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Weiller Diniz

Jornalista especializado em cobertura política, ganhador do prêmio Esso de informação Econômica (2004) com passagens pelas redações de Isto É, Jornal do Brasil, TV Manchete, SBT. Também foi diretor de Comunicação do Senado Federal e vice-presidente da Radiobrás, atual EBC.

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Sinais externos de pobreza: a farsa

"Bolsonaro não dilapida o dinheiro público sozinho. Socializou a grana dos contribuintes e privatizou o orçamento com alguns poucos congressistas a fim de blindar pedidos de impeachment", escreve o jornalista Weiller Diniz

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Um dos principais apelos da campanha de Jair Bolsonaro em 2018 foi disseminar a alegoria de uma pessoa despojada, homem do povo, que usava camisetas de times de futebol, canetas bic, chinelão de dedo e comia pão com manteiga ou com leite condensado e média. O embuste da simplicidade acabou sendo eficaz e gerou uma aderência eleitoral de 39% de eleitores, suficientes para elegê-lo. O truque foi ainda amparado pelo marketing “acabou a mamata” para desqualificar os adversários e vender a ilusão da nova política, rompendo práticas reprováveis. A farsa alçou o capitão ao camarote da mordomia do Planalto. Lá dissipa o dinheiro público como jamais visto e gasta muito com todas as anomalias que fingiu combater. A mentira é um método desde a campanha.

A mais recente ilegalidade, chancelada pelo fiscal dos porteiros e das domésticas – Paulo Guedes -, foi a portaria liberando aumentos de até 69% na remuneração de alguns áulicos, violentando o teto constitucional salarial de R$ 39,2 mil. Os beneficiados com a nova portaria social de Guedes serão Bolsonaro e um séquito de uns 100 “pijamados” com cargos de confiança. O capitão recebe R$ 30,9 mil de salário e mais R$ 10,7 mil em outros benefícios, mas sofre um corte de R$ 2,3 mil para obedecer ao teto. O pagamento atingirá R$ 41,6 mil.

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O vice Mourão deverá ter reajuste de 63%. O abatimento de R$ 24,3 mil para respeitar o teto não deve mais ser feito. Assim, a remuneração mensal passa de R$ 39,3 mil para R$ 63,5 mil. A diferença é de 62%. O reajuste do salário-mínimo foi abaixo da inflação e o auxílio emergencial é pífio. Para os abastados o filé, para os pobres o osso.

O ministro da Casa Civil, general Luiz Eduardo Ramos, que tomou vacina escondido, terá uma injeção financeira. Com a incorporação do desconto mensal de R$ 27 mil, o salário vai para R$ 66,4 mil, significando um acréscimo de 69%. O ministro da Defesa, Walter Braga Netto, terá aumento de R$ 22,8 mil, totalizando R$ 62 mil mensais. Reajuste de 58%. O salário do chefe do Gabinete da Insegurança Institucional, Augusto Heleno, deverá passar de R$ 63 mil, com o agrado de 60%. A liberalidade do liberal Guedes impacta o orçamento em R$ 66 milhões ao ano. As primeiras 500 mil doses da Pfizer em 2020, ignoradas pelo governo em agosto do ano passado, custariam R$ 22,5 milhões, menos da metade dessa boiada que acaba de pisotear o Erário. O ministro Fábio Farias traduziu: “Bolsonaro está ensinando ao mundo como gerir a economia”

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O capitão perdulário também esbanjou na comemoração do Dia das Mães. Entre as carnes oferecidas em um churrasco no Alvorada havia uma picanha de ouro. O quilo custa R$ 1,8 mil, segundo o blog “Cozinha Bruta”, da “Folha de S.Paulo”. Em uma das imagens das redes sociais do perfil do churrasqueiro do evento, vê-se duas embalagens com a mensagem ‘Brasil acima de tudo. Deus acima de todos’ e uma menção ao Frigorífico Goiás. O frigorífico também publicou a foto classificando o corte como ‘picanha mito’. O blog ouviu da empresa que a ‘picanha mito’ estava fora de estoque.

A mesma carne, em outra embalagem, custava 600 reais por 350 gramas. Pelas fotos, nota-se que havia, ao menos, duas peças de 350 gramas da picanha. Vida de mito é outra. No passado era mais modesto. “Se puder dar um filé mignon ao meu filho, eu dou”. Mesmo com o preço proibitivo, o filé foi rebaixado pela ‘picanha mito’. Afinal, a carne é fraca.

