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Luís Costa Pinto

Luis Costa Pinto, jornalista, editor especial do Brasil 247 e vice-presidente da ABMD, Associação Brasileira de Mídia Digital

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Roda Viva com Campos Neto: mídia que se diz “independente” tem de fazer as perguntas certas

Não pode ser escada para especulação e desindustrialização, sublinha Luís Costa Pinto

Roberto Campos Neto (Foto: Marcos Corrêa/PR)
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O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ocupa o centro da ribalta no programa Roda Viva (TV Cultura) a partir das 22h desta segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023. O convite da emissora estatal do governo de São Paulo, comandado pelo bolsonarista Tarcísio Freitas, foi considerado “oportuno” e “ideal” pela assessoria da autoridade monetária brasileira para se buscar um empate no debate em torno da alta taxa de juros básicos da economia nacional – 13,75%, por determinação do Conselho de Política Monetária (Copom) chefiado por Campos Neto.

O presidente Lula, os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento), e vozes com ampla credibilidade na área econômica como o economista André Lara Resende e o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), entre outros, têm dito que já havia margem para o Copom indicar o início de uma gradual e necessária redução na taxa básica de juros. O debate foi iniciado pelo presidente da República, para quem o Banco Central precisa compreender a mudança política ocorrida no País a partir das eleições de outubro e ser sensível à nova política de Estado – religar a economia brasileira a partir da chegada de novos investimentos produtivos da indústria a fim de se criar mais empregos e permitir um ambiente saudável para novo ciclo de crescimento sustentável e distribuição de renda.

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A maior parte da bancada de entrevistadores do Roda Viva, escalada pela apresentadora do programa, Vera Magalhães, que às vezes atende a sugestões pontuais dos convidados e de seus assessores, será composta por colunistas e repórteres da mídia “tradicional” que se diz “independente”. Muitos deles assinaram textos críticos às ideias do presidente Lula e condescendentes ao pensamento de Campos Neto. Estarão na bancada do programa o colunista Álvaro Gribel, de O Globo, publicação que também tem a apresentadora Vera Magalhães como contratada, e a repórter-especial da Folha de S. Paulo, Alexa Salomão. O trio não economizou nas bordoadas a Lula na última semana.

O Globo e Folha de S. Paulo publicaram, juntos, um total de sete editoriais atacando a simples ideia de se propor redução de juros no Brasil, como se o debate estivesse sob algum decreto de interdição. Também não pouparam o tom crítico ao governo Federal e a vozes simpáticas à tese da possibilidade de redução de juros. O presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Aloízio Mercadante, foi durante atacado em O Globo e ironizado por defender a necessária e mandatória reindustrialização do Brasil. A publicação de Alexa Salomão tem como Publisher um banqueiro, Luiz Frias, controlador do PagBank.

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Também estarão entre os entrevistadores de Campos Neto os repórteres Alex Ribeiro, do Valor Econômico, publicação das Organizações Globo, e Adriana Fernandes, de O Estado de S Paulo. Fecha o grupo a colunista de economia da Band, Juliana Rosa. Ribeiro e o Valor têm se mantido imparciais no debate. A publicação, último jornal dedicado basicamente a temas de Economia e ao Mercado, é governada internamente por um grupo de jornalistas mais experientes que O Globo e conserva distância regulamentar das paixões clubísticas da redação mais rica do grupo. Fernandes é considerada uma repórter correta na cobertura macroeconômica a partir de Brasília, porém, o Estadão não poupou os ataques mais sórdidos ao debate que o Governo Federal impôs ao coração financeiro do País – os bancos sediados entre as avenidas Faria Lima e Paulista, em São Paulo: é preciso reduzir juros.

No programa Canal Livre da Band, emissora onde trabalha Rosa, o economista André Lara Resende fundamentou os apelos para que o Banco Central passe a reduzir rapidamente e paulatinamente os juros da taxa Selic. “Os objetivos do Banco Central, determinados na lei que deu autonomia ao Banco Central são o controle da inflação, a estabilidade do sistema financeiro e a garantia do pleno emprego. Obviamente essa taxa de juros de 13,75%, é incompatível com esses objetivos. Ela está errada”, disse Lara Resende no programa que a TV fez circular a partir da manhã do domingo em redes sociais. E prosseguiu: “A taxa de juros básica hoje de 13.75% está correta? Na minha opinião não, está profundamente errada. Assim como acho que a taxa muito baixa, abaixo de 3% também estava errada. Porque o mercado financeiro não deve sofrer mudanças bruscas de direção. Então a condução da política monetária deve ser suave, com direcionamento e previsibilidade. Essa taxa hoje é muito alta. No mundo hoje todos os países avançados têm taxas de juros real, ou seja, a taxa nominal reduzida à taxa de inflação negativa. Ainda que esteja todas subindo, todas as taxas nominais estão em processo de ajuste para cima, porque se saiu de um período de deflação para um período de recuperação, em todo o mundo as taxas estão subindo, mas continuam negativas”.

