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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

202 artigos

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Terra da Fraternidade

Não estamos vivendo um momento promissor. É realmente hora de repensar valores

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Como lembra Adorno, é na opressão que se pensa em liberdade. O compositor Zeca Afonso criou a sua famosa Grândola, Vila Morena, dez anos antes, por ocasião do 52º Aniversário da Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense. A canção transcendeu os limites do evento, entrou nos quartéis e virou hino do movimento que pôs fim à ditadura salazarista, em 1974, e em seguida, à guerra colonial. São muitos os motivos que dividem homens e mulheres. Estamos frequentemente brigando por razões de ordem financeira, afetiva, política, etc. – e não vemos, ao contrário, o que nos une. Em instantes especiais, assalta-nos um sentimento de solidariedade e um laço nos coloca num estado semelhante ao do sublime, quando somos capazes de tudo para alterar a ordem das coisas. A famosa Fête de l’Humanité, durante a Revolução Francesa, foi um deles, logo perdido pelas disputas intestinas que afogaram líderes autênticos nas crises conhecidas pela História.
O grito de Zeca Afonso vem à mente hoje, na hora em que, no mundo todo, parece mais do que esquecido. Na Alemanha, noticia-se a infiltração de grupos nazistas na polícia, onde atuam com violência nas oportunidades da repressão. Na Itália, os herdeiros do fascismo de Benito Mussolini pipocam na política, ocupando altos cargos e enrijecendo as leis anti-imigratórias, com requintes de crueldade. E no Brasil, pintados de verde-amarelo, exaltam os heróis da barbárie à época da ditadura militar, com destaque para os torturadores. Temos vontade de reproduzir Grândola, Vila Morena, e ela permanece atravessada na garganta.

Perigosos surtos fascistas podem ocorrer inclusive durante fases de governos progressistas, sob o ritmo de tendências internacionais. O liberalismo econômico defende a livre circulação do capital, mas não do trabalho, regulamentado por leis cada vez mais restritivas e ferozes. 

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É o que justifica medidas de intimidação no Aeroporto de Lisboa, no qual mataram a pancadas um ucraniano detido por imigração ilegal. A morte de alguém escandaliza, como deviam escandalizar as humilhações contra quem quer que seja, sobretudo inocentes. A imprensa noticiou o fato, acrescentando histórias envolvendo mulheres brasileiras que narraram suas desventuras praticamente sem defesa. A uma delas não forneceram absorventes a não ser no fim do dia quando já se achava “suja”, dentro das práticas do rebaixamento moral. Para revistá-la, puseram-na nua. A uma outra, mantiveram 17 dias com a mesma roupa. Os americanos faziam algo de semelhante em Guantánamo com os suspeitos de terrorismo, presos pelo resto da existência. Mas o pior, no caso das brasileiras, foi o silêncio conivente das autoridades do nosso Consulado, que levaram nove meses para se manifestar. Será efeito da pandemia do coronavírus? É mais provável que tenham tomado chá de incompetência, alinhados ao Chanceler Ernesto Araújo, conhecido pelas teses estapafúrdias que gosta de adotar. 

Não estamos vivendo um momento promissor. É realmente hora de repensar valores. Quem sabe não devemos cantarolar Grândola, Vila Morena, se não como hino, talvez como memória da alegria, quando o horizonte se abria para novas possibilidades. Ou então, façamos eco a Chico Buarque em seu Fado Tropical:

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“Oh, musa do meu fado/Oh, minha mãe gentil/Te deixo consternado/No primeiro abril/Mas não sê tão ingrata/Não esquece quem te amou...”

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