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Alex Solnik

Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos"

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Temer devolve governo a Dilma: “a senhora só me chama de golpista decorativo”

E encerra de forma dramática: “Finalmente, sei que nem a senhora nem os brasileiros têm confiança em mim e no PMDB, hoje, e não terão amanhã. Lamento, mas esta é a minha convicção. Por isso entrego o governo de volta à senhora”; crônica Alex Solnik

Temer no Planalto 12/5/2016 REUTERS/Ueslei Marcelino (Foto: Alex Solnik)
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Triste e macambúzio, como todos poetas românticos acima dos 75 anos, o presidente decorativo enviou uma nova carta à presidente afastada Dilma Rousseff.

   Ele faz uma lista de suas principais queixas: “Passei as duas primeiras semanas de governo como presidente decorativo. A Senhora sabe disso. Perdi todo protagonismo político que tivera no passado e que poderia ter sido ressaltado pela senhora. Mas a senhora só me chama de golpista decorativo”.

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   Temer revela insatisfação com a forma com que ele e seus ministros são tratados: “Jamais eu ou o PMDB fomos chamados para discutir formulações econômicas ou políticas do país; somos meros acessórios, secundários, subsidiários do José Serra, do Eduardo Cunha e do Henrique Meirelles”.

   Também reclama em nome de Jucá: No episódio Romero Jucá, mais recente, ele deixou o Ministério em razão de muitas "desfeitas", culminando com o que seus funcionários fizeram a ele, Ministro, apagando sem nenhum aviso prévio, as conversas que ele gravara com Renan”.

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   Reclama da falta de crédito: “Conversa sua com Lula (das duas maiores autoridades do país) foi divulgada sem que fosse dado crédito a mim, que dei a ideia e passei o número do seu telefone ao Sergio Moro”;

   Ressente-se por ter sido preterido num cafezinho que durou duas horas: “A senhora, ao chegar ao Alvorada, tomou cafezinho durante mais de duas horas (segundo me informou o Etchegoyen) com o ex-garçom do meu Palácio - com quem construí boa amizade - sem convidar-me o que gerou em seus assessores a pergunta: o que é que houve que numa reunião com o garçom mais querido do Brasil seu ex-patrão não se faz presente”?

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   A seguir, confessa que é interlocutor constante dos corruptos: “Democrata que sou, converso, sim, senhora Presidente, com todos os corruptos. Sempre o fiz, pelos 24 anos que passei no Parlamento e não deixaria de fazê-lo agora que eles são meus ministros”.

   Refere-se a dissabores do passado: “A senhora, no segundo mandato, à última hora, não renovou a carteira de motorista do meu chofer”.

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   Também ficou constrangido por não ser convidado para um bate-bola com Neymar e Messi, dos quais seu filho Michelzinho – próspero investidor imobiliário - é fã. “Pior: os amigos da senhora, do MTST armaram um acampamento bem em frente à minha casa e não convidaram o Michelzinho, o que denota desprezo até pela minha descendência”;

   Admite que, em função de tudo isso, Tiririca, seu sonho de consumo para o Ministério da Cultura não aceitou, alegando que não era “palhaço”.

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   Alega que “apesar dos 35 mil cargos federais que criei especialmente para eles, quatro dos 55 senadores resolveram mudar seu voto no impeachment, em troca de merchandising com a cachaça 51”.

  E encerra de forma dramática: “Finalmente, sei que nem a senhora nem os brasileiros têm confiança em mim e no PMDB, hoje, e não terão amanhã. Lamento, mas esta é a minha convicção. Por isso entrego o governo de volta à senhora”.

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   Leia a íntegra da nova carta de Temer a Dilma:

São Paulo, 04 de Junho de 2.016.

Senhora Presidente,

"Verba volant, scripta manent" (As palavras voam, os escritos permanecem). Como já disse na carta anterior.

Por isso lhe escrevo. Muito a propósito do intenso noticiário destes últimos dias e de tudo que me chega aos ouvidos das conversas no Palácio da Alvorada, graças ao Etchegoyen.

Esta é uma carta pessoal. É um desabafo que já deveria ter feito há muito tempo.

Desde logo lhe digo que não é preciso alardear publicamente a minha incompetência. Tenho-a revelado ao longo destes cinco anos.

Entretanto, sempre tive ciência da absoluta desconfiança da senhora e do seu entorno e de todos os brasileiros em relação a mim e ao PMDB.

Basta ressaltar que na última eleição apenas 0009,9% dos eleitores votaram em mim. E só o fizeram, ouso registrar, porque ainda não me conheciam como presidente interino. Nem sabiam que estou inelegível por oito anos.

Mantive a unidade do PMDB traindo seu governo e usando o seu prestígio político advindo da credibilidade e do respeito que a senhora granjeou no país. Isso tudo não gerou confiança em mim. Gera desconfiança e menosprezo a mim e à quadrilha         que me cerca.

Vamos aos fatos. Exemplifico alguns deles.

