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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Se parar o Bolsonaro pega e se correr o Hamilton Mourão está aí

"Como vislumbrar saída, quando se tem em perspectiva uma tentativa de afastamento do presidente, pela via da Câmara, onde Bolsonaro gritantemente compra votos do centrão, ou pelo impeachment, quando no fim do processo o desfecho é Hamilton Mourão no poder?", escreve a jornalista Denise Assis

General não bate continência para capitão (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)
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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia 

Sob o título “Limites e Responsabilidades”, o vice-presidente Hamilton Mourão escreve hoje no Estadão um artigo em que parece querer amarrar as pontas soltas que saltam do governo a que serve.

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Acontece que, ao fazê-lo, em um momento de extrema fragilidade política de Bolsonaro - desde os exames de coronavírus, (altamente questionáveis) até o vídeo de 22 de abril, verdadeira bomba-relógio -, sua mensagem soa ambígua. 

Mourão dá a entender, logo na primeira frase: “Nenhum país do mundo vem causando tanto mal a si mesmo como o Brasil”, que há um vazio de poder, ou um poder exercido com tamanha imperícia, que pode muito bem ser trocado e, de preferência, por ele. Basta ler o que vem logo a seguir: “Há tempo para reverter o desastre. Basta que se respeitem os limites e as responsabilidades das autoridades constituídas.”

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A Constituição aponta para o seguinte: se há o caos, é preciso buscar solução e a solução pode estar ao alcance das mãos, ou seja, as suas, posto ser ele a peça a ser deslocada para o poder, nos limites constitucionais.

Houve quem lesse o artigo com a indignação que ele merece. “É mais do mesmo!” Ou, “ele está defendendo o fim do isolamento, tal como Bolsonaro!”. Sim. Tem isto também. O mesmo viés autoritário e insensível. Mas, notem. A iniciativa do artigo se dá em um dia em que Bolsonaro incorpora o “Napoleão”, a ponto de citá-lo, não se importando com a ilação e o ridículo embutidos na situação. Quem nunca viu charges e alusões aos portadores de transtornos mentais com o imperador dos franceses (de 18 de maio de 1804 a 6 de abril de 1814)? Aproveitando-se do auge da crise política, Hamilton Mourão entra em cena e se coloca polido, “equilibrado”. 

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Quando diz: “A esta altura, está claro que a pandemia de covid-19 não é só uma questão de saúde: por seu alcance, sempre foi social; pelos seus efeitos, já se tornou econômica; e por suas consequências pode vir a ser de segurança”, Mourão está falando aos seus, os de farda. Neste trecho, ele é a solução, o poder e a ordem! Muita calma nesta hora!

E, prossegue: “A crise que ela causou nunca foi, nem poderia ser, questão afeta exclusivamente a um ministério, a um Poder, a um nível de administração ou a uma classe profissional. É política na medida em que afeta toda a sociedade e esta (sic), enquanto politicamente organizada, só pode enfrentá-la pela ação do Estado”. As mensagens contidas na ação do vice-presidente são muitas. E, nessa, ele claramente se apresenta como saída.  

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É no próximo trecho, porém, que Mourão diz a que veio, divulgando o artigo no Estadão, notoriamente um jornal em oposição a Bolsonaro (não necessariamente a Paulo Guedes): “O terceiro ponto é a usurpação das prerrogativas do Poder Executivo. A esse respeito, no mesmo Federalista outro de seus autores, James Madison, estabeleceu “como fundamentos básicos que o Legislativo, o Executivo e o Judiciário devem ser separados e distintos, de tal modo que ninguém possa exercer os poderes de mais de um deles ao mesmo tempo”, uma regra estilhaçada no Brasil de hoje pela profusão de decisões de presidentes de outros Poderes, de juízes de todas as instâncias e de procuradores, que, sem deterem mandatos de autoridade executiva, intentam exercê-la”.

Por fim, faz uma crítica explícita à má condução da pandemia, por parte do atual governo, dando a entender que fala dos governadores. Mas é de Bolsonaro que trata nessas linhas. Afinal, foi ele quem, por antipatia a certos nomes e regiões, se recusou a estabelecer uma ação coordenada com os estados:  “Pela maneira desordenada como foram decretadas as medidas de isolamento social, a economia do País está paralisada, a ameaça de desorganização do sistema produtivo é real e as maiores quedas nas exportações brasileiras de janeiro a abril deste ano foram as da indústria de transformação, automobilística e aeronáutica, as que mais geram riqueza. Sem falar na catástrofe do desemprego que está no horizonte”.

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Atenção senhores! O artigo de Hamilton Mourão é uma colher de fermento para o nosso pessimismo. Como vislumbrar saída, quando se tem em perspectiva uma tentativa de afastamento do presidente, pela via da Câmara, onde Bolsonaro gritantemente compra votos do centrão, ou pelo impeachment, quando no fim do processo o desfecho é Hamilton Mourão no poder? E, a julgar pela linha adotada em seu artigo, tudo não é tão ruim que não possa piorar. Podemos ter o vice no comando, com o apoio das fileiras militares, do mercado, da mídia e, até mesmo, dos progressistas. Mourão será um Bolsonaro de fino trato. Somos criativos. Haveremos de buscar uma solução. Mas o cenário nos é muito desfavorável. Oremos.

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