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Ribamar Fonseca

Jornalista e escritor

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Sorteio do relator pode premiar delatados

É preciso quebrar esse segredo o mais rápido possível, de modo não apenas a evitar o crescimento das especulações como, também, de impedir que delatados continuem exercendo funções públicas, como se honestos fossem

São Paulo - Polícia Federal chega a construtora Odebrecht na 23ª fase da Operação Lava Jato( Rovena Rosa/Agência Brasil) (Foto: Ribamar Fonseca)
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As delações da Odebrecht, enfim, foram homologadas. E daí? O brasileiro vai continuar desconhecendo o seu conteúdo porque a ministra Carmen Lucia, presidente do Supremo Tribunal Federal, manteve o sigilo em torno delas. Por que isso? Por que esse cuidado agora se durante os dois anos de funcionamento da Operação Lava-Jato o Supremo não teve a mesma preocupação, apesar dos vazamentos virarem manchetes e condenarem muita gente por antecipação? Será porque aqueles vazamentos só atingiam petistas e pessoas ligadas ao governo Dilma? Quem estão querendo proteger agora? O povo, que esperava conhecer os principais responsáveis pela corrupção no país e acreditava na presidente da mais alta Corte de Justiça, se decepcionou. Afinal, o brasileiro tem o direito de saber tudo o que acontece em seu território, sobretudo o que lhe traz prejuízos, e não apenas o que lhe permitem conhecer. Se existe, efetivamente, interesse em acabar com a corrupção, não se deve esconder nada, sob pena de se suspeitar que estão protegendo alguém.

O presidente ilegítimo Michel Temer, que até pouco tempo tinha constrangimento em usar a faixa presidencial por saber-se usurpador, elogiou, por motivos óbvios, a decisão da ministra Cármen Lúcia. Ele é um dos citados nas delações, junto com os principais integrantes da cúpula do seu governo, razão suficiente para ficar feliz com o sigilo. É preciso, portanto, quebrar esse segredo o mais rápido possível, de modo não apenas a evitar o crescimento das especulações como, também, de impedir que delatados continuem exercendo funções públicas, como se honestos fossem. Essa medida se faz mais urgente ainda diante da próxima eleição das Mesas da Câmara e do Senado, onde parlamentares suspeitos de corrupção – e cujos nomes podem constar da lista da Odebrecht - estarão disputando os principais cargos. O Supremo, portanto, que tem sido acusado de conivência com o golpe que derrubou Dilma e colocou Temer no poder, não deve manter o sigilo para não ser acusado também de acumpliciar-se com os suspeitos que buscam o comando das duas casas do Congresso Nacional.

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Chegou a hora de todo mundo tirar a máscara, mesmo a contragosto, porque o Brasil não pode mais continuar à mercê de pessoas que, posando de vestais, continuam provocando danos irreparáveis ao país e iludindo os anencéfalos que acreditam neles. Enquanto não se conclui esse longo processo, que supostamente deveria passar o Brasil a limpo, prosseguem as negociações espúrias das nossas riquezas naturais, entrega-se nossas valiosas reservas petrolíferas para o estrangeiro, busca-se um meio de instalar uma base militar americana em nosso território, tenta-se entregar o nosso espaço aéreo ao controle dos estrangeiros, ao mesmo tempo em que nossas mais importantes empresas vão sendo desmontadas ou submetidas ao controle norte-americano. O país, com sua economia destroçada, vai sendo destruído de maneira acelerada sob as vistas de um povo apático, aparentemente conformado com a desgraça que se abateu sobre todos. Os absurdos já começam, inclusive, a ser vistos com naturalidade.

Ao mesmo tempo, o ódio, disseminado pela mídia e pelas redes sociais, vai se alastrando como a febre amarela. A diferença é que é possível proteger-se da febre amarela com a vacina injetada no braço, o que não é possível fazer para prevenir-se contra o ódio. Para este terrível sentimento a vacina é o amor, mas o coração dos que protestam contra o tratamento de doentes na porta de hospitais, ou postam insultos ou boatos nas redes sociais, está tão endurecido que ainda vai levar muito tempo para que consiga pelo menos comover-se. Ainda se comprazem com a prisão e sofrimento dos outros, muitas das vezes saindo de suas casas para xingar os presos. São pobres coitados, material e espiritualmente, que, contaminados pelo ódio, aproveitam a oportunidade para dar vazão à sua raiva contra aqueles que tiveram melhores oportunidades na vida. Exemplo disso foram os xingamentos contra o empresário Eike Batista à sua chegada ao presidio, onde teve a cabeça raspada, uma humilhação desnecessária imposta a todos os prisioneiros, sobretudo quando não é um condenado mas um sujeito preso preventivamente.

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Desde o início da Operação Lava-Jato que se tornou escandaloso o abuso da prisão preventiva, sem que os organismos superiores da Justiça – o Supremo Tribunal Federal e o Conselho Nacional de Justiça – movessem um músculo para impedi-lo. O objetivo da prisão preventiva, conforme o próprio nome, é prevenir contra a possibilidade de fuga do suspeito ou quando ele representa um risco para a sociedade. Muitos dos presos da Lava-Jato, inclusive Eike Batista, não se enquadram nos dois casos. Eike, se quisesse, teria viajado para a Alemanha, de onde não seria extraditado, mas ao contrário preferiu voltar para o Brasil e entregar-se à Justiça para, segundo disse, "passar tudo a limpo". Em entrevista ao repórter da Globo que o abordou no avião, durante a viagem de Nova York para o Rio, ele manifestou confiança na justiça da Lava-Jato, chegando a dizer que depois dessa operação o Brasil seria outro, ou seja, ninguém precisaria mais pagar propina para obter contratos. Não havia, portanto, necessidade de prendê-lo e muito menos raspar a sua cabeça. Mas a intenção é essa mesmo: humilhar.

Resta saber, agora, o que de fato acontecerá com as delações da Odebrecht, sobretudo se se confirmar a notícia de que a presidente do Supremo vai escolher o novo relator da Lava-Jato, em substituição ao ministro Teori Zavascki morto no acidente em Parati, através de sorteio entre os membros da 2ª. Turma do STF, da qual fazem parte Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Celso de Mello e Ricardo Lewandowski. Se for utilizada a mesma máquina eletrônica que, talvez por algum defeito de fabricação, sempre sorteia por "acaso" o ministro Gilmar para as questões políticas, não é difícil que ele volte a ser o escolhido. Se isso acontecer, Temer, Aécio, Serra e outros citados na delação da Odebrecht poderão comemorar com um jantar no Palácio do Jaburu, pois será como ganhar o prêmio da Mega-sena. E a Lava-Jato poderá encerrar, de maneira melancólica, a sua midiática trajetória. A não ser que antes do fim coloque a cereja no seu bolo, que vem sendo preparado desde o inicio das suas atividades: a prisão de Lula.

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