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Marcus Atalla

Graduação em Imagem e Som - UFSCAR, graduação em Direito - USF. Especialização em Jornalismo - FDA, especialização em Jornalismo Investigativo - FMU

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Rosebud: o declínio da imprensa é global, porque os métodos também os são

(Foto: Geraldo Magela/Agência Senado)
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O Instituto Gallup realizou em julho uma pesquisa que traz algumas informações relevantes sobre como anda a percepção da população estadunidense quanto à credibilidade das mídias corporativas de jornalismo. Apesar de ter sido realizada apenas nos EUA, o que se segue é algo que vemos mundialmente, inclusive no Brasil.

Apenas 11% dos norte-americanos confiam nos noticiários televisivos e só 16% confiam na mídia impressa. Desde que o instituto começou a medir a percepção de credibilidade da imprensa em 1972, esse é o momento de maior incredulidade da história.

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Essa perda de confiança não ocorreu de uma hora para outra. É uma queda paulatina, década a década, ano a ano. O que desmente jornalistas da imprensa corporativa que responsabilizam a extrema-direita pela queda da credibilidade. O argumento seria que tanto Trump nos EUA, como Bolsonaro no Brasil, fomentam a desconfiança e ataques da população contra esses meios. Não é bem assim, a extrema-direita apenas soube usar a descredibilidade auto-infligida pela própria imprensa.

O jornalista independente Ben Norton, Multipolarista, diz ser um mito a crença no jornalismo estadunidense como um modelo de imparcialidade e independência. Para Norton, uma das razões da decadência da imprensa norte-americana é o uso de mentiras para legitimar as guerras do império. Da Guerra da Coreia, Vietnã, Guerra-Fria, Iraque, Líbia, Afeganistão até a recente na Ucrânia. Nos anos 60, o co-fundador da CIA Frank Wisner gabava-se dos EUA ter tantos ativos nas redações de todo o mundo, que Washington poderia tocar a imprensa como a um instrumento. (leia: A imprensa Otan e o alinhamento da imprensa corporativa ocidental na desinformação). Ainda em 60, a Rolling Stones publicou informes comprovando haver mais de 500 jornalistas na folha de pagamento da CIA, do New York Time aos mais variados jornais. Após os anos 90, isso ficou ainda mais descarado, vários colunistas, jornalistas e apresentadores da imprensa estadunidense são “ex-agentes” dessas agências de inteligência, Ministério da Defesa e do Pentágono.

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Porém, o que realmente interessa são as razões universais da falta de credibilidade na imprensa nos diversos países e, entre essas, as que cabem perfeitamente ao Brasil. 

A primeira razão não é nova, Orson Welles já fez sua crítica em Cidadão Kane (1941), os meios de comunicação de massa, rádio, televisão e imprensa escrita são veículos custosos e estão na mão de grandes oligarcas que refletem seus interesses econômicos e políticos. Atualmente esses veículos não estão apenas sob o controle de uma única família como outrora. Está se eliminando os intermediários e sendo comprados por grupos econômicos e financeiros. Para que pagar por mentiras, matérias e notícias a fim de alavancar seus fundos de investimentos e interesses políticos se você mesmo pode fazê-los e publicá-los?

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A jornalista alemã Aline Lipp, em entrevista ao The Grayzone, onde denunciou o lawfare por parte do Ministério Público e da imprensa alemã, relatou que os sete maiores veículos de imprensa compram os veículos menores e cada vez mais controlam as informações na Alemanha. (leia: “Agências de checagem”, imprensa corporativa e “democracias” unem-se a fim de encarcerar jornalistas que ousem noticiar os fatos).

A tecnologia da internet diminuiu em parte o monopólio da comunicação de massas, não à toa há uma guerra para censurá-la sob o argumento de combate a fake news. Há duas guerras em andamento, a da velha imprensa por retornar seu monopólio da informação e das big techs para controlar as informações nas redes. 

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Vale salientar que o termo fake news foi concebido ideologicamente para referir-se a mentiras e até mesmo a verdades inconvenientes publicadas a partir de cidadãos e do jornalismo independente nas redes, essas seriam fakes, já as mentiras da imprensa corporativa são verdades, no máximo equívocos.

