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Ribamar Fonseca

Jornalista e escritor

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Será preciso aguentar ainda mais dois anos?

"O impeachment, ao que parece, é a única solução a curto prazo, mas ao contrário do que se possa imaginar não produzirá mudança significativa, porque o seu sucessor constitucional, o general Hamilton Mourão, não é muito diferente do capitão", avalia o jornalista Ribamar Fonseca

(Foto: ABr)
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O deputado Rodrigo Maia, que manobrou sem sucesso para manter-se na presidência da Câmara, assumiu o tempo todo pose de independência para enganar os menos avisados mas, na realidade, sempre  foi cúmplice do presidente Bolsonaro, empenhando-se na aprovação  de matérias de interesse do governo, inclusive da enganosa reforma da Previdência Social, que o faz chorar de remorso todas as vezes em que lembra a sua façanha. Sua aliança com o capitão se tornou mais evidente com o engavetamento de mais de 50 pedidos de impeachment, o que o torna cúmplice de todos os desmandos do governo, inclusive nos relacionados com a pandemia, que já resultaram em mais de 180 mil mortos. Já disseram até que ele teria tentado ser ministro mas teria sido  vetado pelo próprio Bolsonaro que, apesar de toda a ajuda recebida, parece não confiar nele. Tanto isso é verdade que articula a sua substituição na presidência da Câmara pelo deputado Artur Lyra, para isso oferecendo verbas de emendas e até cargos na administração federal, conforme denunciou o ex-ministro do Turismo, Álvaro Antonio.

Maia, no entanto, ainda tem tempo de mudar o seu comportamento contrário aos interesses nacionais admitindo um dos pedidos de impeachment, deixando a condução do processo para o seu substituto. Essa será a única atitude que lhe permitirá recuperar alguma credibilidade, pois ultimamente tem sido uma decepção como “independente”, sequer se manifestando acerca do uso ilegal e imoral do GSI e da Abin  na defesa do senador Flavio Bolsonaro, filho do capitão, no caso das rachadinhas. Ele e Alcolumbre, presidente do Senado, estão se fazendo de cegos, surdos e mudos  diante da recente e escandalosa revelação de um relatório da Abin orientando a defesa de Flavio, que está ameaçado de prisão e de perder o mandato.  O Presidente, que afaga a cabeça dos filhos mesmo quando provocam crises no governo com a exoneração de ministros, certamente fará tudo o que o cargo lhe permitir para salvar o 01, mesmo que isso implique em violar leis e até a Constituição. Ele já demonstrou, várias vezes, que os filhos estão acima de tudo, até  nos embates com generais que, por isso, foram exonerados das pastas que ocupavam, o que acentuou o racha entre os seus apoiadores militares.  

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O fato é que se Maia continuar indiferente às ações deletérias do governo vamos continuar assistindo o aprofundamento do caos no país que, no governo Bolsonaro, se tornou pária internacional, isolado até pela ONU, que o deixou de fora da reunião do clima, apesar da sua importância no contexto climático mundial. Sem contar agora nem mesmo com Trump, que perdeu estrebuchando as eleições no seu país e tende a cair no ostracismo com seu topete amarelo, Bolsonaro se mostra mais perdido do que cego em tiroteio, sem projeto de nada, sobrevivendo por meio das fakes que inundam as redes sociais. Uma verdadeira guerra de desinformação domina a internet, particularmente relacionada à covid-19, evidenciando  o completo despreparo e negligência do governo para enfrentar a pandemia, o que tem deixado muita gente indecisa quanto às vacinas. Até porque o plano de vacinação do governo, que poderia oferecer um alento à população, acabou se configurando como um plano fake, sem a aprovação dos cientistas que tiveram o nome incluido sem autorização deles  no documento entregue ao Supremo Tribunal Federal.

Depois de uma atitude como essa do ministro da Saúde, que parece não levar a sério um problema tão grave como a pandemia, está ficando mais difícil a cada dia acreditar no governo, que não se cansa de mentir. Se nada for feito com brevidade para mudar essa situação, onde não falta o aumento da inflação, o Brasil entrará em 2021 com uma perspectiva sombria, sem nenhuma luz no fim do túnel. Até no plano internacional a expectativa é nebulosa, com a provável nomeação do ex-presidente Michel Temer para o Ministério do Exterior, em substituição a Ernesto Araujo, o maior desastre da diplomacia brasileira. Tem-se, pelo menos, a certeza de que não poderá ser pior do que Araujo. E se o capitão eleger o deputado Artur Lyra para a presidência da Câmara Federal, para suceder Maia, então ao povo só restará rezar, porque com o comando da Câmara Baixa inteiramente submisssa a ele nada mais o impedirá de destruir o que ainda resta da Nação, talvez nem mesmo o STF onde, sob a presidência do ministro Luiz Fux,  parte do colegiado já se revela simpática ao seu governo.

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O impeachment, ao que parece, é a única solução a curto prazo, mas ao contrário do que se possa imaginar não produzirá mudança significativa, porque o seu sucessor constitucional, o general Hamilton Mourão, não é muito diferente do capitão, a não ser fisicamente, já que tem, com ligeiras nuances, endossado tudo o que Bolsonaro diz e faz. Aparentemente será o mesmo que trocar seis por meia dúzia. De qualquer modo, de uma coisa ninguém tem dúvidas:  pelo menos cessará a interferência dos filhos de  Bolsonaro no governo, reduzindo substancialmente a ocorrência de crises.  Para que isso aconteça, no entanto, é necessário que Rodrigo Maia admita um dos pedidos de impeachment  ou consiga eleger, para substitui-lo,  um nome sem qualquer vínculo com o Planalto, de preferência um nome da oposição, que deve marchar unida para as eleições em fevereiro. De outro modo, nada muda pelo menos até 2022. E diremos, como disse o ministro Ricardo Lewandowski antes do golpe que destituiu a presidenta Dilma Rousseff: “É preciso aguentar mais dois anos”. E rezar.  

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