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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

199 artigos

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Segredo de polichinelo

As inciativas (e sua eficácia) tinham chaves. Sergio Moro, alçado à condição de herói, mudou de status e de endereço, passando a residir em Brasília, sempre elogiado por sua retidão. Era um segredo do polichinelo. O tempo se encarregou de lhe tirar a máscara e revelar a face

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Com uma percepção que lhe era notável, Sartre demonstrou as dificuldades que temos em, diante dos fatos, distinguir a verdade. Um impulso no psiquismo de cada um nos leva a fechar os olhos para o que se vê e ver somente o que a nossa vontade, por defesa ou miopia, nos leva a aceitar. A sociedade e seus problemas constituem, por isso, um depositório de possibilidades difíceis de alcançar. Para neutralizar os malefícios do sistema, criamos ciências para estudar o assunto e tirar conclusões, como a Jurisprudência, a História, a Sociologia, a Economia, a Filosofia, etc. Alguém ou algum instrumento de avaliação tem de se mostrar capaz de separar as impressões falsas das confiáveis, para que possamos prosseguir e ultrapassar os obstáculos à nossa espera.

Mais complexa é, hoje, a tarefa de, na realidade, afirmar o que, em suma, é. Os veículos de comunicação produzem dados e, junto a eles, infinitas versões dos mesmos acontecimentos. E existem os movimentos de deformação da consciência, prontos para conduzirem a nossa mente para objetivos predeterminados, frequentemente com fins eleitorais. Em semelhante percurso, o concreto se dissolve e vagamos, perdidos, na nau dos desafortunados. Às vezes, os fatos, com sua gritante evidência, se encontram à nossa frente e não os enxergamos. Foi assim, apesar do que salientam os ingênuos e os mal-intencionados, o que se se passou com a grande novidade nos sistemas judiciais brasileiros: a força tarefa da lava jato, em Curitiba. Dando a impressão de se revelar obcecada com a Justiça, usou os processos a seu bel prazer, prendendo, misturando as instâncias, negociando por baixo do pano e obtendo concessões, enquanto a opinião pública, extasiada, assistia o trem funcionar. E nunca funcionou tão rápido. Mal se concluíam os julgamentos e os réus paravam na cadeia com penas elevadíssimas. 

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Como era possível? O que sempre cumpria prazos demorados se movia de repente com todas as engrenagens azeitadas. Assim se retirou de cena, na época, um dos nossos principais políticos, alguém que estivera no poder, cumprira dois mandatos e, temia-se, era capaz de voltar. O que, aliás, sempre se usara contra os adversários, a pecha de corrupção (ainda que sem provas), manchou reputações e transformou em nuvens pesadas o antigo céu do panorama nacional. O projeto de mudar as caras dos dirigentes se efetivou. Bolsonaro e seus seguidores aí estão para dar peso à constatação.

As inciativas (e sua eficácia) tinham chaves. Sergio Moro, alçado à condição de herói, mudou de status e de endereço, passando a residir em Brasília, sempre elogiado por sua retidão. Era um segredo do polichinelo. O tempo se encarregou de lhe tirar a máscara e revelar a face. O universo jurídico começou um processo de reavaliação dos eventos e se reexaminou, pálido, o que ele mesmo fizera ou aceitara fazer. Estamos a um passo de reconstruir os processos para lhes dar a justa dimensão. Afinal, a verdade, na sua volúpia, semelhante aos vinhos, às vezes confunde e embriaga. Já tomamos dessa mistura. Esperemos que não nos leve ao coma. 

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