1. Passei as duas primeiras semanas de governo como presidente decorativo. A Senhora sabe disso. Perdi todo protagonismo político que tivera no passado e que poderia ter sido ressaltado pela senhora. Mas a senhora só me chama de golpista decorativo, o que me deixa mal com meus colegas brasileiros e americanos;

2. Jamais eu ou o PMDB fomos chamados para discutir formulações econômicas ou políticas do país; somos meros acessórios, secundários, subsidiáriosdo José Serra, do Eduardo Cunha e do Henrique Meirelles.

3. A senhora, no segundo mandato, à última hora, não renovou a carteira de motorista do meu chofer que fez belíssimo trabalho elogiado durante a Copa do Mundo transportando o Blatter e o Valcker e suas malas cheias de dólares. Sabia que ele era uma indicação minha. Quis, portanto, desvalorizar-me. Cheguei a registrar este fato no dia seguinte, ao telefone.

4. No episódio Romero Jucá, mais recente, ele deixou o Ministério em razão de muitas "desfeitas", culminando com o que seus funcionários fizeram a ele, Ministro, apagando sem nenhum aviso prévio as conversas que ele gravara com Renan. Alardeou-se a) que o grampo estava fora dos padrões técnicos; b) que o Renan estava resfriado naquele dia e a voz saiu anasalada; c) nenhuma das anteriores;

5. Quando a senhora fez um apelo para que os brasileiros me chamassem de golpista amador, no momento em que o meu governo estava muito desprestigiado, todos atenderam, e fizemos, eu e o Cunha, uma fervorosa oração. Mas não funcionou;

6. De qualquer forma, sou Presidente decorativo e a senhora resolveu ignorar-me chamando o Neymar e o Messi para um bate-bola nos jardins do Alvorada sem nenhuma comunicação. (O Etchegoyen me contou.) Os dois, sabe a senhora, são ídolos do meu filho. E a senhora não teve a menor preocupação em pedir uma camisa autografada do Neymar para o Michelzinho que já tem, aos sete anos, dois imóveis no valor de 2 milhões de reais. Mas, como todos sabemos, dinheiro não traz felicidade. Pior: os amigos da senhora, do MTST armaram um acampamento bem em frente à minha casa e não convidaram o Michelzinho, o que denota desprezo até pela minha descendência;

7. Democrata que sou, converso, sim, senhora Presidente, com todos os corruptos. Sempre o fiz, pelos 24 anos que passei no Parlamento. Por que não o faria agora que eles são meus ministros? Aliás, a primeira medida provisória do ajuste da propina foi aprovada graças aos 8 (oito) votos do DEM, 6 (seis) do PSB e 3 do PV, recordando que foi aprovado por apenas 22 votos. Sou criticado por isso, numa visão equivocada do nosso sistema. E não foi sem razão que em duas oportunidades ressaltei que deveríamos reunificar o país em torno da propina. O Palácio da Alvorada resolveu difundir e criticar.

8. Recordo, ainda, que a senhora, ao chegar ao Alvorada, tomou cafezinho durante mais de duas horas (segundo me informou o Etchegoyen) com o ex-garçom do meu Palácio - com quem construí boa amizade - sem convidar-me o que gerou em seus assessores a pergunta: o que é que houve que numa reunião com o garçom mais querido do Brasil seu ex-patrão não se faz presente? Antes, no episódio da "espionagem" americana, quando as conversas sobre receitas de feijoada começaram a ser gravadas, a senhora mandava o Ministro da Justiça para conversar abobrinhas com o Vice Presidente dos Estados Unidos. Tudo isso tem significado absoluta falta de auto- confiança para mim;

9. Logo depois, a conversa sua com Lula (das duas maiores autoridades do país) foi divulgada sem que fosse dado crédito a mim, que dei a ideia e passei o número do seu telefone ao Sergio Moro;

10. Até o programa "Mais Você", mais um campeão de audiência, aplaudido pela sociedade, cujas propostas poderiam ser utilizadas para recuperar a economia e resgatar a confiança foi tido como manobra desleal;

11. O PMDB tem ciência de que o seu governo busca promover a sua divisão, o que já tentou no passado, sem sucesso, pois o PMDB sabe se dividir sozinho;

12. Até o Tiririca, que era meu sonho de consumo para o Ministério da Cultura rejeitou o convite alegando que não era “palhaço”;

13. A senhora fica no bem bom, viajando para lá e para cá, sem nada para fazer, enquanto eu tenho que aguentar aquela cara azeda do Cunha todos os dias, da manhã à noite.

14. Apesar dos 35 mil cargos federais que criei especialmente para eles, quatro dos 55 senadores resolveram mudar seu voto no impeachment, em troca de merchandising com a cachaça 51.

Finalmente, sei que nem a senhora nem os brasileiros têm confiança em mim e no PMDB, hoje, e não terão amanhã. Lamento, mas esta é a minha convicção. Por isso entrego o governo de volta à senhora.

Respeitosamente,

\ M. TEMER

A Sua Excelência a Senhora

Doutora DILMA ROUSSEFF

DO. Presidente da República do Brasil

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