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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Socorro aos bancos, na crise, evidencia o fosso abissal entre pobres e ricos

"Quando tudo isto passar - porque vai passar -, e as portas se abrirem para que todos se vejam e se abracem, vamos encontrar um 'lá fora' diferente. Um setor, porém, estará exatamente igual, porque ele é imutável. Estamos falando do setor financeiro", escreve a jornalista Denise Assis

(Foto: Reuters)
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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia 

Quando tudo isto passar - porque vai passar -, e as portas se abrirem para que todos se vejam e se abracem, vamos encontrar um “lá fora” diferente. Um setor, porém, estará exatamente igual, porque ele é imutável. Estamos falando do setor financeiro. O negócio dos bancos, dos grandes empresários. 

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Às vezes me pergunto em que siderúrgica foram fundidos esses senhores de aço, que não se vergam ante o sofrimento alheio. Não. Pelo contrário. Lucram com ele.

Em 2019 o lucro acumulado dos quatro maiores bancos do país com ações negociadas na Bolsa, a saber: Bradesco, Itaú Unibanco, Santander e Banco do Brasil foi de R$ 59,7 bilhões, o maior para o período pelo menos desde 2006. Desde 2015 os banqueiros não lucravam tanto. Mesmo naquele ano o total foi de R$ 57,7 bilhões, não chegando a atingir o lucro obtido no ano passado. O aumento foi de 15%, com valores já corrigidos pela inflação.

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Ainda assim, bastou ouvirem o espirro do primeiro contaminado com o coronavírus e lá estavam eles, na fila do Guedes, obtendo do Banco Central uma redução da alíquota do depósito compulsório sobre recursos a prazo, de 25% para 17%. A medida, de acordo com o ministro, é temporária e tem o objetivo de aumentar a liquidez do Sistema Financeiro Nacional. Aí é preciso dar uma freada e perguntar: para que esses senhores querem tanta liquidez? Quer dizer que com o muito que lucram ainda ficam sem capital? Por quê? Não sabem gerir os seus negócios? Ou têm a goela maior do que o mercado? Ou tudo isto junto?

E perguntem se o que receberam de aporte para ser emprestado às empresas, na crise, está sendo repassado para os pequenos e médios empresários, a fim de manterem os seus funcionários?... Não. Claro que não. E sabem por quê? Porque eles aumentaram as exigências de garantias nos empréstimos. Não podem perder um centavo, quando milhares estão perdendo a vida. Pais, mães, mulheres, filhos, estão todos morrendo, mas eles acreditam que doença “é coisa de pobre”. Pensam que não serão atingidos, a não ser no bolso. E tremem. 

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São bem alimentados, têm plano de saúde... Vai vendo. O vírus não livrou a cara nem do Boris Johnson. Alguém precisa avisar para esses senhores, que desta vez, o coronavírus não está levando em conta a classe. Pega um, pega geral.

Para o setor do agronegócio, aquele, que apoiou desde a primeira hora o presidente genocida, foram destinados R$ 88 bilhões a serem repassados pelos bancos públicos (ou seja, com condições mais tranquilas dos que as da rede privada). E para a compra de carteiras de bancos pequenos e médios estão disponíveis R$ 30 bilhões. Sabe o que isto significa? Que o governo vai entubar a carteira de inadimplentes desses bancos, livrando os seus donos de qualquer prejuízo. Já imaginou você encalacrado porque meteu o pé no cartão de crédito, fez dívidas à vontade e chega aquele tiozão rico e diz: ‘não se preocupe. Este mês as suas despesas são por minha conta?’ Sonho, não é mesmo?

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A população carente, os informais, os autônomos, ainda estão na fila do cadastro, com análises de seus perfis e os pedidos de papelada que eles não têm. O governo está exigindo o CPF de cada filho, para que as mães – chefes de família - recebam o auxílio de R$ 1.200,00. 

A insensibilidade é tamanha, que não levam em conta que muitas crianças permanecem inexistentes para o Estado, porque as mães não sabem como registrá-los, ou temendo ter de pagar alguma coisa nem vão ao cartório. Enquanto isto, os bancos receberam um aporte de R$ 1,2 trilhões como ajuda para enfrentar a crise. Pegue a calculadora e faça as suas continhas da diferença entre um número e outro. Este é o abismo entre a mãe solteira, sem companheiro, e o banqueiro e suas cifras. A isto dá-se o nome de “desigualdade social”. Um fosso.

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E para agravar inda mais este desvão entre o dinheiro desembolsado para os pobres e o direcionado aos banqueiros, pelo meio do caminho ainda tem a redução do papel dos bancos públicos. Logo eles, que poderiam socorrer os pequenos, médios e grandes empresários, em melhores condições do que a rede privada - que age como se o mundo estivesse girando no mesmo ritmo de antes da pandemia.

Em artigo recente à Folha de São Paulo, Arthur Koblitz, presidente da Associação da Fundação dos Funcionários do BNDES esmiuçou bem a questão, quando fez a seguinte analogia. “(...) As medidas apresentadas pela atual diretoria do BNDES, até o momento, são claramente insuficientes e não estão à altura da crise. (...) É como se “os bombeiros anunciassem que entre suas medidas de esforço estaria a cessão de pessoal e carros, por exemplo, para a Polícia. Todos se perguntariam, mas não é um incêndio?”. 

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