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O Roda Viva, que apesar do formato antiquado e das polêmicas bissextas que envolvem seus apresentadores, muitas vezes escolhidos ao sabor ideológico dos comandantes do Palácio dos Bandeirantes, ainda é o programa de debate político de audiência mais qualificada do início das semanas na TV aberta brasileira. Para que atinja o objetivo que deveria ter para com a sociedade será preciso ouvir de Campos Neto respostas para questões como as que seguem:

1. Por que Roberto Campos Neto, já como presidente de um Banco Central autônomo e sabendo que seu mandato à frente da autoridade monetária nacional ultrapassaria o mandato do próprio presidente que o indicou, Jair Bolsonaro, jamais criticou a farra de irresponsabilidades fiscais cometidas pelo Governo bolsonarista no ano de 2022?

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2. Campos Neto não achava ilegal, inconstitucional e irresponsável a concessão de benesses a amplos setores da sociedade, com claros objetivos eleitoreiros, no período do governo Bolsonaro?

3. O que o presidente do Banco Central pensa do instituto do Orçamento Secreto, ferramenta de desordem política utilizada pelos quatro anos do governo Jair Bolsonaro, que o indicou, por meio da qual o poder discricionário sobre o Orçamento da União foi transferido do Executivo para o Legislativo, sob o comando dos presidentes da Câmara e do Senado, resultado em gastos do Tesouro sem transparência alguma.

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4. Como ele se sente na condição de presidente do Banco Central que mais se viu obrigado a assinar cartas anuais de explicação do porquê sua gestão à frente do BC deixou de cumprir as metas anuais de inflação? Afinal, Roberto Campos Neto precisou fazer cartas aos ministros da Fazenda em 2020, 2021 e 2022 para tentar determinar as causas de sua incompetência sobre as metas inflacionárias. Desde que o regime de metas foi instituído, em 1999, jamais ocorreu tamanha desídia (ou indolência irresponsável) com as metas.

5. Por que, mesmo sendo “autônomo” em relação a um governo que já estava configurado como ruinoso, insistiu em dar provas firmes e exteriores de sua adesão a Jair Bolsonaro no processo eleitoral de 2022 a ponto de ter ido votar nos dois turnos do pleito com a camisa da Seleção Brasileira (ícone do bolsonarismo golpista mais atroz) e conservar-se num grupo de whatsapp intitulado “ministros do Bolsonaro” até mesmo depois da posse do presidente Lula?

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6. Por que ele não procurou o presidente da República, durante o período da transição de governos, para colocar-se e à instituição que presidente à disposição de um amplo debate sobre metas de inflação, juros e necessidade de produzir as condições para novos investimentos produtivos na economia brasileira?

7. O que ele espera da primeira reunião do Conselho Monetário Nacional, no dia 16 de fevereiro, onde estará com os ministros Fernando Haddad e Simone Tebet e sabe que haverá pressão para uma mudança nas metas de inflação para 2023 – o que pode fazer com que ele tenha de fazer nova carta de explicações no fim do ano – e se há margem para o Copom de março iniciar a redução de juros no País.

Os repórteres e colunistas da mídia tradicional brasileira, que integram com exclusividade a bancada do Roda Viva de Vera Magalhães, precisam se revelar de fato “independentes”, como afirmam ser, fazendo as perguntas certas a fim de colhermos as respostas necessárias de Roberto Campos Neto. Caso não ajam dessa forma, seguirão como arautos de um inferno que não é pregado por eles – mas, pelos executivos e patrões que os empregam. Essas vozes já parecem roucas de cobrar posicionamentos da mídia digital independente. Passou da hora de mostrarem se seguem o que pregam ou se são escadas para que os protagonistas escalados por suas empresas brilhem na ribalta como se não devessem prestar esclarecimentos a ninguém.

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