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Tereza Cruvinel

Colunista/comentarista do Brasil247, fundadora e ex-presidente da EBC/TV Brasil, ex-colunista de O Globo, JB, Correio Braziliense, RedeTV e outros veículos.

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Situação na Câmara é de “equilíbrio catastrófico”

"A verdade é que nem governo nem oposição têm hoje os 342 votos para garantir o quórum de abertura da sessão de quarta-feira para votação da denúncia de corrupção passiva contra Temer.  O quadro aponta para uma situação de 'equilíbrio catastrófico', categoria que Antonio Gramasci criou para definir situações em que nenhum bloco da disputa política tem maioria, gerando consequências desastrosas. Se o impasse levar à postergação da votação da denúncia por muito tempo, poderá comprometer não apenas as contra-reformas de Temer e outras matérias de interesse do governo mas até mesmo a reforma político-eleitoral que definirá as regras para a eleição presidencial de 2018"; leia a análise de Tereza Cruvinel

Presidente Michel Temer durante pronunciamento no Palácio do Planalto em Brasília 18/05/2017 REUTERS/Ueslei Marcelino (Foto: Tereza Cruvinel)
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A verdade é que nem governo nem oposição têm hoje os 342 votos para garantir o quórum de abertura da sessão de quarta-feira para votação da denúncia de corrupção passiva contra Temer.   O quadro aponta para uma situação de “equilíbrio catastrófico”, categoria que Antonio Gramasci criou para definir situações em que nenhum bloco da disputa política tem maioria, gerando consequências desastrosas.  Se o impasse levar à postergação da votação da denúncia por muito tempo, poderá comprometer não apenas as contra-reformas de Temer e outras matérias de interesse do governo mas até mesmo a reforma político-eleitoral que definirá as regras para a eleição presidencial de 2018, que precisam estar aprovadas até o final de setembro.  Num regime parlamentarista, o governo cairia.

Não é verdade, como andou dizendo o ministro-chefe da Casa Civil de Temer, Eliseu Padilha, que cabe à oposição garantir o quórum.  Quem tem verdadeiro interesse na realização da sessão,  para enterrar a denúncia, é o governo.  O problema é que, mesmo tendo votos para barra-la,  pois serão necessários apenas 172, o governo não tem 342 deputados dispostos a dar quórum.  E embora o líder do PT, Ricardo Zaratini, tenha defendido o comparecimento, o PT,   a bancada do PT deve somar-se aos demais partidos da oposição,  optando pela  obstrução, como prevê o deputado petista Paulo Pimenta (RS).

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– Nós teremos reunião de bancada amanhã às 15 horas e a tendência clara é a favor da obstrução da sessão. Se dermos quórum, estaremos ajudando o governo. E como eles não terão 342 deputados dispostos ao comparecimento, tudo aponta para o impasse, para este “equilíbrio catastrófico” de que falava Gramsci.

Pimenta avalia que a oposição teria hoje cerca de 180 votos a favor da denúncia. Segundo o levantamento de O Globo, 112 declaram-se contra Temer, e 77 apresentam-se como indecisos. Entre estes últimos, a maioria, na verdade, estaria disposta a votar a favor da denúncia mas não quer se expor agora.  O governo teria cerca de 250 votos, talvez um pouco mais,  embora apenas 196, no mesmo levantamento, declarem voto a favor de Temer. O regimento, entretanto, exige os 342 para a abertura da sessão. Se são necessários 342 para aprovar a abertura das investigações, como exige a Constituição, não faria mesmo sentido abrir a sessão com a maioria simples de 257, como quis o governo.  O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, entretanto, refugou a pressão neste sentido.

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Nem é verdade que cabe à oposição garantir o quórum, como disse ao Estadão o ministro Padilha. Ele blefa quando diz que o governo não se esforçará para dar quórum, deixando a denúncia sem votar:  “se a oposição boicotar e não quiser dar quórum no dia 2 , nós vamos defender que o presidente Rodrigo Maia toque a pauta da Câmara independentemente da pendência deste assunto ou não”.  Isso não faz sentido.  Quem precisa liquidar logo com este assunto é o governo. O “paciente com a barriga aberta”, na definição de Rodrigo Maia, é Temer.  Depois, trata-se de um pedido de licença apresentado pelo STF, que não pode ficar sem resposta ou decisão.

Pimenta acha que será muito difícil para o governo conseguir os 342 votos para o quórum porque muitos dos que foram aliciados – à custa de liberação de emendas e outros favores – comprometeram-se apenas a não votar a favor da denúncia. Não se dispuseram a dar a cara a tapas no microfone,  votando contra a abertura de investigações sobre os fortes indícios de que Temer atuou em dobradinha com Rocha Loures numa operação de favorecimento à JBS, que resultou na propina da mala com R$ 500 mil.  Eles foram às bases, eles ouviram os eleitores, eles estão vendo as pesquisas em que a maioria absoluta dos entrevistados reprova por antecipação quem votar a favor de Temer, eles estão com suas caixas eletrônicas abarrotadas de e-mails de eleitores pedindo que votem pela abertura das investigações, que levará ao afastamento temporário de Temer. Uma coisa é não comparecer e não votar, outra é se expor diante do eleitorado.

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Daqui a quarta-feira, o governo vai ter que renegociar alguns apoios, convencendo parte dos apoiadores a ir além,  comparecendo à sessão. Isso terá preço, naturalmente, mas Temer já gastou praticamente toda sua munição.  Se o governo não obtiver as 342 presenças, estará explicitando sua fraqueza. Força demonstrará se for capaz de garantir a abertura da sessão e derrotar o pedido de licença do STF.   Se optar por deixar Temer  “com a barriga aberta”, vamos para a situação de equilíbrio catastrófico.

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