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Leonardo Attuch

Leonardo Attuch é jornalista e editor-responsável pelo 247.

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Salvar Temer já não cabe na meta fiscal

Michel Temer está prestes a ser denunciado e tem hoje bem menos munição do que há um mês, quando escapou da acusação por corrupção passiva, avalia Leonardo Attuch, editor do 247; além disso, tanto Rodrigo Maia (DEM-RJ) como André Fufuca (PP-MA), presidente interino da Câmara, emitem sinais de que podem traí-lo; "Se Temer será fufucado ou não, só o tempo dirá. Mas o fato é que salvá-lo novamente é um péssimo negócio não apenas para os deputados que pretendem se reeleger, como também para uma economia que não sai do atoleiro e divulgou nesta semana uma expansão do PIB de míseros 0,2% no segundo trimestre do ano. O custo desse resgate já não cabe numa meta fiscal excessivamente generosa e, mesmo assim, estourada", diz o articulista

29/08/2017- Brasília - DF, Brasil- O presidente Michel Temer e os deputados, André Fufuca e Rodrigo Maia durante embarque para a China onde fará visita de Estado ao país e participará da Cúpula do Brics Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil (Foto: Leonardo Attuch)
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Dentro de alguns dias, Michel Temer será denunciado por obstrução judicial e organização criminosa. A base da denúncia, que será a última flechada do procurador-geral Rodrigo Janot, é a soma das delações do empresário Joesley Batista e do corretor Lúcio Funaro. Em maio deste ano, o dono da JBS entregou seus grampos com Temer, em que ele aparentemente avaliza a compra do silêncio de Funaro e Eduardo Cunha para que estes não o delatem. Na sua delação, Funaro, que antes negava ter vendido seu silêncio, agora confirma tudo aquilo que antes foi dito Joesley.  Ou seja: ele reforça a tese de Janot sobre a tentativa de Temer de calá-lo – o que configura o crime de obstrução judicial em pleno exercício do mandato.
 
Em tese, a denúncia seria rapidamente sepultada, uma vez que, há exatamente um mês, a Câmara arquivou a primeira acusação contra Temer, por corrupção passiva, que parecia muito mais grave do que a atual. No entanto, as condições do Congresso e da própria economia se alteraram. Antes da primeira votação, Temer torrou mais de R$ 13 bilhões em emendas parlamentares e outros favores para se salvar. Ocorre que muitos deputados dizem ter sofrido calotes nessas promessas e outros tantos ficaram inconformados com o fato de "traidores" – especialmente do PSDB – terem mantido seus cargos na máquina pública. Se isso não bastasse, nesse período as condições da economia se deterioraram e a meta fiscal saltou de um rombo de R$ 139 bilhões para um buraco de R$ 159 bilhões, que o governo parece incapaz de cumprir em razão da queda acentuada na arrecadação tributária.
 
Portanto, Temer tem hoje bem menos munição do que há um mês atrás. Há, ainda, um outro fator que torna sua situação ainda mais vulnerável. Uma pesquisa Ipsos divulgada no último fim de semana revela que ele é o político mais impopular do Brasil, com 93% de rejeição. Isso significa que os deputados que decidirem salvá-lo arcarão com um custo gigantesco diante de seus próprios eleitores. Como todos esses parlamentares possuem instinto de sobrevivência, quanto mais 2018 se aproxima, pior é a situação de Temer.
 
Um novo fator que fragiliza Temer é a nova desenvoltura do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), que hoje parece mais disposto a assumir a presidência da República do que à época da primeira denúncia. Dias atrás, ao participar de um evento político, Maia defendeu um novo "centro político", que uniria forças do DEM ao PCdoB. O que se diz, em Brasília, é que Maia não fará grandes esforços para salvar Temer na segunda denúncia. Além disso, seu aliado de bochechas rosadas André Fufuca (PP-MA) se disse pronto para dar andamento à segunda denúncia, seguindo o regimento da casa, caso ela chegue à Câmara durante a sua interinidade.
 
Se Temer será fufucado ou não, só o tempo dirá. Mas o fato é que salvá-lo novamente é um péssimo negócio não apenas para os deputados que pretendem se reeleger, como também para uma economia que não sai do atoleiro e divulgou nesta semana uma expansão do PIB de míseros 0,2% no segundo trimestre do ano. O custo desse resgate já não cabe numa meta fiscal excessivamente generosa e, mesmo assim, estourada. Além disso, enquanto o Brasil mantiver um governo com déficit de legitimidade, a equipe econômica não terá condições de aprovar medidas que reequilibrem as contas públicas. Isso significa que um desastrado projeto político que prometia colocar o País em ordem continuará sangrando a economia e levando-a ao abismo.
 
É uma situação tão grave que foi desnudada, com precisão, por Joaquim Barbosa, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, na última sexta-feira. "O Brasil foi sequestrado por um bando de políticos inescrupulosos, que reduziram as instituições a frangalhos", disse ele. Não há como discordar.

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