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Alex Saratt

Alex Saratt, professor de História nas redes públicas municipal e estadual em Taquara/RS e dirigente sindical do Cpers/Sindicato.

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Surrealpolitik, ma non troppo

O campo de Esquerda, imerso em suas idiossincrasias, precisa delinear uma tática conjunta, sob pena de ficar completamente alheio ao eixo dos acontecimentos. O risco de sofrer um isolamento do tipo “cordão sanitário” ou de se ver obrigado a seguir linhas determinadas desde fora é real

Jair Bolsonaro (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino)
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O quadro político nacional é de dar nó na cabeça até dos mais experientes e gabaritados analistas. O imponderável e o imprevisível nunca estiveram tão presentes no desenrolar dos fatos que, a rigor, não se bastam e nem se resumem em si mesmos. A coisa toda é de uma complexidade tamanha que talvez a definição mais justa seja a sarcasticamente dada por uma pessoa amiga: surrealpolitik!

Acolho a classificação jocosa, não sem advertir: ma non troppo! O aparente surrealismo dos lances e movimentos dados guarda relação com o processo histórico mais geral, amplo e profundo por qual passam o Mundo e o Brasil. Che Guevara disse uma vez que “quando o extraordinário se torna cotidiano, temos uma revolução”. Mas e quando o ordinário, o medíocre, o vulgar, o abjeto ou o desprezível viram a regra, o senso comum e o modus operandi, temos o que mesmo?

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Na agônica degradação da Democracia brasileira - editada a partir do quinquênio 1985-89 com a “Nova República” – em nenhum momento houve situação como a vivida atualmente. Em velocidade acelerada, se vê uma conjuntura onde as forças sociais e políticas travam uma luta que foge aos padrões e expectativas costumazes, notadamente com a disputa dentro das frações da classe dominante, desalinhadas entre si em dois campos voláteis e volúveis: a Extrema-Direita apoiada no porção neofascista, no militarismo, nas seitas religiosas fundamentalistas, nos “nouveau riches” e, agora, aliado ao Centrão parlamentar e partidário e a Direita Neoliberal estruturada em torno do PSDB e DEM, com apoio do Poder Judiciário, da Mídia, do “PIB FIESP”, contando com a adesão parcial das bancadas da Bala e do Boi e também com o “Partido da Lava-Jato”. À Esquerda, uma Babel política: reina a divisão, a disputa e a desarticulação, fragilizando ainda mais suas posições e capacidades.

Interessa aqui especular sobre quais desdobramentos a “surrealpolitik” tende a evoluir. A rachadura no edifício que sustentou o Golpe lembra uma guerra de quadrilhas por controle da área e dos negócios. Bolsonaro recebeu açoites violentos, o mais forte com a saída de Moro do Governo, mas rapidamente rearranjou sua base de sustento com o ingresso do Centrão, bloco político-partidário notório por seu fisiologismo e pragmatismo.

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Cabem aqui duas reflexões: o significado do rompimento litigioso com o ex-juiz e a expectativa com o papel do Centrão. No primeiro caso, chama a atenção menos a reação do Bolsonarismo e seu “gabinete do ódio”, previsíveis, e mais a postura de parcela da Oposição de Esquerda que alheia a contradição aberta e ao foco principal, elege Moro como o inimigo a ser abatido para lhe tolher quaisquer chances eleitorais em 2022. Erra por desconsiderar que Bolsonaro não perdeu as forças por completo e, caso supere a crise política, volte com decisão para realizar seus propósitos golpistas e ditatoriais.

Quanto ao Centrão, um rápido cômputo de seus serviços prestados mostra que foram fiadores de Sarney, abandonaram Collor na última hora e sepultaram seu mandato, surfaram com tranquilidade no Governo Itamar, deram suporte à agenda neoliberal de FHC, livraram Lula do afastamento na crise do Mensalão, condenaram Dilma em 2016, blindaram Temer até a troca de faixas e, de momento, chancelam Bolsonaro em meio a uma severa crise. Não o fariam se seus instintos políticos lhe dissessem o contrário, embora tenham o camaleonismo como característica unívoca.

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O fato é que o Presidente detém consigo fôlego, trunfos e margem de manobra. A Oposição de Direita tenta cooptar o vice, Hamilton Mourão, como um ás e solução de compromisso, o que deriva uma outra preocupação: de posse das bençãos militares, não fariam os “moderados” um investimento no rumo autoritário?

O campo de Esquerda, imerso em suas idiossincrasias, precisa delinear uma tática conjunta, sob pena de ficar completamente alheio ao eixo dos acontecimentos. O risco de sofrer um isolamento do tipo “cordão sanitário” ou de se ver obrigado a seguir linhas determinadas desde fora é real. Na redistribuição social, Bolsonaro perde parte da classe média, mas avança nos segmentos populares, a Direita tradicional ganha pontos junto aos “lavajatistas” e unifica setores da “elite”, ao passo que a Esquerda – que viu parte de sua base migrar para o Bolsonarismo e se desgastou frente ao setores médios – vai atuar com que instrumentos? Há mesmo uma “surrealpolitik” acontecendo na superfície, mas quem conhece as profundezas da Política sabe que “ma non troppo”: aos reclames de distintas naipes (Impeachment, #ForaBolsonaro, Frente Ampla de Salvação Nacional) há de se convergir em potência e intento, do contrário ficaremos à mercê dessa ”surrealpolitik” nada inocente ou infensa.

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