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Alexandre Aragão de Albuquerque

Escritor e Mestre em Ciência Política pela Universidade Estadual do Ceará (UECE).

119 artigos

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Sonhos diurnos

A vida pode ser bem diferente do caos implantado

(Foto: RICARDO STUCKERT)
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A penumbra do tempo presente nos envolve num mar de angústia, tédio, afetos indefinidos e irracionais provocados pelo pesadelo da ideologia bolsonarista militarizada, destruidora de conquistas civilizatórias obtidas a partir do marco constitucional de 1988, colocadas em movimento de forma destemida durante o comando do Partido dos Trabalhadores (Lula, 2003-2010; Dilma, 2011-2014), por suas políticas de inclusão ao nível social, econômico e internacional.  

O bolsonarismo militarizado não só anunciou amplamente para seus eleitores e eleitoras, durante a campanha de 2018, seu compromisso com a destruição dos valores de solidariedade, de igualdade e justiça social, de tolerância e acolhimento da diversidade humana, de respeito às minorias, como tem cumprido sua promessa diariamente, sob o comando midiático do capitão e de seus militares, ao alimentar uma dinâmica de ódio e de mentiras na cena pública nacional. Sob o bolsonarismo militarizado, o amanhã brasileiro apresenta-se sempre mais caótico e tenebroso, expressão fiel da liderança patológica que assumiu o poder em 2019. 

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Mas a vida pode ser bem diferente do caos implantado. Em cada momento da humanidade, seja como gênero humano quanto na trajetória individual de cada pessoa, há um potencial utópico que pode desabrochar a partir do momento em que se mira um sonho bom. O mar mais bonito, como lembra o poeta turco Nazim Hikmet (1902-1963), é aquele que não foi descoberto ainda; a palavra mais bonita é aquela que ainda não foi dita. Viver é uma coisa cheia de esperança. Mas a esperança, apesar de necessária, não é suficiente; não basta escutar a música, é preciso saber tocá-la, cantá-la e dançá-la. A porta está fechada, mas é necessário ser reaberta pela luta concreta de muitos de nós.

Os sonhos diurnos, diferentemente dos sonhos noturnos, são capazes de desenhar figuras a partir de escolhas coletivas conscientes, levando os sonhadores a planejar e mirar uma meta, alimentando assim o entusiasmo pela luta em busca de realizar o sonho bom. Para o filósofo alemão Ernst Bloch (1885-977), o sonho diurno pode proporcionar visões que não requerem necessariamente interpretações, mas principalmente elaborações antecipadoras da coisa boa a ser construída. O sonho diurno exige engajamento, responsabilidade e pulsão de vida que o impele para que sua antevisão seja concretizada. Ou seja, o outro mundo possível necessita de um sonho desperto e simultaneamente engajado de muitos. 

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No Brasil governado pelo Partido dos Trabalhadores, uma nova forma de fazer política começou a existir a partir de um sonho diurno de milhões de brasileiros e brasileiras. O momento emblemático inaugural deu-se com Luiz Inácio Lula da Silva, como Presidente do Brasil, com sua presença em dois fóruns internacionais: no Fórum Social Mundial, na cidade de Porto Alegre – RS, em janeiro de 2003, o evento global que demarcava o contraponto às ideias neoliberais do Fórum Econômico. Em seu discurso no evento, o Presidente Lula colocou em relevo: “Quero agradecer ao povo do mundo inteiro que sem medir sacrifícios vem aqui, às vezes sem ter a oportunidade de falar, mas vem aqui só para dizer: eu existo e eu quero ser respeitado como tal”. 

Num gesto de grande força simbólica, buscando unir em sua pessoa naquele momento um fórum ao outro, Lula desembarcou no Fórum Econômico de Davos (World Economic Forum), no dia 26 de fevereiro de 2003. Sua presença em Davos objetivava a clara determinação em não se contentar com a geopolítica internacional na qual éramos tratados de forma secundária como nação. Lula tinha como determinação política, em plena unidade com o seu chanceler Celso Amorim, a transformação do Brasil num país protagonista na cena mundial. Seu discurso oficial em Davos reafirmou para o mundo inteiro o compromisso de campanha de combate à fome, à miséria e à desigualdade, explicitando com a firmeza de estadista que “combater a fome não é apenas uma tarefa de um governo, mas de toda a sociedade. A erradicação da fome pressupõe transformações estruturais, exige a criação de empregos dignos, além de mais e melhores investimentos”. E concluiu seu discurso de forma altiva e visionária: “Meu maior desejo é que a esperança que venceu o medo, no meu país, também contribua para vencê-lo em todo o mundo. Precisamos urgentemente nos unir em torno de um pacto mundial pela paz e contra a fome”.

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A originalidade da política externa do Presidente Lula vai desde a construção de pontes de diálogo entre os presidentes Barack Obama (EUA) e Hugo Chaves (Venezuela); como interlocutor da paz entre Palestina e Israel; como um dos principais articuladores do G20, que viria a ganhar importância mundial por transformar-se no principal foro de decisões internacionais entre os grandes países; na criação da UNASUL e da CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), em 23 de fevereiro de 2010, com papel inovador, por ser o primeiro bloco que reuniu países latino-americanos e caribenhos – com a participação de Cuba – em torno da construção de um foro de diálogo e prospecção política para a região, ampliando o desenho anterior das estruturações cooperativas de base apenas econômica.

Para Lula o Brasil não podia ficar olhando para o passado no qual, por durante 500 anos, ficou submisso à Europa. Era preciso olhar para a África e para a América do Sul, para estabelecer novas parcerias internacionais. Tornava-se impossível aceitar o bloqueio econômico a Cuba, há mais de 40 anos. Era inadmissível conceber que o Brasil do tamanho que é, continuasse a cada ano que passava sendo um país que apresentava o maior índice de pobreza e desigualdade social.

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Em 2010, seu desempenho foi reconhecido no mundo. Lula foi o primeiro presidente brasileiro a receber o prêmio de Estadista Global por sua atuação em defesa do meio ambiente, da erradicação da pobreza, da redistribuição de renda e da paz.

Em maio de 2014, na cidade de Santa Cruz de la Sierra, no “Seminário sobre mudança climática e modelos de desenvolvimento”, Lula discursou demarcando que a ALCA era um projeto estadunidense que só buscava utilizar os países da América do Sul como mero importadores dos produtos dos norte-americanos, enquanto a CELAC começou a ser gestada porque os estados da América Latina se reuniram sozinhos, sem a participação dos EUA, visando a integração de nossa região: “Podemos trocar investimentos, estabelecer cadeias produtivas internacionais, gerar mais empregos e mais desenvolvimento para o nosso continente. Unidos nos tornamos mais fortes em negociações globais, na luta contra barreiras que restringem nosso acesso aos mercados, impedindo o desenvolvimento de nossos países”.

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Este foi um sonho diurno de uma nação golpeado, em 2016, pela classe dominante escravista brasileira. Agora em 2022 teremos a oportunidade de retomar em nossas mãos o nosso sonho diurno que nos foi roubado. É preciso renovar a esperança e a luta popular!

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