Segundo turno acirra polarização e divide o país
"Segundo turno só serve para aumentar a polarização e dividir o país ou a cidade, até mesmo quando a disputa envolve partidos do mesmo campo e candidatos da mesma família, como se dá no Recife", escreve Alex Solnik, do Jornalistas pela Democracia



Por Alex Solnik, do Jornalistas pela Democracia
Os candidatos passam um ano em preparativos, enfrentam uma dura campanha, finalmente os eleitores vão às urnas e elegem seus preferidos, do primeiro ao último.
Ah, mas não acabou, agora o primeiro colocado vai disputar com o segundo quem é de fato o primeiro.
Ora, bolas! Mas os eleitores já não tinham escolhido o primeiro?
Ah, não, agora vamos ver se eles querem mesmo eleger aquele que já elegeram daqui a duas ou três semanas. Talvez mudem de ideia.
Faz algum sentido?
Fez na cabeça dos que o inseriram na constituição de 1988, copiando a fórmula da constituição portuguesa, mas, na minha, faz tanto sentido quanto o campeonato de futebol que termina com todas as colocações definidas, do primeiro ao último, e no fim se faz um quadrangular entre os quatro primeiros para ver quem é o melhor. Ué, mas aquele que chegou em primeiro já não é o melhor?
Não vou nem entrar em considerações de ordem econômica. O país está na lona, mas prefere gastar duas vezes, em dois turnos, em vez de deixar por um turno só. Isso numa eleição presidencial; na municipal, o segundo turno sai mais barato porque há menos cidades realizando eleições. Ainda assim, milhões são jogados no lixo. O primeiro turno custou mais de R$600 milhões.
Podem dar as explicações que quiserem. A mais corriqueira é que um dos candidatos tem que ter 50% dos votos para ser, de fato, o preferido da população.
No entanto, isso nem sempre ocorre no segundo turno, tanto é que é preciso fazer o malabarismo de excluir os votos nulos e brancos, como se não fossem “válidos” para obter o resultado desejado. Como não são se alguém foi lá na urna e os depositou?
O eleitor foi até à urna e falou que não quer votar em nenhum dos candidatos. Isso é um voto contra os dois. Não pode ser jogado fora apenas para justificar uma tese que não se verifica na realidade.
Em 2018, Bolsonaro obteve, no segundo turno, 39% e Haddad, 30%. Esses foram os eleitores que votaram neles. Ninguém teve maioria.
A pesquisa Datafolha para prefeito de São Paulo aponta, hoje, 48% Covas e 39% Boulos.
Ninguém tem maioria. E nem precisa. Candidato que ganha por um voto é o vencedor, tal como ganha jogo de futebol o time que tem um gol a mais que o adversário.
Segundo turno só serve para aumentar a polarização e dividir o país ou a cidade, até mesmo quando a disputa envolve partidos do mesmo campo e candidatos da mesma família, como se dá no Recife.
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