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As férias nababescas do capitão em Santa Catarina e Guarujá, entre os dias 18 de dezembro de 2020 e 5 de janeiro de 2021, desbarataram os cofres públicos em exatos R$2.452.586,11. O custo estima R$ 1.053.889,50 com manutenção e combustível dos aviões, de outros R$ 1.196.158,40 com cartão corporativo da Presidência e com diárias da equipe de segurança no valor de R$202.538,21.

A queima diária de mais de R$ 140 mil está sendo investigada pelo TCU. Indagado sobre a farra com dinheiro público, o capitão, batizado de “Bolsocaro” em redes sociais, debochou: “Ah, gastou milhões nas férias. Vai ter mais férias para ser gasto; fiquem tranquilos”, ironizou. “Qualquer saída, a despesa é grande. Mas eu vou assim mesmo”, escarneceu em relação às aglomerações provocadas nas praias onde esteve em plena pandemia e mais de 200 mil mortes à época.

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Até hoje Jair Bolsonaro não explicou a dinheirama (R$ 89 mil) de Fabrício Queiroz na conta da primeira-dama. O Procurador Geral quer decapitar um professor da USP, mas arquivou a investigação sobre o capitão. A suspeita engrossa a nebulosa fortuna do clã. O banco imobiliário da família de hábitos tão modestos soma perto de 40 transações, entre aquisições e vendas. Os valores superam os R$ 10 milhões, somando os negócios do pai, filhos, mãe e madrasta em apartamentos, terrenos, casas e salas. Jair Bolsonaro negociou 14 imóveis. Flávio chegou a 21 operações com a mansão mal-assombrada de Brasília, destaque do empreendedorismo cujo valor é de R$ 6 milhões no condomínio da pompa na capital.

Corriqueiras nas transações imobiliárias deles são as compras abaixo do valor de mercado, vendas lucrativas, lacunas sobre a origem e licitude dos recursos e a predileção por pagamentos em espécie. Na mansão de Flávio Bolsonaro há névoas do alicerce ao acabamento. O valor do imóvel – R$ 5,97 milhões – é mais que o triplo dos bens declarados pelo senador em 2018. Ao TSE, o patrimônio informado foi de R$ 1,7 milhão: um apartamento, uma sala comercial, 50% da franquia da fantástica fábrica de chocolates, um automóvel e investimentos. A escritura atesta a quitação de R$ 2,8 milhões de entrada e o financiamento bancário de outros R$ 3,1 mi. Aqui surgem rachaduras. Houve um incremento de R$ 1,1 milhão no patrimônio em 2 anos. As 3 transferências bancárias para pagar a entrada somam apenas R$ 1,09 milhão dos R$ 2,8 milhões assinalados na escritura como quitados.

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O hábito de pagar imóveis em espécie, no bucólico do Rio de Janeiro, é hereditário. Rogéria Bolsonaro, mãe dos numerais 01, 02 e 03 e primeira mulher do capitão, comprou em 1996 um apartamento na zona norte do Rio pelo valor de R$ 95 mil. Atualizado o imóvel, situado em Vila Isabel, valeria R$ 621 mil. No período da compra Rogéria Bolsonaro era casada com o então deputado Jair Bolsonaro em comunhão de bens. A separação só aconteceria 2 anos depois, em 1998.A escritura registra com todas as letras que o preço “certo e ajustado de R$ 95 mil foi recebido integralmente no ato… através de moeda corrente devidamente conferida, contada e achada certa e examinada pelos vendedores”.

Entre o final de 1997 e 2008, quando estava com o então deputado Jair Bolsonaro, Ana Cristina Siqueira comprou com ele 14 apartamentos, casas e terrenos, que somavam um patrimônio avaliado em cerca de R$ 3 milhões, o equivalente a R$ 5,3 milhões em valores corrigidos pela inflação. Pelas escrituras, contou a revista “Época”, cinco dos 14 imóveis foram pagos “em moeda corrente”, ou seja, em dinheiro vivo, passeando impunemente pelo Rio de Janeiro. Foram duas casas, um apartamento e dois terrenos em negociações separadas, que somam R$ 243. mil, em valores históricos, ou atualizados R$ 638 mil.

