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Flávio Ricardo Vassoler

Doutor em Letras, com pós-doutorado em Literatura Russa pela Northwestern University (Estados Unidos). É autor de várias obras, como O evangelho segundo talião, Tiro de misericórdia, Dostoiévski e a dialética: Fetichismo da forma, utopia como conteúdo

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Seria o sal das lágrimas o vestígio daquilo que não conseguimos reconciliar?

No Parque Güell, ausculto a guitarra espanhola. As lágrimas colidem umas contra as outras como se a fronteira dos olhos fosse a borda de uma taça à iminência de transbordar

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Barcelona, 4 de janeiro de 2013

Me parece que não progredimos sem esquecer. Mas lembrar e reparar são antecâmaras do esquecimento. 

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No Parque Güell, ausculto a guitarra espanhola. As lágrimas colidem umas contra as outras como se a fronteira dos olhos fosse a borda de uma taça à iminência de transbordar. 

Seria o sal das lágrimas o vestígio daquilo que não conseguimos reconciliar? 

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Barcelona, 7 de janeiro de 2013

Terminei o romance Fome, do norueguês Knut Hamsun. 

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O autor pôde descobrir e narrar que, por vezes, a alma profundamente suscetível pelas cicatrizes da pobreza acaba desenvolvendo um senso ainda maior de amor-próprio e dignidade. Os sentidos (e os ressentimentos) de autoafirmação tornam-se perenes, do contrário tudo pode desmoronar (ainda uma vez). 

Para o mendigo intelectual que desponta como protagonista da obra de Hamsun – a versão escandinava do homem do subsolo, personagem da novela Memórias do subsolo, do russo Fiódor Dostoiévski –, um esbarrão a esmo que não lhe peça desculpa equivale ao esquecimento proposital de um rei em relação às demandas de seu general. Súbito, o mendigo vai ao pedestre indiferente que lhe deu um encontrão e o intima: “Mas por que um mero esbarrão? Será que eu não mereço um tapa?”.

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Florença, 8 de janeiro de 2014

Na Piazza della Signoria, há várias estátuas com temas da mitologia clássica. Em uma delas, o artista estancou a mão do soldado que empunha a clava. Sob seus pés, uma criancinha desvela o ápice do medo através dos olhos vazios e das mãozinhas trêmulas que tentam se impor como escudo. O ponto alto da obra, a meu ver, desponta com a terceira personagem. Até aqui, deparamos com Talião revisitado – o soldado faz valer seu direito odiento ao butim. Mas a possível mãe da criancinha se esgueira entre as pernas do soldado para suplicar por aquilo que está entre as mais importantes heranças legadas por Jesus Cristo: a compaixão. Ora, como um nobre romano leria tal cena? Talvez ele pensasse que o soldado perdia muito tempo com meros corpos, enquanto os demais só faziam saquear e pilhar. Mas o cristianismo nos faz contemplar a iminência do assassínio pelo prisma do condenado. É bem verdade que a estátua sobrelevada enfatiza o golpe (estancado) do algoz. Mas nós, os espectadores, temos a mesma visão da mãe que suplica. Como se devêssemos nos compadecer com seu sentimento enquanto contemplamos o belo como escombro da guerra. O cristianismo lança luzes entre as sombras dos plebeus, aqueles que, efetivamente, soerguem a história (e com ela padecem). 

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Florença, 9 de janeiro de 2013

Na Galleria degli Uffizi. 

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A escuridão de Caravaggio conforma o nosso olhar para o entardecer. 

A escuridão de Caravaggio conforma o olhar para o nosso entardecer.

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