CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
Chico Junior avatar

Chico Junior

Jornalista, escritor e comunicador

115 artigos

blog

Secretário-geral da ONU sugere mudança nos sistemas alimentares

"A produção e distribuição de alimentos no mundo favorece apenas uma parcela da população, já que milhões de pessoas ainda passam fome", escreve Chico Junior

(Foto: Reprodução)
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

No último dia de 2021 o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, publicou a seguinte mensagem no perfil do Instagram da Cúpula 2021 sobre Sistemas Alimentares das Nações Unidas:

“Comida é vida, comida é esperança. Mudar os sistemas alimentares não só é possível, mas necessário, para o nosso planeta, para as pessoas, para a prosperidade”.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Seria, creio eu, a sua mensagem para 2022 no que se refere à produção e distribuição de alimentos no mundo.

Já abordei este assunto em artigo anterior, mas volto ao tema. Aparentemente organizada, a produção e distribuição de alimentos no mundo é quase uma bagunça, confusa e que favorece apenas uma parcela da população, já que milhões de pessoas ainda passam fome. E a questão não é a falta de alimentos, pois o que se produz é suficiente para alimentar toda a humanidade; a questão é que milhões de pessoas, por diversas razões, não têm acesso ao alimento.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Deveríamos, portanto, como sugere Guterres, repensar o sistema de produção e, também, a distribuição de alimentos, algo que permita, por exemplo, que a produção esteja mais próxima do consumidor, ou seja, produção local, consumo local. Quanto mais próxima a produção estiver do consumidor final, mais baixo será o preço do alimento, que, ao mesmo tempo, será mais acessível à população.

Se pensarmos no micro, em vez de nos concentramos no macro, há soluções “caseiras” que podem resultar em menos custos, menos danos ambientais e mais empregos.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Tudo poderia ser diferente, para o bem-estar social, o meio ambiente, a economia e a geração de empregos se, em vez de fomentar a monocultura e as exportações, o foco fosse o investimento no pequeno produtor, na agricultura familiar, estimulando a produção local e o consequente consumo local.

Arroz

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Vou citar um exemplo.

A maior parte do arroz consumido no Estado do Rio de Janeiro, estado em que vivo, vem do Sul, principalmente do Rio Grande do Sul, maior produtor do país, com 70% da produção nacional. Imaginem o quanto se gasta na logística (investimento em transporte, pessoal, combustível etc) para fazer este arroz chegar ao consumidor final. E nem vou falar dos outros produtos “importados” pelo estado.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Não seria mais lógico que boa parte desse arroz fosse produzido no próprio estado? E isso seria possível? A princípio, sim. 

Mesmo considerando as condições climáticas regionais propícias para a produção de determinados alimentos in natura, praticamente todos os estados brasileiros têm condições de produzir alimentos para boa parte de suas populações.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

No caso do arroz, a região Noroeste do Estado do Rio sempre teve uma vocação para o cultivo do arroz em décadas passadas. No final dos anos 1970, o estado chegou a produzir 80 mil toneladas anuais (cerca de 1% da produção nacional, na época). 

Mas devido a vários fatores socioeconômicos, incluindo aí a falta de interesse das administrações estadual e municipais em investir no setor, em 2009, 19 municípios do estado (entre eles, 11 dos 13 da região Noroeste) colheram pouco mais de 10 mil toneladas de arroz. Número que caiu para desprezíveis 93 toneladas em 2020, produzidos por 35 produtores em apenas três municípios (Cantagalo, com 13 produtores; Italva, com 16; e Itaperuna, com 6).

Os dados são da Emater-Rio, empresa responsável pela assistência técnica e extensão rural do Estado, ligada à Secretaria de Agricultura, Pesca e Abastecimento do Estado.

Segundo a Emater, “a redução significativa do número de produtores de arroz no estado, provavelmente ocorreu devido ao elevado custo de produção, bem como a deficiência e alto custo da mão de obra”.

Para se ter uma ideia, os dois únicos produtores de arroz de Macaé, município fluminense que mais produziu arroz no estado em 2019, optaram por fazer rodízio das culturas, substituindo o arroz por milho e feijão, objetivando, com isso, maior retorno financeiro. E não produziram arroz em 2020.

É claro que, produzindo apenas 93 toneladas de arroz por ano, como ocorreu em 2020, consegue-se abastecer uma parcela bem pequena da população. Já com as 80 mil toneladas da década de 1970, diminui-se consideravelmente a dependência do arroz “importado” do sul.

Agricultura familiar

A lógica da “produção local, consumo local”, é, portanto, bem simples. ou melhor, deveria ser: bastaria os governos, bem como os legislativos, estaduais e municipais criarem mecanismos e políticas públicas para o desenvolvimento da produção o mais perto possível do consumidor, investindo, por exemplo, na agricultura familiar, a principal produtora do alimento que chega à sua mesa.

E é fácil trabalhar com a agricultura familiar. Afinal, ela está espalhada pelo país.

No Rio de Janeiro, por exemplo, são mais de 40 mil estabelecimentos, representando mais de 70% das propriedades rurais e cerca de 60% dos postos de trabalho na agropecuária.

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Carregando os comentários...
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Cortes 247

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO