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Henrique Fontana

Deputado federal pelo PT-RS

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Temer corre contra o tempo. O Brasil, contra o desmonte

O tempo de Temer será curto, mas o prejuízo para o país pode ser longo. A interrupção deste processo predatório da riqueza nacional e dos direitos sociais depende da capacidade de reação da sociedade brasileira e dos setores progressistas comprometidos com a democracia, o enfrentamento à corrupção e um modelo de desenvolvimento distributivo com justiça social

Brasília - O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, o presidente Michel Temer e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles durante reunião com integrantes da Comissão de Reforma da Previdência (Antonio Cruz/Agência Brasil) (Foto: Henrique Fontana)
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"Às favas, neste momento, com os escrúpulos", disse em 1968 o então ministro do Trabalho na ditadura, Jarbas Passarinho, em defesa da edição do Ato Institucional nº5 (AI5), que permitiria a suspensão de todas as garantias constitucionais. Sem votos, sem aprovação popular e acuado por denúncias de corrupção, Temer segue o ensinamento. Em meio ao caos dos presídios e da segurança pública, deixando escrúpulos e até as aparências de lado, indicou seu ministro da Justiça, filiado ao PSDB, Alexandre de Moraes, como ministro ao STF e futuro revisor das ações da Lava-Jato; nomeou Moreira Franco, 34 vezes citado nas delações premiadas, como ministro de Estado com foro privilegiado; e, ainda, elegeu os investigados senador Eunício Oliveira (PMDB) e deputado Rodrigo Maia (DEM) para as presidências do Senado e da Câmara.

O também investigado ministro chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, encarregou-se de explicar o restante. Em áudio revelado recentemente, defendeu a troca de cargos no governo por votos no Congresso, e exemplificou com a escolha do ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP). A Procuradoria Geral da República é a próxima da lista. Se emplacar Moraes no STF, Temer já avisou, não irá reconduzir Rodrigo Janot, responsável maior pelas investigações de corrupção coordenadas pelo Ministério Público Federal.

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Partindo do pressuposto de que permanecerá na cadeira presidencial até o final do mandato, o presidente ilegítimo corre contra o tempo para livrar a si e aos seus aliados dos riscos iminentes dos desdobramentos das investigações de corrupção. No desespero pela sobrevivência – civil primeiro, política se possível – o recente anúncio sobre o afastamento de ministros que venham a ser denunciados (com a manutenção do salário), e demissão dos que se tornarem réus é, ao contrário do que possa parecer, revelador do processo de blindagem. O próprio Temer é citado mais de 40 vezes em delações, além dos ministros Eliseu Padilha, Moreira Franco, o senador e ex-ministro Romero Jucá, o ex-ministro Geddel Vieira Lima, bem como os aliados fiéis do PSDB, senador Aécio Neves e o ministro José Serra. São aproximadamente 18 ministros do seu governo investigados por corrupção. Vejamos então: entre a denúncia formal e a possibilidade de um ministro virar réu no STF, o processo, depois de iniciado, pode demorar em média 14 meses. Ou seja, as prometidas demissões ficariam, assim, para depois das eleições de 2018 – pela Lava-Jato ou pelo povo.

Mas nem tudo é medo e dinheiro. Por trás desse enredo há uma forte base ideológica conservadora e neoliberal interessada em preservar o poder recém reconquistado sem o crivo das urnas. Com frequentes medidas de exceção – jurídicas, políticas e morais – o que valia antes não vale mais agora. Diferente de Eduardo Cunha, Renan concluiu o mandato de presidente do Senado; diferente do caso Lula, Moreira Franco tomou posse como ministro; diferente dos áudios da presidenta Dilma divulgados, as delações premiadas são mantidas em sigilo; e até mesmo as viagens e jantares entre o ministro do Supremo, Gilmar Mendes, presidente do TSE, e Temer, investigado pelo órgão, foram capazes de comover os "patos" da Paulista e as panelas nas varandas.

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De outro lado, ao gosto dos setores empresariais e da grande mídia, promotores do impeachment e avalistas do seu cargo, Temer executa o programa de ajuste fiscal e austeridade seletiva representado por Aécio Neves (PSDB) na campanha de 2014, e duplamente derrotado nas eleições. Em apenas nove meses, entre outras medidas, alterou a Constituição estabelecendo por vinte anos um limite de gastos e investimentos para educação, programas sociais, saúde, e ciência e tecnologia; determinou o fim da exclusividade nacional na exploração do Pré-Sal e a abertura para participação do capital internacional; quer alterar a política de conteúdo nacional nas compras públicas realizadas pelo governo federal e da Petrobras, reduzindo a menos da metade; apresentou proposta de reformas previdenciária e trabalhista para reduzir direitos e benefícios; exige de estados e municípios a aplicação de políticas de ajuste, venda de ativos e privatizações em troca de ajuda financeira da União.

O tempo de Temer será curto, mas o prejuízo para o país pode ser longo. A interrupção deste processo predatório da riqueza nacional e dos direitos sociais depende da capacidade de reação da sociedade brasileira e dos setores progressistas comprometidos com a democracia, o enfrentamento à corrupção e um modelo de desenvolvimento distributivo com justiça social. É preciso, antes de tudo, restaurar a plena democracia a partir da antecipação das eleições, devolvendo ao povo o direito de eleger um presidente legítimo.

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