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Marcus Atalla

Graduação em Imagem e Som - UFSCAR, graduação em Direito - USF. Especialização em Jornalismo - FDA, especialização em Jornalismo Investigativo - FMU

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Superman bi: a política identitária instrumentalizada contra sua própria luta

"A falsa retórica usada pela DC é a busca da conscientização, representatividade e a luta inclusiva. Os identitários comemoram a mudança como uma vitória das lutas sociais, mas nada pode ser mais equivocado"

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No dia 11 deste mês, a DC Comics anunciou a publicação da revista em quadrinhos “Superman: Son of Kal-El, n°5”, nela o Superman é bissexual. Hoje no dia 30/10, dezenove (19) dias após o anúncio, a polêmica e discussões em jornais e na internet continua. 

A falsa retórica usada pela DC é a busca da conscientização, representatividade e a luta inclusiva. Os identitários comemoram a mudança como uma vitória das lutas sociais, mas nada pode ser mais equivocado. 

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A intenção da empresa é causar cizânia, confronto e discussões exacerbadas entre setores da sociedade. Isso aumenta a resistência dos leitores de quadrinhos às pautas identitárias. Muitos desses leitores nem são homofóbicos, nem racistas, entretanto, revoltaram-se com a alteração.  

Entenda porque leitores não homofóbicos se tornam radicais contra o Superman bissexual e a DC Comics usa isso a seu favor

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Diferente das revistas em quadrinho japonesas, mangás, nas quais os personagens envelhecem, casam, têm filhos e morrem “de verdade”, os personagens de quadrinhos norte-americanos são imutáveis. 

O Superman teve poucas mudanças desde sua criação em 1938. A maior alteração no personagem foi deixar de dar grandes saltos para passar a voar. O personagem já foi negro, já morreu, já esteve preso na Zona Fantasma, teve sua amada Lois Lane assassinada, no entanto, poucas edições depois, tudo voltou ao normal, ao que era antes.

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A grita e revolta da maioria dos fãs do Superman, não é por serem homofóbicos, racistas ou misóginos, é porque eles não aceitam nenhuma mudança em seu personagem. Eles querem aquele Superman que os acompanha desde crianças. Não é um simples personagem para essas pessoas, é seu alter-ego. 

Há uma identificação, elas se veem refletidas naquele herói, projetam símbolos heroicos e seus próprios defeitos naqueles personagens, que mesmo não sendo perfeitos, são virtuosos. Esses seres fantásticos se tornam seus eu-identitário. O símbolo do que admiram e gostariam de ser. A identificação com os traumas e desvirtudes desses personagens, é o que os faz escolherem entre gostar do Superman, do Batman ou do Wolverine. Mudar seu amado herói é mudar o seu próprio eu simbólico. 

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A DC Comics, fundada em 1934, trabalha há 87 anos com gerações e gerações do mesmo público e acompanha-o de criança à fase adulta. De boba ela não tem nada. Ninguém conhece tão bem seu leitor como ela. A empresa tem plena consciência de que seu público será contra qualquer mudança em seu personagem de 83 anos de existência. Que o Superman bissexual terá uma boa venda em seus três primeiro títulos, por ser uma novidade, depois será um fracasso de vendas e o personagem será descontinuado e desaparecerá.

A editora já tem a desculpa preparada para isso. O Superman bissexual é do multiverso paralelo, continuamos publicando o seu Superman clássico.

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Essa polêmica, as brigas e conflitos gerados pela mudança é proposital. Na publicidade viral da internet, o ódio gera engajamento, em consequência propaganda gratuita, que se torna notícia nos principais meios de comunicação do mundo. É a publicidade do falem mal, mas falem de mim.

Essa publicidade aumenta as vendas dos títulos da DC e, mais ainda, do Superman clássico. Os fãs demonstrarão sua desaprovação comprando mais quadrinho do Superman clássico, o de sempre, e boicotarão as revistas do personagem bissexual.

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Se o intuito da DC fosse um herói inclusivo como teria feito?

Se a intenção da editora fosse a inclusão, ela nunca transformaria um herói já existente e tão consolidado em homossexual, mulher ou em outra etnia. Cada personagem tem sua própria gênese, motivações, traumas de infância, medos e idiossincrasias. Para se criar um herói verdadeiramente inclusivo é necessário a feitura de um novo personagem. Um que seus poderes, heroísmo, medos, virtudes e história de vida tenha como influência a superação do preconceito sofrido. Os heróis têm seus traumas ou sofrimento de um mal injusto como o fato gerador de sua nobreza, heroísmo, noção de justiça e a busca pelo bem comum – “a Jornada do Herói”-.

Maurício de Sousa, o maior quadrinista nacional, defende e usa essa abordagem em seus personagens inclusivos. Como já fez com os personagens negros Jeremias, Pelezinho e Milena. –“Mauricio de Sousa cogita incluir personagem LGBT na Turma da Mônica”.

Para o novo herói ser conhecido e benquisto do público, bastaria colocá-lo em participações nos títulos dos heróis de ponta. Aqueles com maior público e vendas, ora no quadrinho do Batman, ora da Mulher Maravilha e assim por diante.

Também se escolheria os quadrinistas e autores de maior prestígio, cujo sucesso de vendas está em seus nomes vinculados a qualquer quadrinho, independente do personagem. Isso foi feito pela DC Comics? 

Claro que não, seu objetivo não é a inclusão, é a cizânia, que gera engajamento nas redes e consequentemente, publicidade gratuita, que por fim, aumento nas vendas.

A comemoração do Superman bi é um tiro no pé dos próprios identitários

Não se deve confundir a política identitária como o mesmo que a luta contra o racismo, misoginia e homofobia. Ela é um tipo de política entre várias outras políticas possíveis. Portanto, críticas à política identitária não é o mesmo que ser preconceituoso. 

Dito isso, os identitários estão comemorando como uma grande vitória o Superman bi. Creem que a indústria de quadrinhos tomou consciência da importância da inclusão, aderiu à pauta identitária e a mudança do personagem traz o debate e subsequentemente a conscientização social. Lendo engano.

Essa mudança causa muito mais um feedback negativo que um feedback positivo.

Os algoritmos das redes sociais são projetados para compartilhar os comentários negativos. Dessa forma edificam a discordância, o ódio, por conseguinte, engajamento. 

O setor social que não está nem aí para quadrinhos e heróis, está sendo bombardeado pelas queixas dos fãs e pelo discurso reacionário.

A narrativa é os identitários serem intolerantes e estão impondo a mudança ao personagem, são autoritários, castradores das liberdades individuais, até o gostar ou desgostar é fiscalizado e compulsório. Aqueles que expressam não terem gostado do Superman bi são tratados como homofóbicos e xingados nas redes sociais.

É óbvio que isso causa um efeito bumerangue, causa uma resistência e uma oposição às questões identitárias. Mesmo entre as pessoas que, até então, eram simpáticas a essa luta.

O que é uma antítese curiosa, o identitarismo visto como agressor do “eu-identitário” dos indivíduos. 

Nessa história, a DC Comics é interpretada como super-herói e as pautas identitárias como a vilã.

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