Os estudos que classificam o que é ou não fake news e os guias de combate a desinformação, como o Manual da UNESCO ou Guia First Draft, afirmam enfaticamente que não se deve aplicar os exemplos de desinformação realizados na internet às mídias corporativas, pois essas não teriam más intenções, elas cometem equívocos e quando os fazem, publicariam a errata na edição seguinte. 

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A linguista, jornalista e pesquisadora Letícia Sallorenzo aplicou o mesmo método de análise às publicações nas redes sociais e aos veículos da imprensa corporativa durante as eleições de 2014, concluiu não haver diferença entre as mentiras intencionais entre ambas. De 2014 até hoje, Letícia aguarda as erratas das publicações analisadas. Em sua pesquisa de mestrado, originando o livro Gramática da Manipulação, Letícia analisou as manchetes dos principais jornais brasileiros no período das Eleições Presidenciais de 2014, em todas encontrou uma forte manipulação em benefício ao candidato Aécio Neves (PSDB) e denegrindo a candidata Dilma Rousseff (PT).

Assim como a imprensa brasileira, carinhosamente tratada de PIG, a estadunidense também é partidária e parcial. Com a diferença de que por haver apenas dois partidos nos EUA, há uma divisão entre os grupos de mídias.

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A confiança na mídia impressa entre os partidários é abaixo das médias de tendência para republicanos (24%) e independentes (28%) e ligeiramente abaixo da média para democratas (38%).

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As confianças dos partidários nos noticiários televisivos também estão abaixo das médias de tendência de 22% para republicanos, 25% para independentes e 35% para democratas. A maioria dos republicanos e independentes expressou pouca ou nenhuma confiança nos noticiários da TV desde 2017 e 2018, respectivamente.

A razão é que mesmo havendo diferenças mínimas entre os dois partidos, que, na prática, têm a mesma política, quando os republicanos estão no poder, os meios de comunicação democratas, como a MSNBC, Washington Post etc., criam fake news contra o Governo Republicano. Quando os democratas estão no poder, os meios republicanos, como a Fox News, New York Post etc., criam fake news contra o Governo Democrata. Isso não apenas aumentou o descrédito na imprensa, como impossibilita um consenso entre os eleitores.

Já no Brasil, a coisa é pior ainda. A diferença é que o monopólio midiático só tem um partido, todos, exceto aqueles que sejam a escolha da população com propostas de mudanças, acabar com a desigualdade, retirar o país do neoliberalismo, da financeirização e da Teoria da Dependência.

Não apenas a imprensa corporativa nacional é monopolista, oligárquica, antinacional, representante dos investidores transnacionais, do neoliberalismo e da financeirização, como é contra a democracia. Há que se lembrar de que há poucos anos a imprensa chamava as eleições de “a grande festa da democracia”. 

De alguns anos para cá, repete-se a mesma cantilena: “ano eleitoral causa imprevisibilidade, atrapalha a economia e assusta os ‘mercados’ ”. O que está implícito e se incute na mente da população é: as eleições, portanto, a democracia atrapalha os “negócios”. Nem mesmo a mera representação formal do que venha a ser uma democracia é aceita.

Depois os escribas da imprensa fazem cara de surpresa quando um Bolsonaro ou um Trump são eleitos. E ainda responsabilizam a população por não saber votar. É humanamente impossível tomar decisões corretas a partir de informações erradas ou mentirosas.

Numa futura regulamentação pela democratização da mídia não bastará apenas leis contra a concentração e a propriedade cruzada dos meios, serão imprescindíveis incentivos econômicos às mídias independentes e regionais. 

Outra questão mais complexa, mas não menos importante, é a discussão da criação de plataformas de vídeos e redes sociais nacionais, similares ao YouTube e ao Facebook. Atualmente, o jornalismo nacional está à mercê dos algoritmos nebulosos das grandes big techs estadunidenses, as quais controlam a remuneração do jornalismo e decidem quais informações os leitores receberão, quais serão mais lidas e quais não serão. Tal iniciativa permitiria uma independência econômica aos veículos de imprensa e aos leitores de escolherem o que ler. 

Não há sombra de dúvidas que as big techs usam seu monopólio sobre as plataformas para bloquear informações contrárias aos seus interesses geopolíticos, impulsionam discursos de ódio, mentiras e desinformação, sendo parte essencial da máquina de guerra dos EUA, responsáveis pela guerra cognitiva e cultural.

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