Frenéticas – Gonzaga Júnior); “Vou Renovar” (Sergio Ricardo); “Lá vem o Brasil Descendo a Ladeira” (Moraes Moreira/Pepeu Gomes); “História de Pescadores” (Dorival Caymmi); 

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A impressão que se tem é que ele foi produzido antes e, assim que o show terminou foi rodado, sem a preocupação de atualizar ou inserir qualquer informação sobre o desfecho daquele show que entrou para a história como um dos fatos que contribuíram para o epílogo da ditadura (1964-1985). Fato é que ele existe e saltou do fundo do baú para me assombrar positivamente, como uma peça que eu nem mais me lembrava que tinha. Concretude de um momento que não esquecemos. (Mesmo que na capa esteja impressa a data errada).

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