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Wilson Ramos Filho

Jurista, professor e escritor

68 artigos

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Somos diferentes deles

Nos últimos meses, nas redes sociais e nas relações interpessoais, excluímos fascistas, machistas, direitistas, misóginos, gente ruim. Nossas bolhas têm ficado menores, mais homogêneas. Falamos apenas para nós mesmos. E cada vez mais

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Nos últimos meses, nas redes sociais e nas relações interpessoais, excluímos fascistas, machistas, direitistas, misóginos, gente ruim. Nossas bolhas têm ficado menores, mais homogêneas. Falamos apenas para nós mesmos. E cada vez mais. Restaram em nossos convívios cotidianos preferencialmente apenas aqueles com quem compartilhamos valores? Talvez sim.

A força das ideias dominantes, em graus diversos (e sem me excluir), todavia, acaba, sorrateiramente, por nos contaminar. São muitas as escorregadas (algumas espalhafatosas) aqui e ali. A ideologia de cada momento histórico é a ideologia das classes dominantes. E estamos em permanente risco de sucumbir a esta “cultura dominante” que, na contemporaneidade brasileira, nos impõe a inevitabilidade do que estamos, com desconforto e estupefação, vivenciando.

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Desassossegou-me encontrar na minha “bolha” companheiros e companheiras

1. Repercutindo o tuíter machista do Renan, divertindo-se com a indignidade nele contida e criticando o decote da deputada, sem respeitar o direito de qualquer mulher se vestir como ela quiser;
2. Punitivistas, pedirem a prisão de executivos e de tucanos, fortalecendo a visão de nossos algozes do “quanto mais repressão, melhor”;
3. Trazendo fotos para criticar “os políticos”, genericamente, sem perceber que fortalecem com isso a meritocracia da Direita Concursada e a visão autocrata do mito;
4. Pedindo assinatura em petição pública pela “substituição da Damares” ou de qualquer desses ministros bizarros que envergonham o país;
5. Sindicalistas propondo o “diálogo com o governo” na Reforma da Previdência ou em outros temas;
6. Advogados trabalhistas defendendo a JT sem a ela endereçar nenhuma crítica pelo que tem sido;
7. Juristas de respeito que organizam seminários reivindicando a “força do direito” apesar de tudo o que vem acontecendo no país ou celebram a “constituição cidadã”, um mito insustentável sob qualquer perspectiva;
8. Pessoas esperançosas com o “filho de desaparecido político”, que defende a Lava-Jato ou políticos “do nosso campo” se propondo a “ajudar a aprovar” a desprezível “lei anti-crime” ou as “reformas necessárias”;
9. Compartilhando ideias fraticidas em uma esquerda fragmentada, marcando posição e exigindo autocríticas alheias sem jamais fazerem as suas próprias;
10. Torcendo para o general “menos ruim” substituir logo o capitão, entre outras barbaridades.

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Urge a construção de uma plataforma que nos unifique, que nos torne pessoas melhores e que nos diferencie daquela gente que defendeu o Golpe, que aceitou a prisão do Lula e seu impedimento para participar nas eleições, que tolera uma das cinco facções da Direita que, com Bolsonaro, comanda a destruição do país.

O que nos unifica? O que nos diferencia deles? Ou somos todos (em alguma medida) parecidos com alguns deles? Qual seria o mínimo ético que nos singulariza?

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Duas propostas “frentistas” se desenham a bombordo do espectro político. A que tem na social-democracia o “ponto de chegada”, admitindo amplas alianças “dos democratas e dos setores nacionalistas” para se contrapor à barbárie instalada nos três Poderes da República. E a que, considerando a social-democracia como resultante da correlação de forças, ousa demandar o que parece impossibilitado de sequer ser pensado, como imprescindível para a reconstrução dos Direitos Sociais e das políticas públicas.

Para esta segunda perspectiva, como as destruições institucionais conduziram o país aos patamares anteriores ao reconhecimento dos direitos sociais, as reivindicações haveriam de ser semelhantes àquelas que mobilizaram as massas há mais de cem anos para conquistá-los. A conformação do Estado resultaria de uma relação entre propostas antagônicas e os arremedos de social-democracia no Brasil só teriam existido porque havia propostas que frontalmente combatiam a maneira de existir capitalista. A utopia (como horizonte a ser perseguido) deveria se erigir, portanto, em torno a uma plataforma francamente anticapitalista que propusesse outra maneira de existir em sociedade, em torno aos hoje desprestigiados valores da solidariedade, da igualdade, da não discriminação e da equidade, todos incompatíveis com o que pretendem os setores que governam o Brasil desde o golpe de 2016.

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O debate está aberto. Qual a proposta mais sedutora? Mas certamente não se obterá a unidade pretendida pela esquerda brasileira se não nos acautelarmos para evitar algumas das, digamos, “escorregadelas” acima mencionadas. Nós somos diferentes daqueles que - conscientemente ou não - se tornaram pessoas de Direita. Não nos permitamos com eles sermos confundidos.

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