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Gustavo Conde

Gustavo Conde é linguista.

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Supremo em Vertigem

"Se Cármen Lúcia, se Celso de Mello, se Gilmar Mendes assistiram ao filme que funciona como um espelho corrosivo do nosso caráter macunaímico e espanca nossa percepção doente de mundo (...) a corte pode ter uma chance de experimentar uma epifania democrática e libertar o maior brasileiro que já viveu", diz o linguista Gustavo Conde

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A diretora Petra Costa foi bastante feliz em escolher a palavra ‘vertigem’ para definir os descaminhos da democracia no Brasil. Sua película é universal, não apenas doméstica, e perfaz um percurso inédito nas entranhas do poder. 

Por postular uma dicção imersa na angústia perturbadora da classe média, Petra conseguiu adentrar os corações mais petrificados e acovardados do país. Seu filme tocou o caráter adormecido de muita gente e está sendo, até aqui, mais eficiente que os vazamentos do The Intercept como elemento disruptivo em meio à narrativa canhestra que se apoderou do país. 

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A palavra ‘vertigem’ alude a ‘Vertigo’ de Alfred Hitchcock, obra-prima da filmografia mundial de qualquer período. A acrofobia de James Stewart e a trama que faz espectador e protagonista mergulharem em um dos maiores emaranhados narrativos da história do cinema é a própria fobia à democracia que se alastrou pelo sangue do brasileiro nesses últimos anos de agonia política. 

O ‘abismo’, essa outra metáfora tão usada na presente cena do comentário nacional, é o elemento terrificante para o acrófobo, mas também para o cidadão comum que assiste o Brasil despencar do penhasco da soberania. 

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Petra Costa ainda resvala em Glauber Rocha e em seu Terra em Transe, filme que dissecava a cultura cínica de um país que ainda não tinha experimentado democracia. A vertigem é o transe e a Terra é a democracia cenográfica, apenas. 

Eis a força de um filme ‘for exportation’ (o de Petra) – pois fala para quem não sabe quem é Lula nem Dilma nem Temer nem PT – mas que, por isso mesmo, emana força fílmica rara com cifras acentuadas de universalidade. 

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O filme de Petra Costa arrebata porque nos desidentifica e nos obriga a desconhecermos a nós mesmos para depois, agonicamente, tentarmos construir um fio residual de autoindulgência seguida de remorso e dor. 

Não há nada mais convincente do que a arte neste nível de contração subjetiva. 

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Fato é que, se algum ministro daquela corte que costuma ser chamada de suprema tiver travado contado com o filme de Petra Costa, a devassidão moral do STF pode soluçar em um dos dias mais importantes e dramáticos que o país já viveu: o julgamento do habeas corpus de Luiz Inácio Lula da Silva. 

Em outras palavras, se Cármen Lúcia, se Celso de Mello, se Gilmar Mendes assistiram ao filme que funciona como um espelho corrosivo do nosso caráter macunaímico e espanca nossa percepção doente de mundo – contaminada com décadas de toxinas subnarrativas insufladas por nossa pusilanimidade jornalística – a corte pode ter uma chance de experimentar uma epifania democrática e libertar o maior brasileiro que já viveu. 

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Seria um espasmo, mas para uma nação que precisa de um desfibrilador, já é alguma coisa. 

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