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Outro midas do ramo imobiliário, Eduardo Bolsonaro, pagou R$ 1 milhão em 2016 por um apartamento em Botafogo, Zona Sul do Rio. A escritura mostra que ele deu um sinal de R$ 81 mil e estava pagando, no ato, mais R$ 100 mil em “moeda corrente do país, contada e achada certa”. O mesmo registro ainda firma o compromisso do deputado de pagar mais R$ 18,9 mil seis dias depois. A maior parte, R$ 800 mil foi financiada pela CEF. Em 2011, Eduardo Bolsonaro comprou por R$ 160 mil outro imóvel, R$ 50 mil foram honrados em espécie. A secretaria municipal de fazenda, para efeitos fiscais, avaliou o imóvel por R$ 228 mil, ou seja 30% a mais. As revelações foram do jornal “O Globo”. O patrimônio dele entre 2014 e 2018 subiu 432%, segundo os dados do TSE.

Carlos Bolsonaro, enrolado na CPI do Senado e no inquérito das ‘Fake News’, é outro aplicado investidor imobiliário da família. O jornal “Estado de São Paulo” mostrou que em 2003, no primeiro mandato como vereador, pagou R$ 150 mil em dinheiro vivo por um imóvel na Tijuca, Rio de Janeiro. O valor corrigido é de R$ 366 mil. Um dos três imóveis comprados pelo vereador durante a vida pública foi adquirido por preço 70% abaixo do avaliado pela Prefeitura. O apart-hotel custou R$ 70 mil ao filho 02, quando o valor venal era de R$ 236 mil estipulado pela prefeitura para cobrança de impostos.

Bolsonaro não dilapida o dinheiro público sozinho. Socializou a grana dos contribuintes e privatizou o orçamento com alguns poucos congressistas a fim de blindar pedidos de impeachment. Evoca as catacumbas dos anões do orçamento de 1993. O governo criou um orçamento secreto para repartir com os fiéis. O esquema envolveu a destinação de R$ 3 bilhões em emendas do Orçamento para parlamentares leais, que puderam definir onde seriam aplicados os recursos. Quem denunciou a mamata é chamado de “canalha”. O Ministério Público junto ao TCU solicitou a investigação. Avalia-se que o suposto esquema pode configurar eventual crime de responsabilidade. Foi o entendimento de que a ex-presidente Dilma Rousseff teria cometido crime de responsabilidade no caso das “pedaladas fiscais” que levou ao impeachment da petista em 2016. Pau que dá em Chico, dá em Francisco?

A família Bolsonaro, cujos imóveis e opulência desmentem a modéstia da campanha, é bancada pelo dinheiro público há anos. Carlos Bolsonaro é vereador no Rio de Janeiro, onde o salário é de R$ 18 mil. Tem mandato há 21 anos quando foi recrutado para derrotar a própria mãe aos 17 anos. Flávio Bolsonaro, cercado de suspeitas de crimes, está há 17 anos com mandatos, quatro deles como deputado estadual (salário de R$ 25,3 mil) e o recente de senador, com salário bruto de 33,7 mil. Eduardo Bolsonaro tem 5 anos de mandato de federal e recebe por lá, além de mordomias, uma remuneração de R$ 33,7 mil. Até o caçula já está faturando. O clã, bem fornido, incluindo o pai com mandato há quase 30 anos, fatura todos os meses R$ 127 mil do dinheiro público. É um bolsa-família inovador, já que não se conhece contribuições legais deles, as ilegais sim. Quem são os “parasitas” de Paulo Guedes?

Não se pode negar que a gestão é prodigiosa em invencionices, delírios e mentiras. Na pandemia inventaram um fictício isolamento vertical que ninguém jamais entendeu. Antes, Paulo Guedes maquinou o tal “PIB privado” diante do fiasco econômico da sua gestão. Assistindo à despudorada dilapidação do dinheiro público em férias de magnata, picanhas de ouro, orçamentos secretos, aumento do próprio salário e o bolsa família do clã, dá para começar a entender a lógica do PIB privado: transferir os recursos públicos para CPFs escolhidos. Até o final do mandato, todos os sinais externos de pobreza estarão desmascarados. A única máscara que Bolsonaro usava, da falsa simplicidade, caiu há tempos. “É gente humilde, que vontade de chorar”: Chico Buarque.

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