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Ana Perugini

Deputada federal pelo PT/SP, coordenadora-geral da Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Direitos Humanos das Mulheres e 2ª vice-presidenta da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara dos Deputados

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Sem paridade, vacas. Até quando?

O machismo e a misoginia impregnados na nossa sociedade já massacraram e depuseram uma presidenta eleita constitucionalmente e vieram à tona, mais uma vez, no último dia 9, quando um deputado estadual de Minas Gerais ofendeu uma das deputadas mais atuantes do nosso parlamento

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Na Índia, a vaca é sinônimo de humildade, docilidade, fertilidade, altruísmo e de não-violência. Para ao menos 80% do povo Indiano, adepto do hinduísmo, ela é sagrada, uma espécie de divindade, com preferência no trânsito, vestimentas de luxo e status de rainha. Deve ser muito bom ser uma vaca na Índia.

No Brasil, o animal não desperta os mesmos valores. O brasileiro, seja do sexo masculino ou feminino, adora sua carne, mas usa a espécie como rótulo de inferioridade para as mulheres. Aqui, vaca, na maioria das vezes, é um xingamento. É uma mulher sem valor, que não merece ser classificada como ser humano. Não é fácil ser mulher no Brasil.

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O machismo e a misoginia impregnados na nossa sociedade já massacraram e depuseram uma presidenta eleita constitucionalmente e vieram à tona, mais uma vez, no último dia 9, quando um deputado estadual de Minas Gerais ofendeu uma das deputadas mais atuantes do nosso parlamento, que exala competência e desperta respeito e admiração.

Foram golpes duros, covardes, repetidos três vezes em tom raivoso, carregados de ódio e sarcasmo, desferidos no plenário da Assembleia Legislativa mineira, por um parlamentar camuflado na inviolabilidade civil e penal assegurada pela constituição do seu estado.

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Ao atacá-la, baseando-se numa publicação falsa que atribui ao seu mandato um posicionamento falso sobre o caso do assalto ao motorista do Uber na capital paulista, Cabo Júlio não insultou apenas a parlamentar. Ele feriu a dignidade da mulher brasileira. E fez isso sem o menor receio, sem checar a veracidade dos fatos. Além de educação e respeito, faltou-lhe a responsabilidade que deve permear as ações de um legítimo representante do povo.

Voltando às vacas indianas, precisamos repensar a forma como nos tratamos. A Índia, num prisma religioso-cultural, nos convida para uma profunda reflexão sobre o respeito. Temos de parar de usar os animais para fazer julgamentos morais de nossos semelhantes. Chega de usar veado, macaco, vaca, cadela, cachorra, galinha, piranha e baleia para impor uma superioridade que não existe. Devemos avaliar as pessoas por seus atos, não pela cor da pele, pela forma física, pela opção sexual ou, simplesmente, pelo fato de serem homens ou mulheres. Aliás, você já chamou alguém de boi ou touro com intuito de ofendê-lo?

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A atitude do deputado mineiro não intimida a nós, mulheres, e tampouco nos demove do sonho de uma sociedade mais igualitária, livre do machismo, da misoginia e da violência contra a mulher. Pelo contrário. A sua insensatez nos fortalece, pois mostra que estamos no caminho certo, embora no início de uma estrada que parece não ter fim.

Somente a paridade entre homens e mulheres, preceito da plena democracia, vai ser capaz de estabelecer um novo contrato social e fazer com que reconheçamos o valor de nossas dedicadas vaquinhas. Quando isso acontecer, nós, mulheres, talvez nos sintamos como vacas sagradas na Índia.

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