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Paulo Moreira Leite

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Se trapacear com vídeo, Bolsonaro pode seguir caminho que tirou Nixon da Casa Branca

“A cada dia que passa, surgem semelhanças entre a investigação sobre Jair Bolsonaro e o processo que levou Richard Nixon à renúncia no escândalo Watergate, como observou Merval Pereira no Globo de hoje”, escreve Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia

(Brasília - DF, 22/04/2020) Reunião com Vice-Presidente da República, Ministros e Presidentes de Bancos. (Foto: Marcos Corrêa/PR)
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Por Paulo Moreira Leite, para o Jornalistas pela Democracia - Embora a Suprema Corte dos Estados Unidos tivesse um presidente nomeado pelo próprio Richard Nixon, ela teve um papel exemplar durante a crise aberta pelo escândalo Watergate.

A  atuação firme da Corte em defesa da Constituição do país levou Nixon a renunciar ao segundo mandato, após uma  reeleição obtida com boa votação dois anos antes -- e assim escapar de um processo de impeachment. A saída do presidente não foi de graça e envolveu uma negociação política  decisiva.

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Quando seus auxiliares já eram encaminhados a prestar contas à Justiça, situação que antecipava um possível destino presidencial, Nixon conseguiu negociar um perdão que lhe permitiu sair da Casa Branca diretamente para o descanso vitalício na Califórnia.

Cumprindo sua parte no acordo, dias depois da saída do titular, o  vice Gerald Ford assinou um decreto que assegurava  "perdão total, livre e absoluto", ao ex-presidente.

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Na prática, o decreto representava a contrapartida pela renúncia, a garantia de que Nixon  jamais  seria investigado por sua cumplicidade por atos criminosos.

Esse desfecho tornou-se última opção para o então presidente quando se demonstrou que as provas contra ele no Caso Watergate, operação de espionagem realizada na convenção do Partido Democrata em 1972, eram indiscutivelmente  robustas.  

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Estavam disponíveis  no sistema de som da Casa Branca, que desde o governo John Kennedy grava automaticamente toda e qualquer conversa mantida no gabinete presidencial, batizado como Salão Oval.

Ali, através da própria voz de Nixon, ficaram registros incriminadores -- diálogos travados após o escândalo, quando o presidente tentava organizar a própria defesa, arrebanhando auxiliares para construir mentiras e fabricar álibis.

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Num ambiente político cada vez mais adverso, que incluía a oposição crescente da juventude à guerra do Vietnã e a ampliação dos  movimentos por direitos civis, Nixon chegou a atender uma primeira ordem judicial, que determinava a divulgação das gravações. Mas imaginou que poderia fazer  serviço pela metade.

Com o argumento de que ninguém pode ser obrigado a produzir provas para se auto-incriminar, suprimiu 43 trechos  de diálogos mais comprometedores. Em vez de sensibilizar a Justiça, no entanto, a medida elevou a temperatura do escândalo, corroeu a credibilidade presidencial e apressou sua queda.

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Num novo recurso, o caso acabou na Suprema Corte. Embora Nixon tivesse nomeado quatro de seus nove integrantes, o ambiente político do país, dominado por um escândalo constrangedor, já contaminara o Judiciário e não permitia fidelidades garantidas por antecipação. Na decisão final, que levou três semanas para amadurecer, três juízes apadrinhados pela Casa Branca  acabaram se posicionando uma resolução que condenava o presidente. O quarto indicado, que chegara atuar como vice-PGR no primeiro mandato, preferiu abster-se.

No fim, a Suprema Corte condenou o presidente por 8 votos a 0, mais uma abstenção. Em vez de entregar a gravação integral das fitas, como a Justiça exigia, Nixon abriu o caminho da renúncia, negociada como um caminho suave para sua aposentadoria. Evitou um processo mas entregou o fim do mandato.

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As curiosas coincidências entre os dois casos, separados por quase meio século de história, realidades políticas e jurídicas tão diversas, obrigam a  examinar com cautela a hipótese do Bolsonaro seguir a mesma trilha de Richard Nixon.

Mesmo assim, a primeira tentativa do Planalto, de oferecer ao STF uma fita editada da  comprometedora reunião ministerial denunciada por Sérgio Moro, sinaliza que o Bolsonaro tenha se envolvido numa enrascada de bom tamanho.

Outro elemento envolve o comportamento das instituições. A partir do momento em que o papel de Nixon no escândalo ficou claro, a Suprema Corte foi para cima do presidente para exigir as gravações na íntegra e não arredou pé.

Resta saber se, no Brasil de 2020, quando o ministro Celso de Mello destaca-se pela firmeza, o Supremo irá demonstrar a mesma tenacidade para apurar o caso até o fim.

Há dúvidas, concorda?

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