Saudade do Senado de ACM
"O bolsonarismo levou à mais alta casa do Congresso não mais os sábios misturados aos medianos estaduais, com alguma história na política, mas os medíocres paroquiais", lamenta Moisés Mendes, do Jornalistas pela Democracia



Por Moisés Mendes, para o Jornalistas pela Democracia - O caso do dinheiro na cueca aciona frustrações e saudosismos. Eduardo Suplicy tentou voltar a ser senador por São Paulo. Não conseguiu.
Chico Alencar deixou de ser deputado para disputar uma vaga do Senado pelo Rio. Também não deu certo.
A historiadora Aspásia Camargo candidatou-se a senadora também pelo Rio. Fracassou. Dilma Rousseff concorreu ao Senado, depois de golpeada. Negaram a ela um mandato por Minas.
Roberto Requião tentou e não conseguiu permanecer no Senado pelo Paraná. Ideli Salvatti também pretendeu retornar ao Senado por Santa Catarina. Nada.
Mas o Senado tem Chico Rodrigues, o senador amigo íntimo de Bolsonaro, um dos seus líderes, o homem do dinheiro na bunda.
E ainda tem Flávio Bolsonaro. E mais Romário. E o Irajá, o Jorginho, o Telmário, o Confúcio. E tem o Styvenson.
Alguns podem ter surgido antes, mas todos foram consagrados como senadores da era bolsonarista. Muitos podem não ser, mas têm a cara do bolsonarismo.
Não há nem o consolo de que assim caminha a democracia. Não há mais consolo algum. Foi-se o tempo em que o líder da direita no Senado era Antônio Carlos Magalhães. ACM assombrava e extasiava as esquerdas com seus ilusionismos.
Hoje, a voz forte da direita, e agora antibolsonarista, é a do Major Olímpio. E tem o Jorge Cajuru. A grande liderança de centro e chefe de todos eles, a caminho de um arranjo para a reeleição, chama-se Davi Alcolumbre.
O bolsonarismo levou à mais alta casa do Congresso não mais os sábios misturados aos medianos estaduais, com alguma história na política, mas os medíocres paroquiais.
Que saudade dos coronéis do Nordeste e sua vitalidade mitológica e literária. Trocaram os coronéis falantes e os tipos folclóricos por majores, delegados, escrivães, pastores, amigos de grileiros.
Saudade do tempo em que Paulo Paim (que ainda está lá) convivia com Benedita da Silva, a primeira senadora negra do Brasil, e os dois enfrentavam Jorge Bornhausen. Dá saudade até de Jorge Konder Bornhausen. Saudade imensa de José Sarney.
A direita perdeu glamour e se bolsonarizou. A classe média antiPT elegeu a chinelagem da extrema direita que carrega dinheiro em cueca e que odeia tudo que eles acham que não presta, se forem negros, gays, índios e pobres. O Rio Grande do Sul elegeu um desses racistas.
A direita dos coronéis comprava eleitores por afagos, ranchos e garrafas de cachaça. Agora, a extrema direita compra com exorcismos e com a promessa de que vai matar bandidos e invadir a Venezuela.
Perguntaram ao vice-presidente Hamilton Mourão o que ele achava do flagrante no corrupto da cueca amigo de Bolsonaro, que era até agora vice-líder do governo no Senado.
Mourão respondeu categoricamente, sem vacilar, com a determinação militar de quem impõe uma solução óbvia:
“Seria bom sair”.
Seria bom sair. Uma frase assertiva, irrevogável. Seria bom sair... Seria.
O bolsonarismo degradou a política e depreciou até os generais.
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